O esforço internacional para ajudar a Líbia, vítima de inundações similares a um tsunami que deixaram quase 4.000 mortos e milhares de desaparecidos, foi intensificado nesta quinta-feira (14).

Aviões e navios militares de países do Oriente Médio e da Europa transportam ajuda de emergência ao país do norte da África, marcado por anos de conflitos.

Além dos mortos e desaparecidos, dezenas de milhares de pessoas foram deslocadas pelas inundações repentinas de domingo, provocadas pela tempestade Daniel, que afetaram em particular a cidade costeira de Derna.

As testemunhas compararam as inundações a um tsunami. Duas barragens do rio Derna se romperam e provocaram inundações de água e lama que arrastaram prédios, veículos e as pessoas que estavam dentro deles.

Muitas pessoas foram levadas para o mar. Na terça-feira, corpos começaram a aparecer no Mediterrâneo, cuja água ficou com a cor da lama.

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) da ONU afirmou que a maioria das mortes “poderia ter sido evitada”, caso os sistemas de alerta precoce e de gestão de emergências tivessem funcionado de maneira correta.

Um sobrevivente contou como ele e sua mãe conseguiram escapar das inundações.

“Em questão de segundos, o nível da água subiu. Saí com minha mãe para buscar refúgio na casa do meu irmão, que mora em uma parte elevada, mas as ondas nos arrastaram (…) antes de nos jogarmos na escada de um prédio vazio, a quatro casas da nossa”, declarou no leito do hospital, segundo o depoimento publicado pelo Centro Médico de Benghazi (leste).

“Subimos as escadas, e a água subiu junto até o quarto andar. Da janela vi carros e corpos arrastados pela água”, acrescentou.

A ONU prometeu US$ 10 milhões (R$ 49,2 milhões, na cotação atual) para ajudar os sobreviventes na Líbia, incluindo ao menos 30.000 pessoas que, segundo a organização, ficaram desabrigadas em Derna.

O número representa quase um terço da população da cidade do leste da Líbia antes do desastre.

– Desafios imensos –

Os desafios para os trabalhadores humanitários são imensos.

“As rodovias estão obstruídas, destruídas e inundadas, o que dificulta o acesso de ajuda humanitária”, afirmou a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Além disso, as pontes sobre o rio Derna que ligam a zona leste da cidade à oeste desabaram, informou a agência da ONU.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) anunciou, nesta quinta-feira, que enviou equipes adicionais para distribuir ajuda humanitária, e acrescentou que “forneceu 6.000 sacos mortuários”.

O Programa Mundial de Alimentos (PMA) indicou que começou a prestar ajuda a mais de 5.000 famílias deslocadas pelas cheias.

Muitos países também anunciaram o envio de ajuda, incluindo Reino Unido, Egito, França, Turquia, Itália, Argélia, catar e Tunísia. Os Emirados Árabes Unidos enviaram dois aviões com 150 toneladas de ajuda.

– Combinação de fatores –

A Líbia, um país com grandes reservas de petróleo, ainda se recupera da guerra e do caos posteriores ao levante que derrubou e matou o ditador Muamar Khadafi em 2011.

O país está dividido entre dois governos rivais: a administração reconhecida internacionalmente com sede na capital, Trípoli; e uma administração separada, no leste, a região afetada pelo desastre.

O porta-voz do Ministério do Interior do governo instalado no leste do país, tenente Tarek al Kharraz, afirmou que, até a quarta-feira, foram contabilizados 3.840 mortos na cidade de Derna. Deste total, 3.190 já foram enterrados. Entre as vítimas, estão ao menos 400 estrangeiros, principalmente sudaneses e egípcios.

Mais de 2.400 pessoas continuam desaparecidas, segundo as autoridades do leste.

Já a imprensa divulga balanços ainda mais graves de vítimas, com base em depoimentos de outras fontes.

Um funcionário da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV) afirmou que as inundações podem ter deixado 10.000 desaparecidos.

Outra fonte da Cruz Vermelha fez um alerta contra o risco vinculado às minas terrestres arrastadas pela água.

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