A Lei de Moore, se você não conhece, é aquela que diz que o número de transistores em circuitos integrados dobra a cada dois anos.

Mais transistores, mais velocidade nos computadores, mais eficiência, melhor performance e por aí vai.

A Lei de Moore tem infinitas aplicações, por exemplo, no planejamento de investimentos futuros em tecnologia.

A partir desse princípio, criei uma lei que se aplica ao Brasil moderno.

Vou chamá-la, e peço que os senhores divulguem, de “Lei de Neto”.

Meu objetivo é conseguir entrar com esse verbete na Wikipedia e me eternizar como o brasileiro que equacionou a condição retrógrada do desenvolvimento do país.

Vejamos a fórmula. (Na verdade não entendo patavina de matemática. Só usei essa fórmula para impressionar os leitores que também não entendem nada).

Onde:
L = Lei de Moore
N = Lei de Neto
B = Evolução do Brasil
E = Evolução tecnológica
y = Anos
L = E*y = E*2

Conclue-se que:
N = B = L/2

Obrigado.

Pode voltar a sentar e parar de aplaudir.

Oi? Parece que a pessoa ali na segunda fila não entendeu.

Explico: no Brasil, a evolução é inversamente proporcional à evolução da tecnologia mundial, percebe?

Dizer que o Brasil é uma ilha de atraso é um clichê.

Exatamente por isso é uma verdade.

Uma ilha isolada do mundo moderno.

Estamos presos num Dia da Marmota tecnológico.

É tanto lobby, tanta proteção de mercado, que vivemos, provavelmente, uma década atrás do mundo lá fora.

E só vai piorar, segundo a Lei de Neto (estou repetindo “Lei de Neto” para ver se pega).

A Lei de Neto se reflete nos mínimos detalhes do nosso cotidiano.

Quer ver?

Carta (ou carteira, dependendo do Estado) de Motorista.

Nos EUA, você vai com seu carro tirar. Se for hidramático, não tem nenhum problema.

Afinal, câmbio manual é coisa do século passado.

Ou do Brasil.

Aqui você tem que submeter a aprender a dirigir carroças.

Quer outro exemplo?

Comprei uma porcaria de um adesivo no Japão.

Coisa de 10 dólares. Adesivinho colorido à toa.

Em uma semana estava no Brasil, informaram por email.

Está retido na polícia federal por mais de trinta dias.

Não. Não é um engano ou um mal-entendido.

É a terceira vez que compro, a terceira vez que fica lá parado.

Imagine o custo que pagamos ao nos preocupar com malditos 10 dólares.

Computadores, telefones celulares, geladeiras, televisores, tudo que você quiser comprar no exterior custa o preço de um rim de segunda mão.

Uma maldição dos anos do governo militar.

Do Brasil ame-o ou deixe-o.

E quem pode, optou por deixar.

Estamos perdendo brasileiros aos montes.

Brasileiros endinheirados, que ajudariam a rodar as engrenagens econômicas.

Sei que estou sendo fútil.

Sei que estou usando apenas exemplos elitistas.

Eletrodomésticos, carros e meu adesivo japonês.

Se o faço, é por que tenho até medo de entrar nas questões mais populares, como saneamento, educação, agropecuária e saúde.

Mas vamos lá. Perdemos grandes talentos jovens para universidades no exterior.

Quanto poderíamos avançar como nação se o Estado permitisse acesso ao que o mundo tem de melhor?

Para mim chega.

Cansei de viver com a sucata do mundo.

Por isso, criei a Lei de Neto.

Assim, posso usar nosso atraso para me tornar, quem sabe, um sociólogo famoso e dar palestras.

No exterior, claro.