Líder do PT no Senado defende Haddad, vê críticas exageradas e reconhece fogo amigo

Rogério Carvalho elogia comando da Fazenda, exalta conquistas econômicas e defende que crises sejam contornadas pensando em 2026

Daniel Medeiros/IstoÉ
Senador Rogério Carvalho (PT-SE), líder do PT no Senado, em entrevista ao site IstoÉ Foto: Daniel Medeiros/IstoÉ

O líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (PT-SE), defendeu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e minimizou as críticas feitas às ações do governo na economia. Na avaliação do senador, as críticas foram motivadas pelas entregas da pasta e não pelos defeitos.

Carvalho concedeu uma entrevista exclusiva ao site IstoÉ e avaliou como “injustos” os ataques direcionados a Haddad. Ele exaltou as entregas econômicas, como a reforma tributária e o arcabouço fiscal, para amenizar o princípio de crise instalado na Fazenda.

Confira a entrevista na íntegra:

“Eu costumo dizer que, quando um político ou um gestor é muito combatido, geralmente, ou ele é questionado, ele não é pelos seus defeitos, mas pelas suas qualidades. Então, é um tanto quanto injusto, neste momento, as pessoas estarem julgando o ministro Haddad. Veja, o ministro Haddad conduziu um processo de debate, junto com as duas casas legislativas, que aprovou a reforma tributária sobre o consumo, que aprovou o novo arcabouço fiscal, que aprovou o Desenrola, que aprovou, agora, um ajuste fiscal no final do ano para garantir que o arcabouço fiscal seja, de fato, a âncora para estabelecer o limite de gastos”, afirmou.

“Então, se estão criticando ele, estou lhe dizendo, se estão batendo muito, não é pelos defeitos, é pelas qualidades e pela entrega, porque ele ajudou e está trabalhando e faz, sob a orientação do presidente Lula, um trabalho que interfere diretamente na vida das pessoas”, concluiu.

Nos últimos meses, Haddad entrou na mira de opositores e até governistas após as ações econômicas do governo ficarem aquém do esperado. O pacote de gastos entregue pelo governo, por exemplo, ficou abaixo do esperado pelo mercado e pelos congressistas, provocando críticas ao ministro. As ofensivas aumentaram após a alta no preço dos alimentos e o avanço de 1 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic.

Uma das críticas partiu do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, que lidera um dos partidos mais fiéis ao governo no Congresso Nacional. Inicialmente, Kassab chamou Haddad de “fraco”, mas recuou após a repercussão.

Mas as críticas não vêm apenas dos partidos de centro e da oposição. Petistas também são críticos da política econômica do governo. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, foi uma das maiores críticas de projetos antipopulares propostos pela Fazenda, como o aumento de impostos.

Rogério Carvalho admite a existência de fogo amigo, mas vê outros problemas no entorno, como o bloqueio de projetos que podem se tornar marca do governo. Ele citou o exemplo do Pé-de-Meia, programa para a manutenção da presença escolar, que foi bloqueado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por suspeitas de falta de programação orçamentária.

“Na política tem fogo de todos os lados, interno, externo, de cima, de baixo, de todos os lados. E eu não sei de onde vem esse fogo, mas que na política vem de todos os lados, a gente sabe”, declarou.

“Mas também tem os adversários, os adversários externos. Como essa questão do Pé-de-Meia, você ter uma tentativa de obstruir o programa é porque o Pé-de-Meia chegou à população e fez a população identificar uma entrega muito importante do governo Lula, uma entrega importante para a educação. Então, é óbvio que vai ter reação”, salientou Carvalho.

O líder do PT no Senado ainda vê os tropeços do governo como “comuns”, mas avalia a necessidade de maior agilidade na comunicação presidencial para evitar crises. Rogério Carvalho ressaltou que a mudança na Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) deve amenizar os impactos das crises nas eleições de 2026, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve tentar a reeleição para o seu quarto mandato à frente do Palácio do Planalto.

“A gente precisa entender que o combate é feito muito a partir de um interesse político futuro, desse político futuro. Temos uma disputa eleitoral em 2026, está todo mundo de olho em 2026, e o governo tem que se preparar para enfrentar essas críticas, esses questionamentos”, declarou.

“Acredito que esses tropeços que ocorreram serão bastante amenizados, vai diminuir bastante. Não quero dizer que, na vida, tropeços sempre vão acontecer, independentemente do quanto você se dedica, do quanto você é dedicado, do quanto você trabalha, do quanto você está vigilante, mas pode acontecer. Mas reduzir ao mínimo, e até não ter, é uma possibilidade bastante real”, completou.

Líder do PT no Senado defende Haddad, vê críticas exageradas e reconhece fogo amigo

Senador Rogério Carvalho (PT-SE), líder do PT no Senado, em entrevista ao site IstoÉ

Leia a entrevista completa

IstoÉ: Uma nova presidência, Davi Alcolumbre volta. Ele já é um presidente conhecido, ficou dois anos aí entre 2019 e 2021, e o senhor foi líder do PT em 2020. Só que agora ele está, vamos dizer assim, mais ativo, mais articulador do que naquela época. E eu queria saber do senhor qual é a expectativa para esse mandato do Davi Alcolumbre e, principalmente, a participação do PT neste mandato do novo presidente.

Rogério Carvalho: Bom, eu vou dizer que o Davi já era muito articulador naquela época, viu? Um traço que ele tem de estar o tempo todo trabalhando, ele é muito ativo. Ou seja, a nossa expectativa é de que tenhamos uma relação muito tranquila, tranquila no sentido de não ter conflito de procedimento, de obstrução por parte dele dos debates. Quanto a isso, a gente está muito tranquilo.

Eu fui líder, como você mencionou aqui, junto com ele. Em alguns momentos, ele foi fundamental para garantir que determinadas pautas entrassem na ordem do dia, e a gente conseguiu discutir ou avançar ou impedir que determinadas derrotas para o nosso campo e para a nossa base acontecessem, como as reformas trabalhistas que foram propostas, carteira, não sei se você lembra, carteira verde e amarela. Aquelas propostas foram impedidas porque elas traziam um dano muito grande à sociedade, principalmente à população trabalhadora.

E o Davi, no seu discurso que postou, ele disse que todos os temas de interesse do povo brasileiro, que é essa a reflexão que ele vai fazer e é baseado nisso que ele vai estabelecer, que ele vai definir como critério para definir o que vai compor ou não a pauta do Senado a partir de uma discussão com os líderes partidários que vão apresentar suas prioridades. E ele disse que o critério que ele vai adotar é se isso melhora a vida dos brasileiros, se não melhora a vida dos brasileiros. Acho essa uma declaração muito positiva, porque nos dá certeza de que a gente vai fazer um debate mais qualificado sobre temas de relevância para a sociedade brasileira e para a consolidação de um Estado mais moderno, de um Estado mais eficiente, que é o que a gente espera do nosso trabalho.

Ou seja, que a sociedade tenha mais justiça social, mais justiça tributária, um aumento da renda, que possa ter a garantia da ampliação dos postos de trabalho, que a economia continue crescendo, que a gente controle a inflação, que a gente diminua a dívida pública, que a gente melhore a gestão monetária no Brasil, aportando novas medidas que deem ao Banco Central, com a sua autonomia, a possibilidade de parar de emitir títulos da dívida pública para fazer gestão de liquidez interbancária. Tem tantas coisas que podem ser feitas que eu acho que essa posição do presidente Davi nos anima porque a gente vai estar discutindo questões de grande relevância. Se assim for feito, o Brasil vai ter um grande parceiro na presidência do Congresso para ajudar o Brasil a melhorar a vida dos brasileiros, que é também o objetivo do presidente Lula.

Então, acho que vai coincidir esse desejo. A gente tem que diminuir esse debate mais artificial, mais infrutífero, e ir para um debate mais com objeto claro, em torno de questões relevantes. Tem coisas que não têm a menor importância que pautam a vida dos brasileiros, e o debate tem coisas que, de fato, são importantes para a gente se estruturar enquanto sociedade e uma sociedade que seja melhor, e um país que seja melhor para todos os brasileiros.

Como disse o nosso Bonezinho, o Brasil é dos brasileiros, e os brasileiros precisam ter as riquezas deste país, as vantagens de viver neste país, influenciando e melhorando as suas vidas, ou seja, a vida de todos os brasileiros. A gente sabe que tem muitas pautas que estão travadas aqui no Senado, e provavelmente, aliás, quase 100% de certeza, é que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve colocar cada vez mais pautas econômicas neste ano aqui no Congresso Nacional. Inclusive, ele entregou nesta semana para os presidentes um painel de 25 projetos que poderiam ali ser alavancados neste ano, tanto na Câmara quanto no Senado.

Queria saber do senhor quais são as pautas prioritárias do partido para este ano e como destravar outras pautas importantes que já estão aqui, como, por exemplo, o projeto do Comitê Gestor do IBS, da reforma tributária, que já foi aprovado na Câmara e tinha a promessa de ter sido votado até o final do ano passado, e não foi.

Eu acredito que uma das grandes prioridades é atender uma parte da população que não deveria estar pagando imposto de renda. Quem ganha até R$ 5 mil, R$ 6 mil ou R$ 7 mil, não deve pagar imposto de renda. E quem ganha até R$ 7.000, pagará menos imposto do que paga hoje. Com isso, podemos retirar da condição de contribuinte que tem que tirar recurso para botar nos cofres públicos 30 milhões de pessoas. Esse dinheiro vai para onde? Esse dinheiro vai para a economia, vai para o consumo, vai para o bem-estar das famílias.

Então, acho que essa é uma grande prioridade que faz parte da obrigação do Congresso apreciar, que é a reforma da renda, a reforma tributária sobre a renda. Então, acho que esse é um debate prioritário que a gente precisa tocar aqui no Congresso Nacional. Também acho importante a gente encontrar novos mecanismos de crédito mais barato para a população de uma maneira geral, principalmente a população de mais baixa renda, que não pode se socorrer nem no cheque especial, nem no cartão de crédito, porque dois meses de atraso compromete a possibilidade de ter conta bancária e de ter cartão de crédito.

Se ele deixar de pagar uma fatura, ele nunca mais vai conseguir, os juros são tão altos que nunca mais vai conseguir, se não tiver uma intervenção, se não tiver um outro empréstimo, se não tiver alguma coisa, ele vai conseguir ter de volta o seu nome, como diz no ditado popular, o seu nome limpo, que é a coisa mais importante para a população de baixa renda, é ter o nome limpo, é ter a possibilidade de fazer um crédito diário, é ter a possibilidade de ter uma vida normal. Então, às vezes a gente fica pensando em coisas muito elaboradas, mas o povo quer mesmo é viver com tranquilidade, viver uma vida um pouco mais confortável, menos sofrida, menos desgastante, como, por exemplo, a jornada 5×2. Por que nós, servidores públicos, funcionários de estatais, dirigentes de empresas privadas, ou seja, por que a parte mais bem aquinhoada, não as que ganham mais, mas as que têm estabilidade, trabalham 5×2? E a parte mais pobre, mais sacrificada, trabalha 6×1? Então, essas quatro horas, de fato, a gente precisa encontrar um caminho para compensar os pequenos empresários.

Como é que a gente pode compensar essas quatro horas de um ou dois funcionários que ele tem? A gente precisa ter alguma capacidade criativa para atender essa parte da população que tem que ir um dia a mais para o trabalho, dar quatro horas de trabalho para cumprir uma jornada de 44. Pelo menos, a gente chegar em um acordo de uma jornada de 40 horas, cinco dias de trabalho por semana, já é um avanço. Só são quatro horas que a gente vai tirar de uma parcela dos trabalhadores vazios.

Então, nós precisamos ver quem é que não pode absorver esse custo, como é que a gente pode compensar isso, como é que isso pode ser trabalhado para a gente melhorar, do ponto de vista da sociedade como um todo, a integração maior dessas pessoas no lazer. Ah, isso vai gerar outro ganho, porque as pessoas vão ter mais tempo no lazer, vão ter mais tempo para fazer capacitação. Tem tantas outras possibilidades.

Então, acho que essa é uma questão também relevante. A gente precisa começar a olhar mais, deixar essa discussão infrutífera, essa discussão estéril, que não produz nada, e ir para um campo de debate onde a gente possa trazer, de fato, mudanças e melhorias para a vida dos brasileiros.

Líder do PT no Senado defende Haddad, vê críticas exageradas e reconhece fogo amigo

Senador Rogério Carvalho (PT-SE), líder do PT no Senado, em entrevista ao site IstoÉ

O senhor citou a maioria das pautas aqui, as econômicas, do ministro da Fazenda Fernando Haddad. Mas, nos últimos tempos, o próprio ministro tem entrado meio que numa situação complicada, inclusive dentro do PT. Embora o senhor seja o líder aqui no Senado, o senhor representa um partido que tem o Palácio do Planalto, tem os principais ministérios-chave. Queria saber do senhor o seguinte.

Ontem, por exemplo, na verdade, essa semana, o presidente da Câmara, Hugo Motta, disse que o Fernando Haddad está sendo, vamos dizer assim, descredibilizado. Ele não usou esse termo, mas é um termo mais fácil da gente colocar aqui. Que ele está enfraquecido. Foi exatamente com todas as palavras que ele colocou. E também ele tem sido criticado por alguns membros do próprio partido. Queria saber do senhor o quanto isso impacta a tramitação das pautas econômicas aqui e o que o senhor avalia que pode ter prejudicado, talvez, toda essa meta econômica do governo, com o aumento da inflação, preço dos alimentos, essa situação da taxa de juros que deve subir para 14%, segundo alguns analistas, em março.

O que está acontecendo e o que precisa ser reestruturado?

Eu costumo dizer que, quando um político ou um gestor é muito combatido, geralmente, ou ele é questionado, ele não é pelos seus defeitos, mas pelas suas qualidades. Então, é um tanto quanto injusto, neste momento, as pessoas estarem julgando o ministro Haddad. Veja, o ministro Haddad conduziu um processo de debate, junto com as duas casas legislativas, que aprovou a reforma tributária sobre o consumo, que aprovou o novo arcabouço fiscal, que aprovou o desenrola, que aprovou, agora, um ajuste fiscal no final do ano para garantir que o arcabouço fiscal seja, de fato, a âncora para estabelecer o limite de gastos.

Foi sob o comando dele que a gente saiu, tirou o Brasil e do presidente Lula, obviamente, que é quem comanda, mas a gente saiu de um déficit, no ano passado, de 240 bilhões de reais nas contas públicas, está próximo de zero agora, em 2024. Ou seja, em apenas um ano de governo, dois anos, a gente sai de um déficit de 240 bilhões. E, veja, nós não tivemos superado o primário este ano por conta das desonerações que não foram suspensas, porque elas teriam acabado no ano passado, pela lei, pela regra, e pelos precatórios que o governo foi obrigado a pagar ao longo de 2024, que vem do final do governo Bolsonaro, que transferiu essa bomba para cá.

Então, se não fosse isso, a gente teria tido superávit primário, ou seja, a gente teria sobrado dinheiro, a gente tinha arrecadado mais do que gastado, ou seja, a gente tinha feito poupança. Nós aumentamos o emprego, nós temos a maior taxa de pessoas com carteira assinada da história do Brasil, mais de 100 milhões de pessoas, 6,2% de desemprego. Regiões do Brasil com mão de obra escassa, ou seja, faltando mão de obra, com pleno emprego.

Nós reduzimos a inflação sobre os alimentos, apesar de dizerem o contrário. Nos primeiros quatro anos de Bolsonaro foram 54% de inflação do alimento no domicílio, e no governo de Bolsonaro, nos primeiros dois anos, foram 27% de aumento. O governo Lula, nos dois primeiros anos, foi 7%, uma fração.

A gente aumentou a renda dos brasileiros, o maior crescimento de renda em um curto espaço de tempo da história. Nós aumentamos o repasse através dos programas sociais, ampliamos a quantidade de beneficiários do BPC. Ou seja, com tudo isso, a gente fez, o Haddad fez uma transição civilizatória, um ajuste civilizatório, porque não acabou a vinculação do gasto, do investimento na educação estar vinculado à receita, ou seja, o gasto da saúde à receita.

Ou seja, a gente conseguiu manter o salário mínimo vinculado à previdência, previdência, salário mínimo, benefício de prestação continuada vinculado ao salário mínimo. Tudo isso a gente preservou e, ao mesmo tempo, a gente conseguiu chegar próximo de um déficit zero e com possibilidade de a gente ter superado em 2025. Eu acredito nisso.

E a gente fazer a mudança no imposto, na tributação sobre a renda, no imposto em renda. Ou seja, o Haddad fez muitas coisas, mexeu com o programa de apoio às micro e pequenas empresas, resolveu a dívida de milhões de brasileiros na pessoa física. Então, se estão criticando ele, estou lhe dizendo, se estão batendo muito, não é pelos defeitos, é pelas qualidades e pela entrega, porque ele ajudou e está trabalhando e faz, sob a orientação do presidente Lula, um trabalho que interfere diretamente na vida das pessoas.

Então, é óbvio que ele vai ser combatido. 

Mas você vê um povo amigo interno?

Veja, na política tem fogo de todos os lados, interno, externo, de cima, de baixo, de todos os lados. E eu não sei de onde vem esse fogo, mas que na política vem de todos os lados, a gente sabe.

Mas também tem os adversários, os adversários externos. Como essa questão do pé-de-meia, você ter uma tentativa de obstruir o programa é porque o pé-de-meia chegou na população e fez a população identificar uma entrega muito importante do governo Lula, uma entrega importante para a educação. Então, é óbvio que vai ter reação.

Como teve reação quando se implantou o Bolsa Família no Brasil, quando o Lula, no seu primeiro mandato de presidente da República. Também houve reação, houve tentativa de obstruir, que aquilo estava errado. Eu me lembro que teve uma época em que identificaram mil e poucos fraudes no Bolsa Família, e aquilo virou um escândalo. O governo Bolsonaro tinha seis milhões de pessoas recebendo o Bolsa, quer dizer, o Renda Brasil, fora da regra.

Então, a gente precisa entender que o combate é feito muito a partir de um interesse político futuro, desse político futuro. Temos uma disputa eleitoral em 2026, está todo mundo de olho em 2026, e o governo tem que se preparar para enfrentar essas críticas, esses questionamentos. Acho que o Haddad tem muito a contribuir com o Brasil e com a economia do nosso país, do nosso povo.

Antes de eu entrar em duas pautas que acho importantes que vão entrar em tramitação, o senhor falou uma coisa interessante. O governo precisa se preparar para enfrentar. Vamos supor que toda crise, neste momento, afete a imagem do governo. Como está afetando? A gente vê uma desaprovação do presidente acima da aprovação, de acordo com as últimas pesquisas. Ele, inclusive, fez mudanças na comunicação para tentar aliviar essa parte. Na visão do senhor hoje, o governo consegue enfrentar uma crise de comunicação para evitar ruídos da forma que a gente teve no ano passado?

Eu acredito que, com o Sidônio, a gente tenha uma pessoa muito metódica. Ele sabe qual é a política de comunicação, ele vai montar os seus processos para garantir que essa política se materialize e que significa entregas, dar clareza para o povo brasileiro de que entregas o governo fez até agora. Então, acredito que esses tropeços que ocorreram serão bastante amenizados, vai diminuir bastante. Não quero dizer que, na vida, tropeços sempre vão acontecer, independente do quanto você se dedica, do quanto você é dedicado, o quanto você trabalha, o quanto você está vigilante, mas pode acontecer.

Mas reduzir, ao mínimo, e até não ter, é uma possibilidade bastante real.

Líder, duas pautas vão entrar aqui, provavelmente, neste ano, e são pautas ideológicas. Como o PT tem interesse na pauta econômica, a oposição tem interesse na pauta ideológica. A gente vê, por exemplo, a PEC da Anistia, que tem uma cobrança na Câmara dos Deputados para que seja votada e passada para o Senado rapidamente, e também a questão da inelegibilidade, em caso de condenação na justiça eleitoral, de oito para dois anos, que entrou em discussão lá, e aqui no Senado essa discussão também começou a ganhar um burburinho nas últimas horas, justamente por conta do filho do ex-presidente, que pode ser beneficiado, ser um senador da República. Queria saber do senhor o seguinte, uma avaliação dessas duas pautas, o senhor acha que oito anos de inelegibilidade é muito tempo? Uma avaliação de como essas pautas vão ser tramitadas aqui? E, de quebra, essa pauta dos dois anos de inelegibilidade, o senhor acha que pode entrar no novo Código Eleitoral que vai ser discutido na CCJ neste ano?

Olha, tudo é possível e tudo pode. Mas a gente já teve algumas conquistas para retirar os exageros da Lei da Ficha Limpa. Primeiro, o debate sobre a improbidade. Qualquer improbidade, de qualquer natureza, gerava inelegibilidade na Lei da Ficha Limpa. Isso é um absurdo.

Se você não desviou dinheiro, se você não teve enriquecimento ilícito, não gerou dano ao erário público, se não houve dolo, ainda que tenha isso, se não houve dolo e não está comprovado dolo, você não pode impedir alguém de ter vida pública ou de continuar na vida pública. É uma pena de morte. A outra coisa é que o tempo começava a contar depois do julgamento.

Então você passa quatro, cinco, seis, sete anos sendo julgado, depois que já estava inelegível, depois quando julga definitivamente, aí começa a contar oito anos. Você está entendendo? Então essas coisas precisam ser ajustadas para ter mais justiça, para fazer justiça. Agora, dois anos, acho que é pesar a mão demais sobre essa tentativa de evitar também o descontrole do crime eleitoral ou do crime contra o patrimônio público.

Acho que precisamos ter essa medida. Acho que é pesar a mão demais. Não acredito que a maioria vá por aí.

Acho que ajustar as questões processuais para dizer que tem cinco anos de inelegibilidade pode ser dois, pode ser três, pode ser quatro, pode ser oito, quem estabelece isso é a justiça, no máximo oito anos. Está certo? No máximo oito anos. Mas isso começa a contar a partir do momento que o processo está correndo, senão você já fica inelegível e aí, quando termina o processo, vai contar oito anos daí para frente? Tem uma regra aí que a gente precisa atualizar.

Líder do PT no Senado defende Haddad, vê críticas exageradas e reconhece fogo amigo

Senador Rogério Carvalho (PT-SE), líder do PT no Senado, em entrevista ao site IstoÉ

O senhor falou que dois anos é muito pouco, mas vamos supor, o senhor defenderia que oito anos é muito?

Não. Veja só, depende da situação. Até oito anos é o que está na legislação, às vezes não é. Não são oito anos de inelegibilidade que você recebe. Você recebe quatro anos de inelegibilidade, três anos de inelegibilidade, cinco anos de inelegibilidade. Então, essa dosimetria quem define é o judiciário, é a justiça eleitoral. Depende do crime.

Um crime atentar contra a democracia de forma dolosa é um crime grave, na minha opinião, do ponto de vista político. Atentar ou organizar um golpe de Estado para mim é muito grave. Tem coisas que são graves.

No meu modo de ver, como uma pessoa que acredita que um dos fundamentos de uma sociedade civilizada é a democracia, como a defesa da vida, a inclusão pela renda, a inclusão pelo direito, a democracia, a defesa dos direitos individuais, a convivência pacífica entre os diferentes, a diversidade, o multilateralismo. São coisas civilizatórias que a humanidade acumulou. E a democracia, na minha opinião, é o regime mais parecido com a construção civilizatória que a humanidade vem acumulando ao longo de milênios.

Porque a democracia é do Império Romano, da Grécia Antiga. Ela volta com força depois da Revolução Francesa. Então, veja que nós não estamos falando de um modelo que nasceu ontem.

Agora, entrando na seara da reforma ministerial, a gente está prestes a ter uma reforma ministerial. Eu queria saber do senhor como o senhor vê a necessidade dessa reforma, os nomes que estão sendo cotados e, principalmente, essa questão da participação do PT no Senado lá no Palácio do Planalto. O PT tem dois ministérios, Camilo Santana e Wellington Dias, que são representantes do Senado, além do Carlos Fabro, que é da Agricultura, que deve sair em prol de outros nomes.

Queria saber do senhor como o senhor vê essa reforma ministerial. O senhor acha que é necessário para tentar alavancar o governo?

Olha, nós temos uma outra correlação de forças no comando das Casas Legislativas. Essa conjuntura política atual faz com que o governo, que precisa construir maioria para governar, olhe para isso. Esse é um fator importante. Tem que olhar também o desempenho dos ministérios e as entregas dos ministérios. Só quem tem condição de fazer essa avaliação de qual, quem, como, é quem está mais na articulação desse debate.

Acho que o presidente está acompanhando junto com uma parte da sua equipe e acredito que eles vão conseguir, até o final de março, ter uma configuração nova da esplanada dos ministérios. Não acredito muito em grandes mudanças, porque vai depender muito dos partidos. O partido vai querer mudar os seus jogadores, ou não, já está lá, consolidado.

Os seus titulares que foram propostos para essas pautas, percebe? Os partidos precisam também se manifestar. Quais são os seus pleitos? Como é que isso precisa entrar numa equação que o governo vai ter que fazer? 

E o orçamento? Sai em fevereiro? 

A gente trabalha para que saia em fevereiro. O desejo é que saia em fevereiro. Mas, até março, a gente vai ter que aprovar.