Uma das figuras da esquerda radical anunciou, nesta segunda-feira (23), o projeto de criação de um novo partido que buscaria “um retorno à razão” em um cenário político em reestruturação, para contrariar a ascensão da extrema direita.

“Decidimos criar um novo partido, porque estamos convencidos de que as coisas não podem continuar como estão”, declarou Sahra Wagenknecht, de 54 anos, em coletiva de imprensa.

Ela apresentou uma associação, chamada BSW (“Bündnis Sahra Wagenknecht”, Aliança Sahra Wagenknecht), que levaria à criação deste movimento, que gira inteiramente em torno dela, uma personalidade controversa e conhecida na Alemanha.

Durante meses, ela preparou o terreno, mas somente nesta segunda-feira deixou o partido da Esquerda Radical (Die Lonke) com nove seguidores, selando a divisão nesta formação, herdeira do partido comunista da antiga RDA. Este último também perderá o seu status de grupo parlamentar no Bundestag.

A partir de agora, terá de arrecadar fundos e doações para conseguir criar seu partido e participar das eleições europeias de junho do ano que vem.

– Incompetência –

Wagenknecht atacou o governo de centro-esquerda de Olaf Scholz, cujo partido social-democrata é aliado dos Verdes e dos liberais do FDP.

Em um mundo abalado por graves crises internacionais, “a República Federal da Alemanha tem o pior governo de sua história, que age de forma incompetente, ou sem rumo”, afirmou, denunciando, entre outras coisas, os envios de armas para a Ucrânia, ou as sanções econômicas contra Moscou, que privam a Alemanha, um país industrial exportador, mas pobre em matérias-primas, da energia barata de que necessita.

“É claro que isso preocupa muitas pessoas, que já não sabem em quem votar, ou que votam na extrema direita por raiva, ou desespero”, argumentou.

A ativista da esquerda radical voltou a criticar as medidas ecológicas do governo face à mudança climática, disse ser a favor da redução do número de migrantes, pediu a “manutenção das nossas forças econômicas”, mais justiça social, investimentos em infraestruturas e uma “política externa baseada na paz”.

“Um retorno à razão”, resumiu.

“Ela quer uma AfD de esquerda”, resume o jornal Bild, referindo-se ao partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que subiu nas pesquisas no ano passado, aproveitando o descontentamento público com o aumento da imigração e com a crise econômica.

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