Os mandatários da União Europeia (UE) retomaram, nesta quinta-feira (21), em Bruxelas, as negociações sobre a ajuda militar à Ucrânia, um tema constante na agenda do bloco desde o início da invasão russa, e a necessidade de reposição de seus próprios estoques.

Após mais de dois anos de conflito, as tropas ucranianas encontram crescentes dificuldades para conter as de Moscou, que reivindicam avanços em alguns pontos do front.

“Temos que continuar e acelerar nosso apoio à Ucrânia. A necessidade atual é por munições” disse o primeiro-ministro belga, Alexander de Croo, cujo país exerce a presidência semestral da UE.

Por sua vez, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, reiterou por videoconferência o pedido de mais munição e afirmou que se trata de um “assunto vital” para seu país.

A agenda dos 27 países do bloco tem dois aspectos paralelos que exigem enormes quantias de dinheiro: como financiar mais armas para a Ucrânia e fortalecer a indústria europeia de defesa.

– Fundos russos congelados –

Para financiar armas, um dos planos contempla a utilização dos rendimentos dos fundos russos congelados na UE pelas sanções adotadas em 2022, quando a invasão começou.

As autoridades europeias estimam que o equivalente a cerca de 230 bilhões de dólares (1,15 trilhão de reais) em ativos russos estão bloqueados na União Europeia, gerando mais de 2 bilhões de dólares (10 bilhões de reais) em rendimentos anuais.

Por essa razão, os líderes têm sobre a mesa uma proposta para destinar 90% dos lucros gerados por esses ativos ao Fundo Europeu de Apoio à Paz, que financia a compra de armas para a Ucrânia.

Os 10% restantes iriam para um fundo da UE para “fortalecer as capacidades da indústria de defesa da Ucrânia”.

“Entendemos que é uma questão na qual é preciso resolver os problemas jurídicos. E é o que estamos analisando, se estão resolvidos”, disse o primeiro-ministro português, António Costa, ao chegar à reunião.

A Rússia já alertou que, se a UE tomar essa medida, isso levaria a disputas judiciais “durante décadas”.

Simultaneamente, os líderes da UE devem elaborar um enorme plano de investimento na indústria de defesa europeia para fornecer armas à Ucrânia e reabastecer os arsenais dos países do bloco.

No ano passado, a UE comprometeu-se a entregar um milhão de obuses à Ucrânia até março deste ano, uma promessa que não conseguiu cumprir e agora procura um plano para atingir esse objetivo até o final de 2024.

França, Estônia e Polônia propuseram utilizar empréstimos semelhantes ao grande pacote de apoio que a UE concedeu durante a pandemia de covid-19, agora para financiar despesas de defesa através da emissão de títulos.

Mas um grupo de países mais austeros, liderados pela Alemanha, não está disposto a chegar a esse ponto.

– Gaza, outra preocupação –

Outro tema desta cúpula é a situação na Faixa de Gaza, sobre a qual as diferenças entre os países do bloco se tornam cada vez mais evidentes.

Os 27 pediram uma “pausa humanitária imediata” em Gaza, que está à beira da fome devido à guerra entre Israel e o movimento islamista Hamas, que controla o território palestino.

Um diplomata europeu disse que Gaza vivencia uma “catástrofe humanitária” e que, diante disso, a UE tem que adotar uma posição clara e definida.

Espanha e Irlanda chegaram a propor que a UE suspendesse seu acordo de associação com Israel, mas a moção tem pouquíssimas chances de prosperar.

Além disso, os diplomatas europeus instaram Israel a se abster de lançar uma ofensiva em Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza, onde 1,5 milhão de palestinos vivem confinados, a maioria deslocados pela guerra.

Também nesta cúpula, os líderes europeus autorizaram o início das negociações para a adesão da Bósnia ao bloco.

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