Letícia Colin, de 31 anos, ao falar da experiência da sua personagem que sofre com vício em drogas, na série “Onde está meu coração”, do Globoplay, em entrevista na GloboNews, a atriz criticou a sociedade por tratar o assunto com preconceito, sugeriu a liberação da cannabis para ajudar a saúde.

“Me identifico profundamente com o dependente químico no ponto de partida. Essa sensação relatada muitas vezes de solidão, insegurança, nervosismo e ansiedade social, eu reconheço tudo isso em mim. Como eu sou uma pessoa que trato há muito tempo o transtorno de humor, ansiedade e depressão e sou usuária de drogas regulamentadas e regularizadas, os remédios, eu me sinto muito na mesma. Inclusive, eu acho que a questão da droga a gente olha por uma ótica moralista, irônica, muito preconceituosa e, na verdade, cada um encontra uma maneira de lidar com a sua tristeza, com a sua compulsão, dificuldade de viver, essa superação”, começou ela.

Para fazer a série, Colin passou alguns dias na Cracolândia, em São Paulo, para conversar diretamente com quem sofre com o vício em drogas para a construção da personagem: “Quando eu tive na Cracolândia passando aquela experiência de alguns dias conversando com usuários e conhecendo as suas histórias, eu me senti de igual para igual. Isso é uma quebra de paradigma muito importante pra mim e acho pra nossa sociedade. Não é nos colocar, me incluo nesse grupo por ser uma pessoa que usa medicamentos por transtorno de humor, à margem dessa discussão, mas, sim, no centro da discussão. Todos nós estamos no centro. Esse momento da mudança precisa acontecer. Não só o homem branco eurocêntrico, mas todos nós. O centro se alargou e todos nós com todas as nossas diferenças e com as nossas vulnerabilidades. Droga é uma questão de saúde e não de polícia”

Ela ainda levantou questionamento se a abordagem social para lidar com a dependência química está sendo aplicada corretamente no Brasil. “Então, essa personagem é, extremamente, humana porque ela gostaria muito de dar conta das coisas, ser a melhor médica da família e percebe que não dá. Aí, ela sucumbe, não consegue assumir isso diante do pai, mãe e o corpo médico ali, que essa relação sobre vida e morte, que a gente falha, erra e precisa pedir ajuda. Acho que a nossa sociedade produz esse nível de sociedade que precisa encontrar um acolhimento e, às vezes, a droga está ali estendendo a mão. A droga está em toda parte e em todo lugar. Ela é proibida pra quem? É proibida para serviço de quê? Quem está ganhando dinheiro com isso? Pra onde vamos caminhar com esse posicionamento social e político das drogas. É uma discussão profunda e necessária de se fazer essas perguntas”, finalizou.