Milito no movimento liberal há muitos anos, e nem nas expectativas mais otimistas poderíamos imaginar um economista como Paulo Guedes concentrando tanto poder já em 2019, para realizar as tão sonhadas reformas de que o Brasil necessita. Que o responsável por isso tenha sido um militar com visão passada mais nacionalista e estatizante é algo curioso, sem dúvida, e que suscita alguns receios. Mas, até aqui, Bolsonaro tem dado os sinais de que realmente compreendeu a importância dessa agenda.

O time que Guedes e Bolsonaro estão montando na área econômica é de primeira, e justifica uma postura bastante positiva. Com o saudável pragmatismo típico da Universidade de Chicago, onde Guedes concluiu seu doutorado, o futuro governo tem inclusive mantido em cargos relevantes aqueles que Michel Temer, justiça seja feita, apontou com base na meritocracia. São nomes que impõem respeito, e com viés liberal.

Podemos pensar em Mansueto Almeida como secretário do Tesouro, com seu invejável currículo e conhecimento em finanças públicas. Ou então em Roberto Campos Neto para o Banco Central, cujo nome já traz o DNA liberal do saudoso avô e a responsabilidade de lutar por uma instituição independente e focada apenas em sua missão de controlar a inflação. Temos ainda Roberto Castello Branco como presidente da Petrobras, ele que foi diretor da Vale e também estudou em Chicago. E por aí vai.

O que vai se configurando é uma ocupação dos postos-chave da economia por gente séria, respeitada e, principalmente, capacitada e com a noção clara de que o objetivo deve ser o de reduzir o escopo estatal, privatizar empresas ineficientes e corruptas, e tentar levar mais racionalidade e meritocracia para o setor público. Óbvio que há um dilema, uma vez que liberais são favoráveis a menos poder estatal, mas para chegarem lá precisam, antes, assumir esse poder. E o poder corrompe, como sabia Lord Acton.

Daí a importância de selecionar, além dos currículos, gente com o comprometimento com a causa liberal, disposta a sacrificar o próprio poder e sua vaidade em prol do bem comum. A tentação de se acomodar em meio a privilégios, ou então ceder à pressão dos grupos de interesse será grande. Os nomes que já são conhecidos até aqui inspiram confiança de que não será esse o caso. E o nosso papel, dos ativistas liberais, é cobrar por essa coerência ideológica.

O desafio à frente é imenso, e há riscos de execução. Mas não é mais possível fugir da raia: são os liberais que estão no poder, ao menos cuidando das mudanças na economia. O “neoliberalismo” tem sido acusado, injustamente, pelos fracassos da socialdemocracia. Agora é realmente a chance de o liberalismo nos dar o ar de sua graça. Que ela não seja desperdiçada!

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