Libertam imigrantes detidos em El Salvador em troca de prisioneiros Venezuela-EUA

A Venezuela repatriou nesta sexta-feira (18) um grupo de imigrantes detidos em uma megaprisião para membros de gangues em El Salvador como parte de uma troca de presos com os Estados Unidos.

Os 252 detidos foram enviados em março para a temida prisão salvadorenha para membros de gangues, a Cecot, após serem apontados, sem provas, pelo governo de Donald Trump como integrantes da quadrilha criminosa Tren de Aragua.

O governo do presidente Trump declarou essa quadrilha como “organização terrorista” e invocou uma lei sobre inimigos estrangeiros de 1798 para expulsar esses imigrantes de forma rápida.

Dois aviões com bandeira venezuelana decolaram de El Salvador pouco antes de as autoridades dos Estados Unidos e da Venezuela confirmarem a operação.

O secretário de Estado, Marco Rubio, celebrou a libertação de 10 americanos e de “presos políticos”, enquanto o governo de Nicolás Maduro destacou o “alto preço” que pagou nas negociações.

A embaixada dos Estados Unidos que atende Caracas a partir de Bogotá publicou uma foto dos libertados com bandeiras do país. Não está clara a identidade deles, assim como também não se sabe quem são os venezuelanos envolvidos.

“Estou muito feliz, a felicidade não cabe no meu peito”, disse à AFP Mercedes Yamarte, mãe de Mervin Yamarte, um dos detidos no Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot). “Preparei a recepção, o que vou fazer é uma sopa”, contou.

A Venezuela havia convocado manifestações para exigir a libertação desses venezuelanos.

Ainda nesta sexta-feira, chegaram à Venezuela, deportados de Houston, 251 imigrantes, entre eles sete crianças que haviam sido separadas dos pais.

– “Malditos!” –

A guerra contra a imigração ilegal é uma das bandeiras do novo governo Trump, que multiplicou as batidas policiais e as deportações.

Os venezuelanos detidos em El Salvador não tinham direito a ligações ou visitas; seus familiares pediam até mesmo uma prova de vida.

O presidente salvadorenho, Nayib Bukele, insistiu que muitos dos imigrantes sob sua custódia pertenciam ao Tren de Aragua e que vários enfrentam “acusações de assassinato, roubo, estupro e outros crimes graves”.

Ele publicou um vídeo em que aparecem os venezuelanos algemados e usando roupas civis ao embarcarem no avião venezuelano.

“Malditos!”, diz um deles ao olhar para a câmera.

A última vez que se soube deles foi em março, quando vieram à tona imagens daqueles homens raspados e acorrentados, ajoelhados no Cecot.

Bukele construiu essa prisão como parte de sua guerra contra as gangues de seu país. Ele aceitou receber seis milhões de dólares dos Estados Unidos pelas celas destinadas a esses imigrantes venezuelanos, dos quais nunca se divulgou a identidade.

“A Venezuela pagou um alto preço para conseguir a liberdade desses compatriotas, por meio de uma troca com as autoridades dos Estados Unidos da América de um grupo de cidadãos americanos”, afirmou o governo de Maduro em comunicado.

Também foram “concedidas medidas alternativas à privação de liberdade a um conjunto de cidadãos venezuelanos que permaneciam detidos (…) por sua participação na prática de crimes comuns e contra a ordem constitucional”, acrescentou.

A ONG Foro Penal, responsável por muitos desses casos, disse à AFP que estava “verificando as identidades”.

– “Sequestrados” –

Ao reassumir o poder, Trump acertou com Maduro a repatriação de venezuelanos em situação migratória irregular, embora o envio de imigrantes a El Salvador tenha abalado as negociações.

Mesmo assim, aviões com imigrantes continuam chegando diariamente à Venezuela.

O governo também tem repatriado venezuelanos retidos no México, que não conseguiram entrar nos Estados Unidos.

Cerca de 8.300 imigrantes retornaram à Venezuela entre fevereiro e esta sexta-feira, em 45 voos – incluindo cerca de mil crianças.

“Chegaram à Venezuela, foram recebidos por suas famílias, foram atendidos depois de permanecerem sequestrados, perseguidos em território dos Estados Unidos”, afirmou o ministro do Interior, o influente dirigente chavista Diosdado Cabello.

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