Os números das eleições municipais são incontestáveis. Enquanto o PSDB passa a ser, com folga, o partido que administra os maiores orçamentos municipais do País, o PT caiu da terceira para a décima posição em número de prefeituras. Portanto, há claramente um ganhador e um perdedor na disputa de 2016.

No entanto, apesar da discrepância, são esses dois partidos que, em 2018, devem continuar polarizando a disputa política no Brasil, como vem ocorrendo desde 1994. Mesmo com o comando da administração federal, o PMDB dificilmente conseguirá viabilizar um projeto nacional, até porque o governo de Michel Temer oferece mais sacrifícios do que bônus eleitorais – além disso, as derrotas no Rio de Janeiro e em São Paulo mostraram clara fragilidade política. No campo da esquerda, partidos menores, como o Psol e o PC do B, conseguiram avanços pontuais, mas ainda não têm um projeto nacional a oferecer.

O desafio tucano é evitar conflitos após a vitória, enquanto aos petistas caberá renovar seu discurso

Portanto, em 2018, se não houver um impedimento legal causado pela ofensiva judicial em curso, a disputa tende a ser entre o ex-presidente Lula e um nome do PSDB, com a possibilidade de que Ciro Gomes, no PDT, fure essa polarização. É exatamente aí que começa o nó dos tucanos. Na disputa municipal, o maior vencedor foi o governador paulista Geraldo Alckmin, que bancou João Doria contra a vontade de todos os caciques do partido e obteve a maior vitória da história do PSDB. Outro que se destacou foi o governador goiano Marconi Perillo, cuja base fez 200 de 243 prefeitos do seu estado. Assim, uma chapa puro-sangue entre Alckmin e Perillo seria um caminho natural, que refletiria a realidade de 2016.

O PSDB, no entanto, é um partido que não se une nem nas vitórias. De um lado, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) defendeu prévias, apostando que ainda terá o controle do maior número de delegados. De outro, o chanceler José Serra, que foi um dos grandes derrotados ao tentar dividir o PSDB com um apoio velado a Marta Suplicy, do PMDB, voltou a falar em parlamentarismo.

Enquanto essa disputa interna poderá rachar o PSDB, o PT, mesmo lambendo suas feridas, não terá como abrir mão de Lula, que é a sua única candidatura viável. A única saída será defender o seu modelo de distribuição de renda e inclusão social, hoje ameaçado pela recessão e pelas medidas de ajuste fiscal, e iniciar uma autocrítica sobre a “distribuição de renda para cima” – um processo que favoreceu os grandes empresários que ou terminaram em Curitiba ou se tornaram delatores, contra o próprio PT.