A cinco jogos do fim do Campeonato Inglês, o Leicester enfrenta a própria ansiedade para ser campeão pela primeira vez. O time recebe neste domingo o West Ham para tentar manter a diferença de sete pontos para o Tottenham e continuar no rumo para ser o primeiro campeão inédito do país nos últimos 38 anos.

O feito é digno de conto de fadas para um elenco apontado como candidato ao rebaixamento. Na última temporada o clube por pouco não caiu, passou por reformulações e pouco contratou. O clube pequeno desafia os grandes da liga mais cara do mundo, nação onde, nos últimos 23 anos, quatro times concentraram 22 títulos.

O clube de 132 anos de histórica tem como melhor campanha no Campeonato Inglês um vice-campeonato em 1929 e constrói os resultados atuais com base em uma equipe que joga como time pequeno. O Leicester tem se mostrado eficiente e rápido nos contra-ataques.

A surpresa, que deixou para trás os grandes favoritos, já está classificada para a inédita Liga dos Campeões. Mesmo que cometa deslizes em sequência e perca a corrida para o Tottenham, deixará como legado histórias curiosas na campanha.

Uma delas está nas tradicionais casas de apostas inglesas. O Leicester era o menos cotado entre os 20 participantes e, por isso, o que mais oferecia ganho. A cada libra depositada no título do time, o apostador receberia o retorno de 50 libras.

A valorização fez a Ladbrokes, uma das principais casas da Inglaterra, rever a premiação. A empresa entrou em acordo com o único a ter arriscado a fé no Leicester. O torcedor, que depositou 50 libras (cerca de R$ 250), recebeu de forma antecipada um prêmio de aproximadamente de R$ 360 mil.

A caminhada do Leicester motivou até um fã na Austrália. Tony Skeffington, de 51 anos, estava com um câncer em estado terminal no fim da última temporada. Para surpresa dos médicos, ele ainda continua vivo. “Ver o Leicester retornar da luta contra o rebaixamento e ver como eles estão indo bem nesta temporada está me ajudando a lutar”, disse em entrevista ao jornal Leicester Mercury.

TORCEDORES LIGAM FASE A DESCOBERTA DE REI – Tirar o esqueleto de um rei de um estacionamento e colocá-lo em uma catedral em Leicester deu sorte à equipe. A curiosa coincidência anima os torcedores na boa fase que parece nortear o caminho rumo ao título inédito.

A virada na história da monarquia inglesa – e na do Leicester – começou em setembro de 2012. Arqueólogos encontraram enterrado metros abaixo de um estacionamento um esqueleto. Durante os meses seguintes pesquisadores da Universidade de Leicester realizaram exames de DNA e estudos para comprovar a identidade do cadáver. E descobriram que se tratava de Ricardo III, o último rei inglês a morrer durante uma guerra.

Em 1485, o monarca foi assassinado durante a Batalha de Bosworth, disputa de dinastias considerada por historiadores um dos marcos do fim da Idade Média. O rei foi retratado em uma das obras do escritor inglês William Shakespeare como um tirano.

A personalidade controversa de Ricardo III não lhe impediu de ter a descoberta do esqueleto comemorada. A cidade se mobilizou para em março de 2015 organizar um funeral digno de rei. Os restos mortais desfilaram em carruagem, foram saudados nas ruas pelas pessoas e o caixão foi enterrado em uma catedral da Leicester.

Naquela época, o time estava em péssima fase. O último colocado da Premier League tinha perdido 18 dos 29 jogos. Após o funeral, porém, a história mudou de rumo. Nas nove rodadas restantes foram sete vitórias, um empate e apenas uma derrota. A equipe escapou do rebaixamento com folga.

Na temporada seguinte, a boa fase continuou. O Leicester é líder com sete pontos de folga e caminha para desfilar tão aclamado pela população da cidade como foi o caixão do rei. “Parece que há mesmo uma coincidência no caso. Nossa cidade tem um grande orgulho de ser a casa do rei”, disse a diretora de marketing do Centro Turístico Rei Ricardo III, Emma Lay.

O local foi inaugurado pouco depois do esqueleto ter sido encontrado. Durante o processo de identificação, torcedores do Leicester e até os donos do clube fizeram doações para que os festejos para o funeral do rei fosse grandioso e compensasse o tempo de esquecimento.