A letalidade policial despencou em 19 dos 131 batalhões do Estado de São Paulo cerca de um ano após seus agentes começarem a filmar suas operações nas ruas, por meio de câmeras instaladas em seus uniformes. Entre junho do ano passado e maio deste ano, ocorreram 41 mortes por ações policiais na área de atuação desses 19 batalhões. Em contrapartida, haviam sido registradas 207 mortes nesses batalhões um ano antes do início do programa, havendo uma queda de cerca de 80% na letalidade policial.
Estas câmeras não necessitam de acionamento manual, permitindo dessa forma o registro do turno completo do agente. Esta tecnologia também impossibilita que o PM desligue a câmera durante a operação. Além disso, a Polícia Militar pode resgatar o arquivo da câmera e realizar uma análise da gravação.
Em junho de 2021, o primeiro mês após a implementação das câmeras, nenhuma morte foi registrada. A média anual das mortes cometidas por policiais dos sete anos anteriores, antes da instalação do programa, era de 226 mortes.
As lesões corporais cometidas por policiais durante abordagens também apresentaram queda. Foram cerca de 44 pessoas que sofreram lesões corporais durante ações policiais no último ano, posteriormente a implementação das câmeras, cerca de 28% a menos do que as registradas um ano antes, com 61 ocorrências.
Posteriormente, o programa Olho Vivo foi implantado em outros 27 batalhões, dos quais 15 batalhões aderiram desde o final de Janeiro. Nessas unidades, as mortes por intervenção policial caíram cerca de 87,5%, em comparação com a mesma época no ano passado.
Especialistas em segurança pública afirmam que a utilização das câmeras trazem “transparência” para a ação do policial, que se sente inibido em matar ou agredir suspeitos. De acordo com Silvia Virginia Silva de Souza, conselheira federal da OAB ( Ordem dos Advogados do Brasil ) por São Paulo, o uso das câmeras intimida a ação do policial. “A redução de 80% em um ano demonstra que as forças de segurança podem atuar de outra forma na contenção da criminalidade”.
Em setembro do ano passado graças ao programa Olho vivo, um PM foi flagrado assassinando um homem desarmado em São José dos Campos, interior de São Paulo. As imagens gravadas mostraram que, posteriormente à perseguição policial, o suspeito foi alvejado pelo agente enquanto se preparava para sair do veículo, com as duas mãos na cabeça. Oito policias tiveram o pedido de prisão preventiva por suspeita de fraude processual, prevaricação, falsidade ideológica e homicídio doloso. As investigações foram concluídas em dezembro pela Corregedoria da Policia Militar.
Rafael Alcapadini, professor da FGV ( Fundação Getulio Vargas) e membro do Fórum de Segurança Pública, afirma que ”essa redução nas mortes é muito importante. A gente vivia uma situação vexatória, inaceitável de letalidade policial. A polícia tem muito poder nas mãos, e não é só no Brasil. O abuso policial nunca vai acabar totalmente, mas o importante é que o agente perceba que a câmera também o protege”.
Outra medida eficaz que veio junto a adesão do uso de câmeras é a utilização da arma de choque, “uma tecnologia usada no mundo todo. Em vez de usar a arma letal, ele usa a arma de choque.”
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo existem 7.500 armas de incapacitação neuromuscular (como armas de eletrochoque) em posse da PM de São Paulo. Desta forma, sendo a terceira força policial no mundo que faz uso desse equipamento, atrás de Nova York e Londres.