O líder sérvio da presidência colegiada da Bósnia e Herzegovina ameaçou a “dissolução” do país balcânico, depois que o Alto Representante da ONU proibiu nesta sexta-feira (23) a relativização de genocídio e crimes de guerra, como o massacre de Srebrenica.

O Alto Representante – cuja função é monitorar o cumprimento do acordo de paz de Dayton de 1995 – impôs emendas ao Código Penal bósnio para punir com entre seis meses e cinco anos de prisão aqueles que “publicamente aprovarem, negarem, minimizarem ou tentarem justificar um crime de genocídio, um crime contra a humanidade ou de guerra”, informa um documento publicado no site de seu escritório.

A adoção desta legislação no Parlamento Central da Bósnia foi bloqueada pelos deputados sérvios durante anos. Dessa forma, o diplomata austríaco, Valentin Inzko, usou seu poder discricionário.

Considerada “histórica” pelas autoridades bósnias (muçulmanas), a decisão foi amplamente criticada pelos líderes políticos sérvios do país, em particular pelo membro da presidência colegiada, Milorad Dodik, que reiterou sua posição sobre o massacre de Srebrenica.

O assassinato de cerca de 8.000 homens e meninos em Srebrenica, em julho de 1995, no final do conflito interétnico na Bósnia (1992-95), foi classificado como genocídio pela Justiça internacional.

Os líderes políticos sérvios na Bósnia e Herzegovina e na Sérvia frequentemente minimizam ou negam esse massacre, que apenas reconhecem como um “crime grave”.

“Há uma linha vermelha (…) que não posso ultrapassar. Para mim, é inaceitável”, disse Dodik em coletiva de imprensa. “Não houve genocídio, é o que todos nós pensamos”, acrescentou.

O oficial sérvio apelou a uma “resposta feroz”, evocando até a ideia de uma “dissolução” da Bósnia.

O Parlamento da Republika Srpska, a entidade sérvia neste país etnicamente dividido, se reunirá em uma semana para discutir a “resposta”.

A União Europeia (UE) exortou os sérvios da Bósnia a respeitarem a decisão do enviado da ONU, sublinhando o dever de “reconciliação”.

Apesar de terem sido condenados à prisão perpétua por seu papel no massacre, os ex-líderes políticos e militares Radovan Karadzic e Rako Mladic são considerados “heróis do povo” por muitos sérvios.