Estou pensando em escrever um livro para crianças. Um livro baseado nas fábulas que algumas celebridades e artistas em geral têm contado para seus bois dormirem. Aquele povo que chama a Globo de golpista mas não recusa convite para trabalhar na novela das nove. Como a versão deles do que tem acontecido no Brasil não vai estar em nenhum livro de história, alguém precisa registrar essas fantasias para seus descendentes.

A primeira história vai chamar “Um Golpe na Rainha”.
O resumo:
“Era uma vez um formigueiro liderado por uma Rainha que não entendia nada de formigas.
As formigas também não entendiam nada do que a Rainha dizia.
O formigueiro estava um caos.
O formigão presidente da corte suprema era amigão da formiga Rainha.
Mas as formigas operárias, tão ingênuas, foram enganadas pela corte das formigas e pela elite do formigueiro.
A Rainha, tão boazinha, foi atirada às masmorras do ócio.”
As crianças não vão entender muito essa história.
Vão perguntar:
– Mas pai…se o formigueiro estava um caos, se os que tiraram a Rainha eram amigos dela, porque a história se chama “Um Golpe na Rainha”?
– Cala boca, moleque. História de criança é assim mesmo. Não tem nem pé nem cabeça. Olha só Chapeuzinho Vermelho. O lobo elitista come a vózinha oprimida e ela sai inteira da barriga. Continua lendo aí!

O livro vai continuar com a fábula “Um Novo Rei, Fora o Novo Rei!”
“Num reino muito distante, os miseráveis operários finalmente assumiram o poder.
Festa do novo Rei Operário.
Mas o reino ruiu, então trocaram o Rei pelo Vice-Rei.
Quando o Vice-Rei assumiu os que votaram nele o acusaram de ter usurpado o poder.”
Nosso pequeno (e)leitor dirá:
– Não entendi pai…não foram eles que escolheram o Vice-Rei que virou Rei?
O pai vai fingir que não ouviu.

Segue o livro.
Chega o último capítulo, “A Lenda do Primeiro Andar”.
É um conto mais longo.
Contemporâneo.
Poderia ser uma série no Netflix.
Conta a história de um prédio que só tem dois andares.
O de baixo é repleto de pobres.
O de cima é composto por gente rica e festiva.
Os andares do meio, não aparecem na história.
Foram ignorados porque estragaria o roteiro falar em classe média.
A narrativa é um resumo de todas as histórias do livro.
Fala da luta do bem contra o mal.
Conta como o mal eleva o juros, apoia os empresários e despreza o povo trabalhador.
Termina mostrando um passado idílico e um futuro tenebroso.

O garoto fecha o livro e pensa por dois minutos enquanto o pai orgulhoso aguarda sua reação.
– Mas pai, os juros não começaram a crescer no governo Dilma? O Henrique Meirelles que você mete o pau não foi ministro do Lula? O Temer não se elegeu junto com a Dilma? O Levandowsky, que tirou a Dilma, não foi indicado pelo Lula? Os milhões que foram às ruas pelo impeachment eram só elite? Não tô entendendo nada desse livro.
O pai olha para o filho decepcionado.
Lembra de todas as esperanças que teve desde que o menino nasceu. Baixa a cabeça e em voz mansa e derrotada diz:
– Dirceuzinho, fecha essa porra desse livro e vai jogar bola. – num lamento, desiste do garoto

O formigueiro estava um caos. O formigão presidente da corte suprema era amigão da
formiga Rainha. E as formigas operárias, tão ingênuas, foram enganadas pela corte