Os líderes dos países-membros da União Europeia (UE) adotaram nesta sexta-feira (8), durante uma cúpula em Budapeste, um plano para responder à necessidade urgente de reformas econômicas, diante do retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos.

“Temos algumas prioridades, e a primeira é a competitividade”, disse, ao final da reunião, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.

Na cúpula, os mandatários discutiram um relatório elaborado por Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), que alerta sobre a crescente disparidade entre a Europa e os Estados Unidos.

Para a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o retorno de Trump à Casa Branca exige que a UE esteja disposta, primeiro, a “dialogar”, para depois “discutir sobre interesses comuns” e, só então, negociar.

Von der Leyen chegou a mencionar a possibilidade de que a UE substitua gradualmente o gás natural liquefeito (GNL) que os países do bloco ainda compram da Rússia por gás proveniente dos Estados Unidos.

“Ainda recebemos bastante GNL da Rússia. Por que não substituí-lo pelo GNL americano, que é mais barato para nós e nos permitiria reduzir nossos preços de energia?”, sugeriu Von der Leyen.

Ao chegar à cúpula nesta sexta-feira, Draghi disse que as reformas necessárias para a UE são ainda mais urgentes, considerando a eleição de Trump.

“As recomendações mencionadas no documento já eram urgentes, dada a situação econômica em que nos encontramos. Elas se tornaram ainda mais urgentes após as eleições americanas”, afirmou.

A cúpula aconteceu dois dias após Trump ser reeleito, o que levantou questões sobre as relações transatlânticas.

“É imperativo que fechemos urgentemente a brecha de inovação e produtividade, tanto com nossos concorrentes globais quanto dentro da UE”, diz a declaração emitida pelos líderes no final da cúpula desta sexta-feira.

“Destacamos a necessidade urgente de adotar medidas decisivas para enfrentar o desafio de fortalecer a competitividade”, acrescenta o documento.

Por sua vez, o chefe de governo da Alemanha, Olaf Scholz, afirmou que “o mundo é um lugar melhor e mais próspero se há um comércio justo e livre”.

Por fim, disse Scholz, “o crescimento e o poderio dos Estados Unidos também vêm do comércio com o mundo em ambas as direções. Sob esse ponto de vista, acredito que temos as bases para desenvolver uma política comum”.

A aliança política que levou Scholz ao poder desmoronou nesta semana, mas o chanceler conseguiu transmitir tranquilidade aos seus homólogos, que temiam um foco de instabilidade no bloco.

– Evitar uma “lenta agonia” –

Em seu relatório publicado em setembro, Draghi alerta que para evitar uma “lenta agonia” a Europa precisa de investimentos adicionais de até 800 bilhões de euros por ano (mais de 850 bilhões de dólares, 4,83 trilhões de reais) e de mudanças políticas drásticas.

A ideia enfrenta resistências em países do norte da Europa, que defendem o retorno à austeridade após os planos de incentivo para superar a pandemia de coronavírus.

O documento insiste também na necessidade de uma política comercial “pragmática” e alinhada com o objetivo de “aumentar o crescimento e a produtividade”.

Além da possibilidade real de tensões comerciais com Washington, a UE enfrenta atritos crescentes com a China.

Parte das discussões desta sexta-feira também se concentrou na guerra na Ucrânia, já que o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, é visto como o principal aliado do presidente russo, Vladimir Putin, no bloco europeu.

Orban, além disso, havia prometido abrir “várias garrafas” de champanhe para celebrar a vitória de Trump.

Em declarações a uma rádio húngara, Orban disse nesta sexta-feira que a situação no front entre ucranianos e russos “é evidente: há uma derrota militar” da Ucrânia.

Por isso, insistiu, é necessário “passar da guerra para a paz”.

Na véspera, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, advertiu em Budapeste que a ideia de seu país fazer “concessões” à Rússia para obter uma solução rápida e negociada pelo fim do conflito é “inaceitável”.

Ao final da cúpula nesta sexta-feira, Orban descartou que a Hungria esteja isolada em relação à guerra na Ucrânia. “Quando alguém tem uma opinião e há 26 opiniões em frente, isso não é isolamento, é uma negociação. O isolamento ocorre quando não há negociação”, argumentou o premiê ultraconservador.

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