A líder da extrema direita francesa Marine Le Pen acusou o presidente Emmanuel Macron de “sacrificar milhares de pecuaristas” com o acordo de livre-comércio em negociação entre a União Europeia (UE) e o Mercosul.

Macron “assina a sentença de morte do setor de carne bovina ao apoiar as negociações do acordo de livre-comércio entre a UE e o Mercosul”, declarou a presidente da Frente Nacional (FN) em um comunicado divulgado na quinta-feira (22).

Le Pen denunciou as “promessas vazias” de Macron, que recebeu ontem no Palácio do Eliseu um grupo de cerca de 700 agricultores, preocupados com o impacto do acordo, em especial no setor de carne bovina.

Para a líder da extrema direita, Macron “faz pouco caso da saúde dos franceses, cujos pratos estarão em breve expostos aos riscos sanitários de agências de certificação brasileiras notoriamente corruptas, que não hesitaram, no ano passado, a autorizar a exportação para a UE de milhares de toneladas de carne adulterada”.

UE e Mercosul (bloco formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) retomaram esta semana, em Assunção, as discussões para um tratado de livre-comércio que está em negociação há quase duas décadas. Esta nova rodada pode terminar no início de março com um anúncio sobre um acordo.

Até agora, um dos maiores obstáculos para sua assinatura é a abertura do mercado europeu para a carne do bloco sul-americano, sobretudo, na França, onde os agricultores olham com receio o ingresso de carne tratada com hormônios, sem rastreamento completo de sua cadeia de fornecedores.

Ontem, Macron prometeu aos agricultores e pecuaristas franceses que “nunca haverá carne tratada com hormônios na França”.

“Não reduziremos nossos padrões de qualidade, sociais, ambientais, ou sanitários nesta negociação”, acrescentou o presidente da França, um dos países que mais resistiu, até agora, ao acordo bilateral.

Além das normas sanitárias, os pecuaristas franceses temem a entrada de milhares de toneladas de carne sul-americana a preços mais competitivos, o que pode desequilibrar o mercado nacional.

Segundo cálculos do maior sindicato agrícola francês FNSEA, entre 20.000 e 25.000 propriedades podem desaparecer no país, se a UE firmar um acordo com o Mercosul.