Líder do Irã diz que EUA não destruíram programa nuclear do país

Líder do Irã diz que EUA não destruíram programa nuclear do país

""AAiatolá Khamenei contraria narrativas de Washington e Tel Aviv e diz que seu país saiu vistoso da guerra de 12 dias. "Demos um tapa na cara" dos EUA", afirmou, garantindo que país mantém suas ambições nucleares.O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, afirmou nesta quinta-feira (26/06) que os ataques americanos não conseguiram destruir o programa nuclear iraniano.

Em seu primeiro pronunciamento desde o cessar-fogo que pôs fim a 12 dias de guerra contra Israel, Khamenei contrariou a narrativa utilizada por Washington e Tel Aviv e disse que seu país deu um "tapa na cara" dos Estados Unidos com o ataque a uma base aérea americana no Catar.

Em um discurso de pouco mais de 10 minutos, o líder de 86 anos lançou várias advertências e ameaças aos Estados Unidos e a Israel, adversários de longa data da República Islâmica.

Khamenei minimizou os ataques americanos de domingo a três instalações nucleares iranianas com a utilização de bombas destruidoras de bunkers e mísseis de cruzeiro, afirmando que o presidente dos EUA, Donald Trump, "exagerou" ao dizer que a ação americana "obliterou total e completamente o programa nuclear do Irã".

"Eles não conseguiram nada significativo", disse Khamenei. Em sua mensagem de vídeo, ele não mencionou o programa nuclear do Irã ou as atuais condições de suas instalações e centrífugas após os extensos ataques americanos e israelenses. Sua caracterização do ataque de segunda-feira à base aérea americana no Catar contrastou com os relatos americanos de que teria sido uma ação limitada, sem baixas.

"Tapa na cara da América"

O líder iraniano disse que os EUA só intervieram na guerra porque "sentiam que, se não interviessem, o regime sionista [em Israel] seria completamente destruído". "Entraram na guerra para salvá-los, mas não ganharam nada", afirmou.

Khamenei não é visto em público desde que se abrigou em um local secreto após o início da guerra, em 13 de junho, quando Israel atacou instalações nucleares iranianas e alvejou comandantes militares e cientistas de alto escalão.

Ele disse que o ataque iraniano à base dos EUA no Catar na segunda-feira foi significativo, pois teria demonstrado que o Irã "tem acesso a importantes centros americanos na região e pode agir contra eles sempre que julgar necessário".

"A República Islâmica saiu vitoriosa e, em retaliação, deu um tapa na cara da América", disse o aiatolá, advertindo que "esta ação pode ser repetida no futuro". "Caso ocorra qualquer agressão, o inimigo certamente pagará um alto preço", afirmou.

Trump, no entanto, reafirmou que os ataques americanos foram devastadores. O presidente reiterou que instalações importantes, incluindo a usina subterrânea de enriquecimento de urânio de Fordo, foram "obliteradas" por bombardeiros B-2 americanos.

Quão graves são os danos às instalações iranianas?

Em sua rede social Truth Social, Trump rejeitou especulações de que o Irã poderia ter removido o urânio enriquecido antes do ataque. "Nada foi retirado… muito perigoso, muito pesado e difícil de mover", escreveu. Ele acrescentou que imagens de satélite mostraram caminhões no local apenas porque equipes iranianas estavam tentando proteger a instalação com concreto.

Uma avaliação confidencial vazada à imprensa nesta semana sugere que os danos ao programa nuclear iraniano podem ter sido menos graves do que o alegado por Washington, possivelmente atrasando os avanços iranianos em apenas alguns meses. Essa avaliação contrasta com declarações de altos funcionários americanos.

O secretário americano de Defesa, Pete Hegseth, acusou a imprensa de deturpar a ação militar. "O presidente Trump criou as condições para encerrar a guerra, dizimando – escolha a palavra – obliterando, destruindo as capacidades nucleares do Irã", disse Hegseth. O diretor da CIA, John Ratcliffe, disse que várias instalações precisariam ser "reconstruídas ao longo dos anos"

No entanto, ainda há dúvidas se o Irã teria de fato removido cerca de 400 quilos de urânio enriquecido de seus locais mais sensíveis antes dos ataques para ocultar o material nuclear em outras partes do país.

A Agência Internacional de Energia Atômica da ONU (AIEA) confirmou danos às instalações nucleares iranianas. O diretor da entidade, Rafael Grossi, reiterou nesta quinta-feira que os estragos causados ​​pelos ataques israelenses e americanos a esses locais "são muito, muito, muito consideráveis."

"Acho que [dizer] aniquilado seria demais, mas sofreram danos enormes", disse Grossi à emissora francesa RFI.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmail Baghaei, admitiu nesta quarta-feira os ataques surtiram efeito. "Nossas instalações nucleares foram gravemente danificadas, isso é certo."

Desde o cessar-fogo, a vida vem gradualmente voltando ao normal no Irã. Nesta quinta-feira, o país reabriu parcialmente seu espaço aéreo, que estava fechado desde o início da guerra, e as lojas em Teerã voltaram a funcionar, com o tráfego retornando às ruas.

Futuras negociações em xeque

No início desta semana, Teerã afirmou que 606 pessoas foram mortas no conflito no Irã, com 5.332 feridos.

Já o grupo Ativistas de Direitos Humanos, com sede em Washington, divulgou outra contagem, afirmando que os ataques israelenses teriam matado ao menos 1.054 pessoas e ferido 4.476. O grupo, que forneceu números detalhados de baixas em várias rodadas de ataques no Irã, afirmou que 417 dos mortos eram civis e 318 eram forças de segurança.

Em Israel, segundo as autoridades locais, ao menos 28 pessoas foram mortas em Israel e mais de 1.000 ficaram feridas.

Durante a guerra de 12 dias, o Irã disparou mais de 550 mísseis contra Israel, com uma taxa de interceptação de 90%, de acordo com novas estatísticas divulgadas pelas autoridades israelenses nesta quinta-feira. Israel, por sua vez, atingiu mais de 720 alvos de infraestrutura militar iraniana e oito instalações nucleares.

Trump afirmou que autoridades americanas e iranianas se reunirão na próxima semana, o que gerou uma esperança cautelosa de paz a longo prazo.

Teerã, no entanto, não confirmou tais negociações, embora o enviado dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff, tenha relatado que houve comunicação direta e indireta entre os países.

O Irã insiste que não desistirá de seu programa nuclear. O Parlamento iraniano decidiu nesta quarta-feira avançar uma proposta que efetivamente interromperia a cooperação do país com a AIEA, que monitora o programa nuclear do país há anos.