CAIRO, 10 FEV (ANSA) – A Líbia viveu mais um dia turbulento em sua fragilizada política nesta quinta-feira (10). Horas antes de fazer uma polêmica votação para eleger um novo chefe de governo interino, o ex-premiê Abdel Hamid Dbeibah foi alvo de um atentado terrorista.   

Segundo a emissora Al Arabya e a TV líbia Al-Hadath, nas primeiras horas do dia, o político foi alvo de um grupo que abriu fogo contra o comboio que o levava de volta para casa.   

Alguns dos tiros chegaram a atingir o carro de Dbeibah e o grupo fugiu em veículos diferentes após o ataque.   

As mídias informam que o ex-premiê, que foi destituído do cargo no fim de dezembro, não sofreu nenhum ferimento na ação.   

O atentado ocorreu horas antes do Parlamento de Tobruk – em união com o Conselho de Estado de Trípoli – iniciar a votação para escolher o novo premiê após uma disputa interna de poder definir que o mandato de Dbeibah havia terminado no dia em que deveriam ter ocorrido as eleições presidenciais.   

O político estava no poder desde março do ano passado e tinha também o apoio da comunidade internacional, além do consenso dos dois “parlamentos” do país – do governo oficial, em Trípoli, e dos grupos rebeldes que foram obrigados a aceitar um acordo de cessar-fogo e que têm sede em Tobruk.   

A principal missão dele era organizar as eleições de 24 de dezembro, para tentar por fim ao conflito que se arrasta desde 2011 após a deposição de Muammar Kadafi. No entanto, pouco antes de dezembro, já estava claro que o pleito não seria realizado e Tobruk apresentou uma moção de desconfiança contra Dbeibah – que foi, a princípio, rejeitada pelo Conselho de Trípoli. No entanto, a disputa de poder para se tornar um novo presidente continuou a aumentar e ambos os lados decidiram pela saída do então premiê, mesmo sem o voto nas urnas.   

Por isso, no dia 8 deste mês, o presidente da Câmara dos Deputados, Aguila Saneh, que também tem intenções de ser o novo chefe de Estado, anunciou que as novas eleições serão realizadas “14 meses após aprovação das modificações da Declaração Constitucional” do país, em sessão ainda sem data marcada, e que um novo premiê seria empossado nesta sexta-feira (11).   

Votação do novo premiê – A votação desta quinta foi marcada por mais uma confusão. Haviam dois candidatos admitidos na disputa: o ex-ministro do Interior Fathi Bashagha e o político Khaled Amer Bashid al-Bibas.   

O vencedor da disputa foi Bashagha, como era esperado após ele dizer que retiraria a candidatura à Presidência se vencesse como premiê, e, a princípio, foi anunciado que al-Bibas tinha “retirado sua candidatura”.   

Um vídeo que circula na mídia do país mostra Saleh informando aos deputados que “recebeu uma mensagem do Conselho de Estado em que há o apoio ao voto por aclamação de Fathi Bashagha e, sobre o senhor Khaled, fui informado que retirou sua candidatura”.   

Porém, após o anúncio, um porta-voz do derrotado publicou uma nota por meio do “Libya Observer” e informou que ele “não se retirou” e que “acusa o presidente do Parlamento, Aguila Saleh, de ter mentido aos parlamentares anunciando sua saída”.   

Após a publicação da resposta no site, o Parlamento mudou o texto disponível em seu portal oficial e disse que Bashagha foi eleito “por unanimidade”. O deputado Ammar Lablaq afirmou à mídia local que a sessão “foi uma completa farsa” e denunciou que a eleição “foi feita ilegalmente”. Já Dbeibah também não reconhece o pleito e diz que permanecerá no cargo até as eleições presidenciais e legislativas serem realizadas.   

Crise líbia – A guerra civil na Líbia entre forças oficiais e grupos de milícias chamados de “Exército Nacional” começou em 2011 após Kadafi ser deposto.   

Enquanto os primeiros receberam apoio da comunidade internacional, os segundos foram liderados pelo marechal Khalifa Haftar, que era aliado do ditador até o fim da década de 1980 e o homem forte por trás do Parlamento de Tobruk.   

Em 2019, o marechal fez uma incursão para derrubar o governo de Trípoli, reconhecido inclusive pelas Nações Unidas, e para reunificar a Líbia. Porém, como fracassou, precisou assinar um termo de “cessar-fogo” em outubro de 2020.   

Desde março, o país era comandado por Dbeibah, que tinha como principal missão organizar as eleições de dezembro, algo que fracassou por desavenças entre os diversos grupos políticos (ANSA).