O chefe da milícia Wagner, peça-chave na ofensiva militar russa na Ucrânia, afirmou neste sábado (24) que entrou na Rússia com suas tropas para depor o comando militar russo, e que ele e seus 25.000 homens estão “prontos para morrer” em sua missão.

Yevgueni Prigozhin, líder do grupo de mercenários, jurou “ir até o fim” em sua campanha contra o comando militar russo. Também revelou que suas forças ultrapassaram a fronteira russa pelo oblast (estado federal) sul de Rostov.

Prigozhin afirmou que suas forças vão “destruir tudo o que estiver em seu caminho” e que derrubaram um helicóptero russo que os atacou. Ele anunciou a mobilização contra as forças armadas russas, acusando-as de atacar suas tropas.

Diante da situação, o governador de Rostov, Vasili Golubev, pediu à população que “não saia de casa, a menos que seja necessário”. O prefeito de Moscou, Serguei Sobianin, anunciou neste sábado que “medidas antiterroristas” foram adotadas na capital.

Vídeos que circulam na internet na Rússia mostram homens armados cercando prédios administrativos em Rostov, com tanques mobilizados no centro.

O Exército russo negou ter atacado o grupo Wagner e classificou as acusações como uma “provocação”.

“As mensagens e vídeos divulgados nas redes sociais por Prigozhin sobre supostos ‘ataques do Ministério da Defesa russo às bases de retaguarda do grupo paramilitar Wagner’ não correspondem à realidade e são uma provocação”, afirmou Moscou.

– Ajudar até “o diabo” –

O empresário russo opositor Mikhail Khodorkovsky, que está no exílio, convocou neste sábado a população a apoiar a rebelião de Prigozhin, afirmando que é importante ajudar “até mesmo o diabo” se ele decidir enfrentar o Kremlin.

Prigozhin, que por um tempo foi considerado um aliado próximo do presidente russo, Vladimir Putin, ganhou influência política e se lançou em uma confrontação com autoridades políticas e militares que agora parece ter transbordado o campo da retórica.

Após suas críticas, o Serviço de Segurança russo (FSB) o acusou de fazer “um chamado para iniciar um conflito civil armado” e pediu aos combatentes da Wagner que “tomem medidas para detê-lo”.

O procurador-geral russo, Igor Krasnov, informou a Putin que abriu “uma investigação penal” contra Prigozhin por “rebelião armada”, segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Ele afirmou que Putin está “constantemente” sendo informado sobre os eventos pelos serviços de segurança.

Prigozhin declarou em uma mensagem de áudio que as tropas russas “lançaram ataques com mísseis contra nossas bases de retaguarda” no front ucraniano e que muitos de seus combatentes morreram.

“O comitê de comando do grupo Wagner decidiu que é preciso conter aqueles que têm responsabilidade militar no país”, prosseguiu o chefe dos paramilitares, de 62 anos.

O Ministério da Defesa russo disse em comunicado que, “aproveitando a provocação de Prigozhin para desestabilizar a situação, o regime de Kiev perto da frente de Bakhmut está concentrando unidades (…) para realizar ações ofensivas”.

“Nós somos 25.000 e vamos determinar as causas do caos que reina no país (…) Nossas reservas estratégicas são todo o exército e todo o país”, proclamou Prigozhin.

– Ataques na Ucrânia –

A tensão ocorre em meio à contraofensiva das tropas ucranianas para reconquistar territórios tomados pela Rússia desde o início da intervenção militar, em fevereiro de 2022.

Horas antes do surgimento da crise, Prigozhin afirmou que o Exército russo estava “se retirando” no leste e sul da Ucrânia, contradizendo as afirmações do Kremlin, para o qual a contraofensiva de Kiev fracassa.

“O Exército (russo) está se retirando nas áreas de Zaporizhzhia e Kherson (sul), as forças armadas ucranianas estão fazendo as tropas russas recuarem”, declarou em uma entrevista publicada no Telegram por seu serviço de imprensa.

“Não há controle algum, não há vitórias militares” de Moscou, insistiu Prigozhin, acrescentando que os militares russos “se banham em seu próprio sangue”, referindo-se às grandes perdas sofridas pelas tropas regulares.

No entanto, autoridades ucranianas afirmaram que a Rússia lançou na manhã deste sábado uma série de mísseis em várias partes da Ucrânia, causando vítimas e danos.

Na cidade central de Dnipro, “várias casas foram completamente destruídas. Uma enorme cratera permaneceu após a explosão”, afirmou o prefeito local Boris Filatov no Telegram.

Em Kiev, capital ucraniana, “mais de 20 mísseis foram detectados e destruídos”, segundo Sergi Popko, chefe da administração militar da cidade.

Em Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, um gasoduto foi destruído, mas não houve vítimas, de acordo com o governo regional.

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