Líderes europeus rejeitam suspender sanções contra a Rússia

Líderes europeus rejeitam suspender sanções contra a Rússia

Representantes de países europeus reunidos em Paris descartaram nesta quinta-feira (27/03) a possibilidade de levantar as sanções aplicadas contra a Rússia e avançaram nos planos de enviar tropas à Ucrânia para garantir um eventual acordo de paz.

Por iniciativa da França e do Reino Unido, cerca de 30 líderes europeus discutiram as garantias de segurança que a Europa poderia oferecer à Ucrânia no caso de um cessar-fogo, incluindo o envio de forças militares por uma “coalizão de interessados”.

Para as autoridades europeias, o maior temor é que o presidente russo Vladimir Putin possa ser encorajado a realizar um novo ataque na Ucrânia, ou mesmo em outro lugar da Europa, caso ele consiga um acordo com os EUA cujos termos sejam favoráveis.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, defendeu que “agora não é o momento para suspender sanções” e argumentou pelo aumento da pressão para forçar Moscou a um cessar-fogo. O movimento é contrário ao dos EUA, que avalia afrouxar as sanções para garantir uma trégua.

Envio de tropas sem consenso

Embora a cúpula de mais de três horas realizada no Palácio do Eliseu, sede da presidência francesa, tenha concordado de forma unânime em manter as sanções contra a Rússia, o envio de tropas não obteve consenso.

“Vários países europeus” estão preparados para enviar tropas à Ucrânia para garantir o respeito a um eventual acordo de paz, disse o presidente da França, Emmanuel Macron, especificando que essas forças teriam um caráter de “dissuasão” para evitar novos ataques da Rússia e não estariam combatendo na linha de frente.

Essas forças “são uma proposta franco-britânica” e podem ser criadas sem unanimidade, afirmou Macron. Para discutir o envio de tropas e o futuro formato do exército ucraniano, uma delegação de Paris e Londres viajará para Kiev nos próximos dias, acrescentou.

“A Europa deve estar preparada para o caso de os Estados Unidos não estarem conosco, e se isso significar que teremos que agir sozinho”, disse ele na cúpula.

Como seria a missão?

Macron enfatizou que os membros de qualquer força não agiriam como mantenedores ativos da paz nem seriam qualquer tipo de substituto para o exército ucraniano.

O primeiro-ministro britânico disse que Londres recebeu “mais de 200 especialistas em planejamento militar de 30 países” nesta semana, e que as nações estavam “apresentando contribuições sobre tudo, desde logística, comando e controle, até implantações em terra, ar e mar”.

Os possíveis números de tropas não estão claros neste momento, embora, de acordo com Rafael Loss, pesquisador de políticas do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR), de 15.000 a 20.000 soldados poderiam ser enviados à Ucrânia.

Mas para que isso aconteça, primeiro seria necessário “um acordo sólido para cessar o fogo e delinear uma linha de controle, para estabelecer termos políticos de comunicação entre as partes em conflito e partes mediadoras para neutralizar futuros desentendimentos”.

“A ideia é criar riscos para a Rússia, para que a liderança russa pense duas vezes antes de atacar a Ucrânia”, disse Loss. “Mas isso obviamente significa que os europeus na Ucrânia também estariam em risco e, então, haveria o risco de que qualquer conflito não ficasse restrito ao território da Ucrânia.”

Putin disse várias vezes que não aceitaria que tropas de países da Otan ficassem estacionadas na Ucrânia.

“Com relação às ações desse contingente [militar], sua responsabilidade, o que ele pode fazer, como pode ser usado, quem será o responsável, há muitas perguntas. Até agora, há poucas respostas”, afirmou o presidente ucraniano Volodimir Zelenski, que também esteve presente em Paris.

Opositores

“Nenhum soldado croata irá para a Ucrânia em nenhuma circunstância, isso está completamente fora de questão”, escreveu o presidente croata Zoran Milanovic, no Facebook.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, também reiterou sua recusa em participar de uma possível força e pediu que os EUA fossem convidados para uma próxima reunião dos aliados de Kiev.

Por outro lado, além da Grã-Bretanha e da França, os países nórdicos e bálticos manifestaram interesse em participar da missão. A posição da Alemanha não está clara enquanto o novo governo é formado, embora o provável próximo chanceler, o político conservador Friedrich Merz, tenha demonstrado abertura para a proposta.

Mediação dos EUA

Os europeus abrem espaço na mesa de negociação enquanto aguardam os resultados da mediação de Washington entre a Rússia e a Ucrânia. O presidente dos EUA, Donald Trump, rompeu o isolamento de Vladimir Putin e abriu diálogos com Moscou para um cessar-fogo, que podem incluir o fim de sanções americanas.

Na última terça-feira, por exemplo, os EUA anunciaram que Rússia e Ucrânia concordaram com os contornos de uma trégua no Mar Negro, em conversas separadas com autoridades americanas na Arábia Saudita.

Kiev e Moscou confirmaram a intenção, mas a Rússia acrescentou condições, como o alívio de sanções dos EUA que afetam seu setor agrícola. O aceite ucraniano veio após forte pressão de Trump.

Na quarta-feira, o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse que as condições russas seriam avaliadas e advertiu que um acordo de paz “não será fácil”. “Levará algum tempo, mas pelo menos estamos nesse caminho”, disse ele.

Na cúpula francesa, o chanceler alemão que está deixando o cargo, Olaf Scholz, criticou a pressão dos Estados Unidos.

“Não faz sentido acabar com as sanções enquanto a paz não for de fato alcançada”, disse ele. “Infelizmente, ainda estamos muito longe disso.”

Ele acrescentou que, ao continuar a alterar o acordo para um cessar-fogo, “pode-se ver claramente que a Rússia não está atualmente interessada em uma paz real”.