Dirigentes árabes e muçulmanos condenaram neste sábado (11) as ações “bárbaras” das forças israelenses em Gaza, mas se negaram a aprovar medidas econômicas e políticas de represália a Israel por sua guerra contra o Hamas em Gaza.

A cúpula da Liga Árabe e da Organização para Cooperação Islâmica (OCI) em Riade, a capital da Arábia Saudita, colocou em evidência as divisões regionais sobre como responder à guerra.

O encontro aconteceu no contexto de uma comoção regional pela ofensiva aérea e terrestre de Israel em Gaza, que já matou mais de 11.000 pessoas, a maioria civis, muitos deles crianças, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que controla o pequeno território palestino.

Israel diz que sua intenção é “aniquilar” o Hamas desde os violentos ataques dos comandos islamistas de 7 de outubro que, segundo funcionários israelenses, mataram cerca de 1.200 pessoas, também civis em sua maioria, e sequestraram quase 240.

A declaração final da cúpula divulgada neste sábado rechaçou as afirmações israelenses de que estaria agindo em “legítima defesa” e exigiu que o Conselho de Segurança das Nações Unidas adote “uma resolução decisiva e vinculante” para deter a “agressão” de Israel.

Também pediu o fim da venda de armas a Israel e descartou qualquer resolução política futura do conflito que separe Gaza da Cisjordânia, ocupada por Israel.

O homem forte da Arábia Saudita, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, que cogitava estabelecer relações diplomáticas formais com Israel antes da guerra, responsabilizou “as autoridades de ocupação [israelenses] pelos crimes cometidos contra o povo palestino”.

O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, em sua primeira viagem à Arábia Saudita desde que os dois países retomaram relações em março, disse que os países islâmicos deveriam declarar o Exército israelense como uma “organização terrorista” por sua conduta em Gaza.

Israel culpa o Hamas pelo alto número de mortos, acusando o movimento islamista de usar civis como “escudos humanos”, o que o grupo palestino nega.

– Divisões regionais –

As reuniões de urgência da Liga Árabe e da OCI, bloco que reúne 57 membros e inclui o Irã, aconteceriam inicialmente em separado.

Mas diplomatas árabes disseram à AFP que a decisão de juntar as duas cúpulas ocorreu depois que as delegações da Liga Árabe não conseguiram chegar a um acordo sobre uma declaração final.

Alguns países, entre eles Argélia e Líbano, propuseram responder à devastação em Gaza com ameaças de interromper o fornecimento de petróleo a Israel e seus aliados, assim como de romper os laços econômicos que alguns membros da Liga Árabe têm com Israel, segundo fontes diplomáticas.

Contudo, pelo menos três países, entre eles Emirados Árabes Unidos e Bahrein, que normalizaram relações com Israel em 2020, rejeitaram essa proposta, de acordo com diplomatas que falaram sob condição de anonimato.

Em um comunicado emitido de Gaza, o Hamas pediu aos participantes da cúpula que expulsassem os embaixadores israelenses, formassem uma comissão legal para julgar os “criminosos de guerra israelenses” e criassem um fundo de reconstrução para o território.

Israel e seu principal apoiador, os Estados Unidos, rechaçaram até agora as demandas por um cessar-fogo, uma posição que gerou fortes críticas na cúpula deste sábado.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, disse que “é vergonhoso que os países ocidentais, que sempre falam de direitos humanos e liberdades, permaneçam em silêncio diante dos sucessivos massacres na Palestina”.

A visita de Ebrahim Raisi a Riade foi a primeira de um presidente iraniano à Arábia Saudita desde que Mahmoud Ahmadinejad compareceu a uma reunião da OCI no reino em 2012.

Além de sua participação na cúpula, Raisi manteve uma reunião tête-à-tête com Mohammed bin Salman, informaram os meios estatais sauditas na rede social X, o antigo Twitter.

O Irã apoia a Hamas, assim como o Hezbollah no Líbano e os rebeldes huthis do Iêmen, o que o coloca no centro das preocupações de uma possível expansão do conflito pela região.

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