A antecipação da volta do presidente Michel Temer do Japão e o silêncio sepulcral do Palácio do Planalto diante da prisão de Eduardo Cunha evidenciam o óbvio: o novo homem-bomba da República, agora detido preventivamente em Curitiba, representa sim uma ameaça à sobrevivência do  atual governo. E sua delação premiada parece ser inevitável, uma vez que a força-tarefa da Lava Jato já implicou sua esposa Cláudia Cruz e seus três filhos nas investigações – o que levou Cunha a, rapidamente, contratar um advogado especializado em colaborações judiciais.

Cunha já sinalizou que seus principais desafetos são Moreira Franco, responsável pelo programa de atração de investimentos de Temer, e Rodrigo Maia (DEM-RJ), o presidente da Câmara que o sucedeu e colocou em pauta a cassação do seu mandato. Além disso, sabe-se que ele financiou mais de uma centena de deputados e, nos últimos anos, sempre foi muito próximo a Temer.

Ainda que seja prematuro dimensionar o potencial de estrago de uma eventual delação do ex-presidente da Câmara, ela certamente trará novos ventos de instabilidade. Mas o que pode realmente complicar a situação de Temer é a demora para apresentar resultados palpáveis na economia.

Tanto ou mais do que uma delação premiada, o que pode trazer novos ventos de instabilidade é a recessão 

Na quinta-feira 20, um dia depois da prisão de Cunha, o Banco Central divulgou que o PIB brasileiro recuou 0,9% em agosto, no maior tombo em 15 meses, acumulando uma queda de 5,6% em doze meses. Ou seja: o Brasil ainda está numa das maiores recessões de sua história e os empregos continuam sendo cortados. Em setembro, por exemplo, a indústria paulista eliminou 11,5 mil vagas, fechando o trimestre com 29 mil demissões. Os dados da arrecadação também deixam claro que os sinais vitais da economia continuam muito frágeis.

Os próximos meses, portanto, prometem grandes emoções. Se antes já havia grande expectativa em relação às delações de Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro, ex-presidentes das duas maiores empreiteiras do País, a Odebrecht e a OAS, agora há também uma nova dose de ansiedade provocada pelo fator Cunha. E tudo isso num ambiente de marasmo econômico, que pode potencializar insatisfações e revoltas sociais. E se não fosse o bastante, há ainda a ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer, no Tribunal Superior Eleitoral, que vem sendo tocada com velocidade máxima pelo relator Herman Benjamin.

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