Tite optou pela liberdade no ataque com responsabilidade defensiva, e o Brasil deu o seu primeiro passo em direção a uma vaga no Mundial do Catar.

Apesar da fragilidade da Bolívia, os pentacampeões mostraram aos rivais sul-americanos a voracidade e a versatilidade de seu jogo ofensivo.

Roberto Firmino foi o único com posição fixa no ataque da Seleção Brasileira em uma noite chuvosa de sexta-feira em São Paulo. O atacante do Liverpool ficou posicionado entre os zagueiros centrais bolivianos e fez dois gols na vitória por 5 a 0 na estreia das equipes nas Eliminatórias sul-americanas para Copa do Mundo de 2022.

Também não precisou se movimentar para receber bolas na área do frágil adversário, dirigido por César Farías.

A mobilidade dos companheiros, com constantes mudanças de posição e função, serviu para desorientar a defesa visitante para que a bola chegasse limpa a seus pés.

“Isso é espírito de equipe, solidariedade, futebol de equipe. Todos têm a responsabilidade de pegar a bola e criar”, disse Tite no final da partida.

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“Procuramos conhecimento, com estratégias, com harmonia. Neymar mais solto, mais central, com liberdade de movimento. Coutinho por dentro, com Firmino não muito atrás. Ele não buscou tanto [o jogo], esperou mais. Fez dois e poderia ter feito mais dois. Conforme o jogo exige a gente pode não mudar a função, mas adaptar característica”, acrescentou.

Everton ‘Cebolinha’, quarto atacante, imprimiu velocidade nas duas laterais. Sua explosão, e alguns dribles de Neymar, trouxeram sorrisos a um povo que sonha com seu sexto título mundial marinado em ‘jogo bonito’. Se não fossem as grandes defesas do goleiro Carlos Lampe, a goleada na capital paulista teria sido maior.

– Mudança de esquema tático –

Tite colocou em prática uma ideia que estava em sua cabeça desde a eliminação por 2 a 1 para a Bélgica nas quartas de final da Copa da Rússia, em 2018.

A Seleção disputou aquele mundial, e boa parte dos jogos que se seguiram, com um 4-3-3 em que Coutinho trabalhava mas recuado. As funções ofensivas como meia esbarraram na responsabilidade de apoiar a defesa quando um lateral avançava ao ataque.

“Se eu tivesse que olhar para trás, possivelmente teria usado Casemiro e Fernandinho juntos para ajudar Coutinho e Marcelo defensivamente. O pivô duplo para ‘liberar’ os melhores jogadores é uma ideia que tenho estudado e posso usar”, disse treinador brasileiro ao jornal espanhol AS em fevereiro.

Para o início da seletiva sul-americana, Tite acertou a mão. Mudou para 4-2-3-1 com Casemiro e Douglas Luiz. O jogador do Aston Villa protegeu as costas de Renan Lodi, que praticamente agiu como como ponta em uma partida oficial pela equipe brasileira.

Com o jogador do Atlético de Madrid atuando mais avançado, o Brasil tinha cinco homens praticamente no ataque, aos quais Casemiro e Danilo juntavam-se com frequência, e Marquinhos, em uma cabeçada, abriu o placar.

O avanço teve sucesso por dois motivos: o compromisso dos jogadores de atacar livremente em troca de um trabalho de recuperação em caso de necessidade, e a incapacidade de ataque boliviano.

Em campo, os jogadores deram “sinais de solidariedade. Por exemplo, Neymar fez um desarme na zona defensiva”, disse o técnico brasileiro.

– Parceria –


Tite se referiu a si mesmo como um “ladrão de ideias” de outros treinadores. De Thomas Tuchel, do PSG, ficou com a permissão para Neymar atuar como ala, meia ou até nove. De Ronald Koeman, do Barcelona, copia a localização central de Coutinho, o que o favorece face a uma velocidade e físico mais limitados que os do atacante do clube francês, embora sem o privar de cair pelos lados. O holandês lidera uma transformação tática na equipe espanhola, curiosamente também de um 4-3-3 para um 4-2-3-1.

O técnico brasileiro soube reunir essas ideias na sexta no estádio Neo Química Arena, no que pode ser engrenagem de uma parceria valiosa.

“O entendimento (de Neymar) com Philippe Coutinho ficou claro mais uma vez. Às vezes um voltava para os espaços abertos, depois o outro voltava”, escreveu o jornalista Raphael Zarko, do GloboEsporte.com.

Apesar de Neymar não ter marcado, deu duas assistências, uma delas para Coutinho. Do ex-jogador do Vasco veio o gol contra o conjunto boliviano (4 a 0).

Os ajustes da Seleção serão colocados à prova na terça-feira, contra o Peru, em Lima, no encerramento da primeira série de jogos das Eliminatórias.

Os peruanos, com mais qualidade que os bolivianos, ainda se ressentem da derrota para o Brasil na final da Copa América-2019.

Aquele foi o primeiro troféu da Seleção sob o comando de Tite. Por enquanto, nas Eliminatórias, pelo menos, o Brasil está se divertindo.

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