09/09/2024 - 16:09
A líder da oposição venezuelana María Corina Machado disse nesta segunda-feira (9) que permanecerá no país depois de seu candidato nas eleições presidenciais, Edmundo González Urrutia, decidir se exilar na Espanha.
Alvo de um mandado de prisão, González Urrutia chegou no domingo à Espanha como exilado. A oposição reivindica sua vitória nas eleições de 28 de julho, das quais Nicolás Maduro foi proclamado vencedor para um terceiro mandato consecutivo, até 2031.
“Se algo muda com a saída de Edmundo, de uma perspectiva que possa aumentar o risco para mim, eu não sei, mas de qualquer forma, eu decidi permanecer na Venezuela e acompanhar a luta daqui, enquanto ele faz isso de fora”, disse Machado, que se encontra na clandestinidade, em um evento virtual.
“Todos sabemos que Edmundo González Urrutia é o presidente eleito da Venezuela”, insistiu Machado. “E ele será, esteja na Venezuela ou em qualquer parte do mundo.”
González Urrutia, de 75 anos, fez um apelo mais cedo para o “diálogo” e explicou que sua decisão de se exilar foi para que “as coisas mudem” e construir “uma nova etapa para a Venezuela”.
“Somente a política do diálogo pode fazer com que nos reencontremos”, escreveu o opositor em uma carta publicada no X e assinada em Madri, na qual não reivindica sua vitória nem acusa Maduro de fraude. “Nosso destino como país não pode, não deve ser, o de um conflito de dor e sofrimento”, afirmou González Urrutia.
O ministro de Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, informou nesta segunda-feira que González Urrutia receberá asilo.
Fontes próximas ao político venezuelano explicaram que ele não falará com a imprensa até ser recebido pelo primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, e Albares, atualmente em viagem oficial à China. O encontro pode ocorrer na próxima quinta-feira.
Albares insistiu que a recepção do político venezuelano não muda a posição de Madri.
No entanto, a oposição conservadora espanhola criticou o Executivo por não reconhecer também a vitória de González Urrutia e convocou uma sessão plenária do Congresso dos Deputados na terça-feira para votar esse reconhecimento.
Machado convocou uma manifestação para terça-feira na Praça das Cortes em Madri para “reivindicar o mandato de 28 de julho”. Cerca de 280.000 venezuelanos vivem na Espanha, de acordo com números oficiais, que não incluem aqueles que adquiriram a nacionalidade espanhola.
Muitos dirigentes de oposição também acabaram exilados neste país.
“Nas circunstâncias em que estava (González Urrutia) na Venezuela, ele não podia cumprir todas as funções”, continuou Machado. “Não muda absolutamente nada: a legitimidade se mantém, a estratégia se mantém.”
O ministro do Interior da Venezuela, o poderoso dirigente chavista Diosdado Cabello, insistiu nesta segunda-feira que o exílio de González Urrutia foi “voluntário”.
“Ele foi sozinho com a esposa, foram tranquilos (…), se despediu tranquilo, relaxado”, disse com ironia em uma coletiva de imprensa.
O Tribunal Penal Internacional (TPI), que investiga a Venezuela por crimes contra a humanidade, afirmou que “acompanha de perto a evolução da situação” no país, em um comunicado que não menciona diretamente González Urrutia, mas “sublinha a importância de garantir que o Estado de direito seja respeitado”.
González Urrutia, que estava na clandestinidade desde 30 de julho, passou um tempo na embaixada dos Países Baixos em Caracas antes de se transferir para a espanhola em 5 de setembro.
A Colômbia, que junto com o Brasil lidera os esforços regionais por uma solução pacífica para a crise, lamentou em um comunicado a “saída” de González, enquanto Antony Blinken, chefe da diplomacia dos Estados Unidos, disse que o opositor continua “sendo a melhor esperança para a democracia” na Venezuela.
Os Estados Unidos, a União Europeia e vários países da América Latina não reconheceram a reeleição de Maduro, depois que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), alinhado ao governo, o proclamou vencedor sem apresentar o detalhamento da apuração, como exige a lei.
González estava sendo procurado pela justiça venezuelana, também acusada de servir ao chavismo, pela divulgação de cópias das atas eleitorais em um site que lhe atribui a vitória nas eleições.
Um tribunal ordenou em 2 de setembro a prisão do ex-diplomata, que está sendo investigado por delitos que incluem “desobediência às leis”, “conspiração”, “usurpação de funções” e “sabotagem”, após não ter comparecido a três convocações do Ministério Público (MP).
Machado também é investigada criminalmente pelo MP, embora não tenha sido convocada ou seja alvo de um mandado de prisão.
Maduro pediu que ela e González Urrutia sejam presos. O presidente venezuelano os responsabiliza pelos atos de violência nos protestos pós-eleições, que resultaram em 27 mortes – duas delas militares -, quase 200 feridos e mais de 2.400 detidos.
rs-mbj/val/al/zm/fp/aa/yr/jb/ic