Trazem demonstrações cabais do “modus operandi” da família Bolsonaro a mais nova tramoia em que o clã esteve metido de contrabando ilegal de joias, na forma de presentes de um sheik árabe, no valor de mais de R$ 16,5 milhões – sem contar os demais mimos –, vai se saber a troco de quê. O carregamento da muamba, e assim deve ser tratada a mercadoria pela clara tentativa de sonegação de impostos e informações necessárias à Receita, entrando disfarçadamente dentro de um cavalo de metais preciosos (não confundir com o de madeira de Tróia), configura um padrão de comportamento habitual, via esquemas sempre mal explicados, que acompanha toda a atuação dos Bolsonaro na sua já barulhenta trajetória de poder. Jair Messias, o patriarca, os rebentos e agregados se acostumaram a fazer usufruto do Estado, como se fosse ali o seu quintal de traquinagens, abusando ao bel prazer de regalias do cargo do então mandatário para tratar de interesses pessoais, pecuniários ou não, costumeiramente na busca de vantagens nada republicanas. É de um horror sem fim a quantidade de cambalachos, embustes e falcatruas que o clã mostra-se metido e que vão sendo descobertos dia a dia, desde as antológicas “rachadinhas”, que tomam de cima a baixo a árvore genealógica, passando por casos de prevaricação, pagamento à religiosos aliados na forma de lingotes de ouro, conspirações milicianas e outras manobras marotas inomináveis, em uma coletânea de crimes mais do que suficiente para colocar a todos eles na cadeia. Por enquanto, vão escapando. Por pouco. No caso em questão, chega a assombrar a quantidade de intromissões e tentativas de manipulação dos procedimentos da Receita Federal por parte do então presidente da República, com o objetivo de reaver para si a milionária carga de muamba. Até na véspera de sua partida como fujão rumo aos EUA, nos últimos dias no cargo, ele buscou reaver o “presente”. Foram ao menos oito tentativas, por meio dos mais diversos ministérios e por intermédio de autoridades constituídas. Bolsonaro chegou a destituir um funcionário da Receita que estava barrando sua carteirada e colocou no lugar um auditor que fez o possível e o impossível para atender à demanda do padrinho – sendo depois agraciado com um cargo em Paris pelos serviços prestados. É de chocar a desfaçatez de um mandatário que não mede esforços para se locupletar no poder. A frenética mobilização bolsonarista com o objetivo de recuperar os diamantes ainda está coberta por um manto de mistério, sem contar as ilegalidades evidentes. A pergunta a ser respondida agora é o por quê da benevolência árabe para com a trupe do presidente que, de quebra, foi agraciada também com relógios das marcas Hublot e Cartier, no valor de R$ 200 mil cada, canetas caríssimas e outros agrados. Como bem disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ninguém ganha mais de R$ 16 milhões em prendas a troco de nada. É sabido que no meio das tratativas está a venda de uma refinaria brasileira, localizada na Bahia, para o fundo financeiro de Abu Dhabi Mubadala Capital, nos Emirados Árabes, ao custo (vejam só!) da metade do preço de mercado que valia à época da transação.

Os “mimos” configurariam assim um claro objeto de corrupção. Investigação nesse sentido está em andamento pela Polícia Federal. Com a perda da aura de imunidade que a cadeira do Planalto lhe proporcionava, Jair Bolsonaro vem, finalmente, experimentando as agruras de ter os malfeitos desvendados sem qualquer freio. E, pelo visto, eles são muitos. Seguidores, adoradores fanáticos da seita, teimam em ignorar, em não acreditar, apesar das evidências, mas o derretimento político de seu líder parece irreversível e sairá como barato a mera cassação dos direitos eleitorais do “mito”. Não há como o capitão passar ileso com tudo isso na Justiça. A ideologia cega dos aliados e bajuladores que o cercam não possui forças ou disposição para reverter um processo de escândalos sistemáticos que têm colocado por terra a imagem – vendida de maneira fraudulenta, naturalmente – de um impoluto cidadão outrora perseguido injustamente. Bolsonaro é o retrato hoje de uma gestão corrompida até o último fio do cabelo. Não será preciso sequer elencar as demais barbeiragens em que esteve metido, nas mais diferentes áreas, para condená-lo cabalmente. A muamba das jóias e as articulações para garantir a sua posse situam-se naquele padrão de delitos cujas provas figuram como “batom na cueca”. Risíveis as tentativas de explicação. O enredo ganha vulto e mais capítulos comprometedores a cada passo das investigações, deixando por terra o sonho da dupla Bolsonaro e Michelle de voltarem ao comando do Planalto.