Segundo a história aceita, Jesus Cristo foi crucificado há mais de 2 mil anos. O Novo Testamento da Bíblia, o livro sagrado dos cristãos, acrescenta que, três dias depois, ele ressuscitou. Agora, um neurologista aposentado inglês que se tornou padre, Patrick Pullicino, propôs que a causa da morte do fundador do cristianismo não foi exatamente a crucifixão: ele teria morrido devido a um ataque cardíaco causado por uma hemorragia interna fatal de uma artéria rompida em seu ombro. Pela sua análise, os ombros de Jesus foram deslocados enquanto ele carregava a cruz.

Jesus caiu enquanto levava sua cruz, menciona a Bíblia. Mais tarde, suas mãos foram perfuradas pelos soldados romanos com pregos, de onde saíram sangue e água. Os estudiosos concordam que Jesus pode ter deslocado o ombro direito quando caiu enquanto carregava a cruz. No entanto, Pullicino, que foi neurologista consultor do Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS), acredita que Jesus pode ter morrido devido a complicações associadas à ferida. Ele escreveu um artigo científico sobre sua teoria, publicado na revista Catholic Medical Quarterly.

Ele analisou a pesquisa de especialistas forenses e médicos sobre o Sudário de Turim. Jesus teria sido envolto nesse sudário depois de ser retirado da cruz. Mas durante séculos foram levantadas questões sobre a autenticidade do sudário, preservado em uma igreja italiana desde 1578.

Negativos de corpo inteiro do Sudário de Turim. Crédito: Wikimedia Commons

Referências no sudário

Uma datação por carbono em 1988 mostrou que o sudário era de 1260 a 1390 d.C. Outros estudos, feitos em 2012 e 2015, concluíram que o pano é da época de Jesus Cristo. Em 2017, uma equipe do Hospital Universitário de Pádua (Itália), liderada por Matteo Bevilacqua, realizou um estudo forense da impressão e descobriu que era de uma pessoa que sofreu e morreu exatamente da maneira de Cristo, conforme registrado nos Evangelhos.

A impressão no sudário mostra um homem deitado ereto, com uma ferida profunda na mão. Patrick Pullicino diz que um olhar mais atento ao sudário revela que o ombro direito foi deslocado nele, movendo-se dez centímetros em relação ao seu lugar natural.

Pullicino concorda com a conclusão de Bevilacqua e sua equipe que o deslocamento foi provavelmente o resultado de uma queda na qual o braço de Jesus ficou preso no suporte da cruz que ele carregava. Abrasões na parte de trás do Sudário de Turim indicam que ele foi deslocado do lado direito de Jesus para o esquerdo, possivelmente por causa de sua incapacidade de usar o braço deslocado depois que ele caiu.

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“Cristo Crucificado”, obra de Diego Velázquez no Museu do Prado: morte não ocorreu exatamente pela crucificação. Crédito: Museu do Prado/Wikimedia Commons (Crédito:Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br))

Braço esticado

Segundo Pullicino, “o braço direito foi esticado mais do que seu comprimento normal durante a crucificação, o que foi facilitado por uma combinação de deslocamento do ombro e perda de força muscular do ombro. Por causa desse estiramento do braço direito, a artéria subclávia/axilar direita também foi submetida ao estiramento, pois era uma das únicas estruturas intactas restantes que ligavam o corpo e o braço direito”.

Ele prosseguiu: “A transferência do peso corporal para os braços na inspiração provavelmente causou maior estiramento da artéria subclávia direita. A transferência de peso para as pernas na expiração reverteria esse alongamento. Isso faria com que a artéria subclávia esticada se movesse pela superfície das costelas a cada respiração e sua parte inferior estaria sujeita à fricção. (…) a artéria subclávia ficou escoriada, ferida e sua parede atenuou até que finalmente a artéria se rompeu e o sangramento profuso se seguiu”, produzindo uma condição chamada “hemotórax de grande tensão” – uma enorme bolsa de sangue que enche a cavidade entre os pulmões e a caixa torácica. Ela teria continuado a aumentar de volume durante todo o tempo em que Jesus esteve na cruz, empurrando o pulmão esquerdo e o coração para um lado à medida que crescia.

Pullicino acredita que pode explicar também por que está escrito no Evangelho de João que “sangue e água” saíram do corpo de Jesus. Ele disse que o que está sendo chamado de água deve ter sido líquido cefalorraquidiano, um dos raros fluidos corporais claros o suficiente para lembrar água. Pullicino argumenta que o líquido vazou para o espaço peripleural adjacente ao pulmão superior e cita um estudo médico de 2013 assinado por Hebert-Blouin e colegas para demonstrar que esta é uma complicação documentada do tipo de lesão do plexo braquial (ombro grave) que Jesus sofreu a caminho do Calvário.


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