O tempo passou, o cabelo mudou de cor, mas a aura de vencedor ainda paira sobre o russo Garry Kasparov, lenda do xadrez, que deixou a aposentadoria de lado para disputar o torneio “Rapid and Blitz” a partir desta segunda-feira, para vencer novos jogadores ou passar o bastão.

Doze anos depois de trocar o tradicional jogo pelo combate político com o presidente Vladmir Putin, Kasparov disputou nesta segunda três partidas e obteve três empates na competição realizada em St Louis, no estado americano de Missouri.

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“Estou muito satisfeito, o plano era sobreviver ao primeiro” dos cinco dias do torneio, comentou Kasparov ao final das partidas, que se sucedem com 30 minutos de pausa.

“Tive que me adaptar a esta nova realidade, a este ambiente. Estou contente com estes três empates”, declarou Kasparov sobre seus oponentes.

Na primeira partida, o russo empatou com o compatriota Serguéi Kariakin. O ritual não mudou, sempre colocando o relógio do seu lado esquerdo e posicionando as peças meticulosamente em seu lugar.

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Em seguida, enfrentou Hikaru Nakamura e Leinier Domínguez Pérez.

Espectadores e muitos fãs se amontoaram para ver a reestreia de Kasparov a poucos metros de distância, na pequena sala do Chess Club.

O enxadrista dominou o esporte entre 1985 e 2000. Desde sua aposentadoria no torneio de Linares, na Espanha, em março de 2005, o russo deixou muitos fanáticos do xadrez com saudades.

O convite aceito para o evento nos Estados Unidos foi uma agradável surpresa. O torneio é realizado pouco antes do Sinquefield Cup, competição anual considerada uma das maiores da turnê mundial do esporte.

Kasparov se tornou o jogador de xadrez mais novo a conquistar o título mundial, aos 22 anos, em 1985. Agora tem 54 anos, 10 a mais do que a idade em que os enxadristas profissionais normalmente se aposentam.

O russo fez questão de dizer, em publicação no Facebook, que a participação “não é o fim da minha aposentadoria, mas um hiato de cinco dias”. Kasparov acrescentou que não tem planos para jogar depois do evento.

“Jogar contra ele era um dos meus sonhos”, falou Karjakin, colocando Kasparov entre “um dos melhores jogadores da história”.

O atual líder do ranking, o norueguês Magnus Carlsen, não vai participar da competição.

Ainda assim, a volta da “Besta de Baku” criou impacto explosivo no jogo.

– ‘Ver ele jogar’ –

“Todo mundo está falando sobre isso”, comentou o enxadrista americano Alejandro Ramirez à AFP. “Pessoas estão viajando da Índia e da China para ver ele jogar”, acrescentou.


O domínio ao longo dos anos transformou Kasparov “em um ícone cultural”, indicou Ramirez, campeão da US Open e técnico de xadrez da Saint Louis University.

“Sua contribuição para a teoria do xadrez e nosso entendimento sobre o esporte ainda ressoa até hoje”, comentou Ramirez.

“Garry Kasparov sempre teve espírito lutador e é extremamente competitivo”, revelou Ramirez, antes de acrescentar que “ele vai enfrentar uma competição muito dura, com alguns dos melhores do mundo”.

Kasparov pediu para os fãs controlarem as expectativas: “aos 54 anos, tenho a mesma esperança de jogar xadrez como quando tinha 40 anos do que de recuperar o cabelo de quando tinha 20”.

A alta velocidade do torneio de St Louis pode ser um obstáculo para o veterano, que vai encontrar adversários especializados no acelerado estilo da competição.

“Eu espero que ele brigue pelas melhores posições, mas ficaria surpreso se ele vencesse tudo”, comentou Ramirez, de 29 anos e mestre enxadrista desde os 15.

– ‘Aura incrível’ –

Mas em um torneio que conta com quatro dos 10 melhores enxadristas do mundo, Kasparov não deve ser considerado um adversário fraco, indicou o francês Sylvain Ravot.

“Sua noção de jogo, paixão por vitória, experiência e reflexos devem ajudá-lo a ir bem. Quem sabe até termine entre os três melhores, mesmo que seja mais difícil para ele” comentou Ravot. O francês atribuiu a Kasparov uma “aura incrível”.

Kasparov joga pelo amor ao esporte. O prêmio da competição é de 150.000 dólares, mas o Grand Master já indicou que vai doar qualquer bonificação que receber para promover o xadrez na África.

Kasparov já voltou da aposentadoria uma vez, em amistoso contra o britânico Nigel Short, em 2015. Na época, o russo estava há 10 anos sem competir, ma não decepcionou, vencendo por 8 a 1.


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