15/12/2024 - 10:17
O líder da oposição sul-coreano apelou neste domingo à Corte Constitucional para que defina rapidamente o destino no presidente deposto Yoon Suk Yeol, para que o país possa recuperar-se da “agitação nacional” e da “situação absurda” criadas pela imposição da lei marcial em 3 de dezembro.
O tribunal tem 180 dias para decidir se valida ou não a destituição de Yoon, aprovada no sábado pelo Parlamento.
Se validada, eleições presidenciais serão celebradas em seis meses.
“A Corte Constitucional deve tramitar rapidamente o processo de destituição do presidente”, disse neste domingo Lee Jae-myung, presidente do Partido Democrata, a principal força da oposição.
“É a única forma de conter a agitação nacional e aliviar o sofrimento da população”, acrescentou.
“Sinto-me profundamente frustrado… mas agora devo afastar-me por um tempo”, disse o presidente deposto Yoon. Em discurso transmitido pela televisão, apelou ao fim da “política dos excessos e do confronto”.
A decisão de Yoon, que enviou o Exército ao Parlamento para impedir a reunião dos deputados, desencadeou uma grave crise política e grandes manifestações na Coreia do Sul, uma democracia recente, com um passado traumático de ditaduras.
A polícia prendeu meste domingo o atual chefe do Comando de Inteligência da Defesa e seu antecessor no cargo, na investigação por “insurreição”, informou agência de notícias Yonhap.
Os promotores também solicitaram um mandado de prisão contra o chefe do Comando Especial de Guerra do Exército, Kwak Jong-keun, informou a Yonhap.
Kwak é acusado de enviar tropas das forças especiais ao Parlamento durante a tentativa de instituir a lei marcial, desencadeando um confronto entre soldados e funcionários legislativos.
Os investigadores relataram que Yoon também foi convocado para interrogatório sobre o caso, mas não compareceu.
“Faremos uma segunda intimação”, disse a Procuradoria em comunicado, sem dar mais detalhes.
Do total de 300 deputados na Câmara, 204 votaram a favor da destituição do presidente por insurreição e 85 votaram contra, segundo os resultados anunciados pela presidência da Câmara.
Pelo menos 200 mil manifestantes, segundo a polícia, reuniram-se em frente ao Parlamento à espera do resultado e explodiram de alegria ao ouvi-lo, segundo jornalistas da AFP.
Em outra parte da capital Seul, cerca de 30 mil pessoas reuniram-se para apoiar o presidente.
O opositor Park Chan-dae afirmou que “a destituição de hoje é uma grande vitória para o povo e para a democracia”.
“Não é surpreendente que nós, o povo, tenhamos conseguido isso juntos”, disse à AFP uma manifestante, Choi Jung-ha, 52 anos, que, apesar do frio congelante, começou a dançar na rua quando ouviu o resultado.
“Tenho 100% de certeza de que a Corte Constitucional apoiará a destituição”, acrescentou.
O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, declarou que a destituição mostra a “resiliência democrática” da Coreia do Sul.
Horas depois, o presidente americano Joe Biden telefonou ao primeiro-ministro sul-coreano, Han Duck-soo, que tomou posse como presidente interino, para expressar que a aliança entre os dois países “continuará a ser o eixo da paz e da prosperidade na região”.
O presidente interino do país e prometeu exercer uma “governança estável”.
Se o tribunal confirmar a sua destituição, Yoon Suk Yeol será o segundo presidente na história da Coreia do Sul a terminar assim, depois da líder Park Geun-hye em 2017.
No entanto, existe também um precedente em que a destituição aprovada pelo Parlamento foi invalidada dois meses depois pela Corte Constitucional, a do presidente Roh Moo-hyun em 2004.
O presidente Yoon, de 63 anos e com baixos níveis de popularidade, surpreendeu o país ao anunciar a imposição da lei marcial na noite de 3 de dezembro e ao enviar o exército ao Parlamento para impedir a reunião dos deputados.
O presidente, empenhado em uma disputa com a oposição pelo orçamento, acusou seus rivais políticos de se comportarem como “forças contrárias ao Estado”, e disse que procurou com esta medida extrema proteger o país das “ameaças” do regime comunista da Coreia do Norte.
A decisão provocou um movimento de indignação, com milhares de manifestantes que se mobilizaram imediatamente e confrontaram os militares em frente ao Parlamento.
Os deputados conseguiram se reunir e em questão de horas votaram contra a lei marcial.
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