01/05/2019 - 21:30
Mesmo 500 anos após a morte de Leonardo da Vinci, não surpreenderia ninguém se fosse descoberto em algum manuscrito ou documento antigo deixado por ele um projeto de invenção que décadas depois se materializou – mesmo que sem conexão alguma com o artista. Foi assim com o tanque de guerra, com sistemas hidráulicos e até com meios de transporte.
“Já vimos desenhos de Da Vinci em que são esquematizados túneis para que pessoas se locomovam pela cidade, deixando a superfície livre dos meios de transporte. Nós também vimos ser implantado nas últimas décadas na cidade de Milão uma rede de metrôs como não se vê em nenhuma outra cidade italiana”, afirmou Giuseppe Frangi, curador da exposição “The Genius Experience”, que mescla Da Vinci e Andy Warhol no Museu Ambrosiana em Milão, uma das muitas exposições que estão abertas no mundo para homenagear a data simbólica. O metrô em Milão foi inaugurado em 1964, 445 anos depois da morte do pintor, escultor e criador.
O conhecimento se concentrou no indivíduo de uma forma praticamente inigualável como foi com Leonardo Da Vinci, algo que para Teixeira Coelho, coordenador do Centro de Estudos Avançados da USP, nunca foi replicado por nenhum outro gênio, mas que se conecta com um instrumento que tem cada vez mais contato com o cotidiano das pessoas: “Se há algo que pode rivalizar ao Da Vinci é o computador, é uma metáfora para se ter ideia do que ele fez”.
Coelho afirma que a unificação do conhecimento é algo que os humanos tentam recriar na figura da universidade, a união de todo o saber em um mesmo espaço físico, mas que a infinidade de informações disponíveis hoje, além da divisão em áreas como as ciências biológicas e as exatas, não se faz possível. No tempo de Da Vinci o conhecimento, apesar de muito menos extenso do que hoje, sofria ingerência do Estado e da Igreja, coisa que o Renascimento Cultural, com grande contribuição de Leonardo, fez questão de quebrar.
Projetos visionários
Claudio Giorgione, curador da exposição “A ciência antes da ciência” em Roma na Scuderie del Quirinale, afirma que o sucesso de uma mostra sobre Da Vinci está intimamente relacionado com a compreensão de como eram as coisas nos Séculos XV e XVI. “A ideia é manter o amor do visitante pelo mito de Leonardo, mas que ao mesmo tempo entenda como a grandeza dele se alimenta de tudo de mais rico e histórico que o envolvia na época”.
É estranho fazer este tipo de afirmação, mas o nascimento de um gênio multidisciplinar na Idade Moderna parece ser muito mais provável do que nos anos 2000, visto a quantidade de campos de estudo que existem hoje. Nada que tire o mérito de Leonardo, obviamente, visto que nenhum de seus contemporâneos chegou perto da criatividade e da influência dele.”Cada um de nós está mergulhado dentro de uma área muito pequena, e sem condições de entrar na área ao lado. Há uma frase dele que ilustra bem que é: ‘é uma coisa fácil fazer-se universal’, acho que isso traduz Da Vinci. É fácil para ele, não?”, avalia Teixeira Coelho.
Para o pesquisador, o maior legado de Leonardo não são as invenções, afinal pareciam tão mirabolantes e avançadas que jamais poderiam ser executadas na época devido a deficiências estruturais e tecnológicas. “Do meu ponto de vista muito pessoal, aquilo que ele deixou em termos de arte é extremamente respeitável como legado. Talvez não seja possível dizer que as invenções chegam ao mesmo nível, pois as dele eram sonhos. Colocar no papel algo que voava, um tanque armado, isso era possível, mas não havia meios de executar. No caso das obras arte no entanto, ele podia sonhar e ser aquilo que ele queria.”, completa.