ROMA E PARIS, 18 ABR (ANSA) – O Ministério do Interior da Líbia acusou a França de apoiar a ofensiva do general Khalifa Haftar para conquistar a capital Trípoli e anunciou a interrupção de todas as cooperações com o país na área de segurança.   

Os combates, iniciados há duas semanas, já deixaram pelo menos 225 mortos e 26 mil desalojados, apesar dos apelos das Nações Unidas (ONU) por uma trégua humanitária. O conflito, no entanto, ainda não indica quem pode ser o vencedor.   

“Qualquer relação com a França no âmbito dos acordos bilaterais no campo da segurança será interrompida”, diz um comunicado do Ministério do Interior citado pelo site Libya Observer. Além disso, o procurador militar da Líbia emitiu mandados de prisão contra Haftar e seis de seus aliados mais próximos.   

Paris, por sua vez, afirmou que as acusações de Trípoli são “completamente infundadas”. Anteriormente, o próprio primeiro-ministro líbio, Fayez al Sarraj, já havia insinuado um apoio da França a Haftar, versão que ganhou força com o veto imposto pelo país a uma declaração conjunta da União Europeia que condenava explicitamente o general.   

“Estamos trabalhando para que a Líbia não exploda, e espero que todos estejam fazendo o mesmo. Espero também que o governo francês nos dê uma ajuda para jogar água no fogo, e não gasolina da Total por interesses econômicos”, disse o ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, no programa “Porta a Porta”.   

A frase insinua que Paris está do lado de Haftar, que controla inúmeros poços de petróleo no leste da Líbia, para beneficiar a petroleira francesa Total. A Itália, por sua vez, está presente na nação africana por meio da estatal ENI e apoia o governo Sarraj, também reconhecido pela ONU.   

Entenda – A Líbia se fragmentou politicamente após a queda de Muammar Kadafi, em 2011, e desde então é palco de conflitos entre milícias.   

De um lado, está o governo de união nacional guiado por Sarraj e apoiado pelos grupos armados de Trípoli e Misurata, pela ONU e pela Itália; do outro, o Parlamento de Tobruk, no leste do país e fiel a Haftar, que tem apoio do Egito e dos Emirados Árabes Unidos e lidera o Exército Nacional Líbio, principal força armada da nação africana.   

O general, que busca derrotar o Islã político, e o Parlamento de Tobruk não reconhecem a legitimidade do governo Sarraj – instituído por uma conferência de paz no Marrocos, em 2015 – e controlam a maior parte do país, principalmente o leste e o desértico sul.   

Ex-aliado de Kadafi, Haftar ajudou o coronel a derrubar o rei Idris, em 1969, mas rompeu com o ditador em 1987, após ter sido capturado no Chade. De lá, guiou, com o apoio da CIA, um fracassado golpe contra Kadafi. Por duas décadas, viveu como exilado nos Estados Unidos e ganhou cidadania americana.   

Haftar se inspira no presidente do Egito, Abdel Fattah al Sisi, que deu um golpe militar em 2013 para derrubar o islamista Mohamed Morsi e o governo da Irmandade Muçulmana, colocada na ilegalidade. (ANSA)