A Rússia está disposta a trabalhar para “salvar” o Tratado sobre Armas Nucleares de Médio Alcance (INF, Intermediate-Range Nuclear Forces Treaty) firmado na Guerra Fria, do qual Washington ameaçou se retirar – declarou o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, nesta quarta-feira (16).

“Estamos, como sempre, prontos para trabalhar para salvar o tratado”, disse ele em sua entrevista coletiva anual, pedindo aos países europeus que apoiem Moscou nas negociações.

“Espero que os países europeus, que talvez tenham mais interesse nisso do que qualquer outro, façam o necessário para não ficarem presos à posição americana (…) e tentem obrigar Washington a ter uma posição mais responsável”, acrescentou.

Na terça-feira, delegações da Rússia e dos Estados Unidos se reuniram em Genebra para tratar do Tratado INF, mas sem chegar a um acordo.

Washington acusa Moscou de violar este tratado da Guerra Fria. No início de dezembro, os americanos deram aos russos um prazo de 60 dias para que se atenham às suas obrigações.

A Rússia nega essas afirmações “sem fundamento” e acusa Washington de violar o tratado. Segundo Lavrov, os Estados Unidos não demonstraram até o momento intenção de chegar a um acordo com Moscou.

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Na terça-feira, ao fim da reunião de Genebra, a subsecretária de Estado americana para assuntos de segurança internacional, Andrea Thompson, que liderou a delegação dos Estados Unidos, acusou a Rússia de “violação flagrante” do acordo.

Já o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Riabkov, acusou os Estados Unidos de serem “completamente” responsáveis por uma eventual ruptura do tratado, acrescentando que a Rússia faz propostas para evitar isso.

– Mísseis 9M729 –

“Aproveitamos as consultas para propor à parte americana uma série de medidas concretas sobre os mísseis 9M729 que permitiriam afastar qualquer suspeita de não conformidade com este tratado”, declarou Riabkov, citado pela imprensa russa.

Segundo a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e os Estados Unidos, o que não se enquadra no INF é o novo sistema de mísseis.

O tratado INF foi firmado em 1987 pelo último líder da então URSS, Mikhail Gorbachov, e pelo então presidente americano, Ronald Reagan.

O texto, que suprime o uso de toda uma série de mísseis com alcance entre 500 e 5.000 quilômetros, pôs fim à crise deflagrada nos anos 1980 com o envio dos SS-20 soviéticos com ogivas nucleares à Europa Oriental, e mísseis americanos Pershing no lado ocidental.

De acordo com Lavrov, a intransigência da posição americana representa riscos para a segurança no mundo. Ele acrescentou que isso se deve à incapacidade do Ocidente de aceitar “a realidade de um mundo multipolar emergente” e a seu desejo de impor sua vontade à comunidade internacional.

Estas declarações estão em linha com as posições do presidente Vladimir Putin, que, em uma visita à Sérvia, deu uma entrevista garantindo que está “aberto à continuação do diálogo sobre maneiras de preservar” o tratado INF.

Putin também acusou os Estados Unidos de quererem “desmantelar o sistema de acordos internacionais de controle de armas”, alertando para “as consequências dessa política”.

Após o anúncio de Washington em dezembro, Putin alertou sobre o retorno de uma corrida armamentista e prometeu que a Rússia desenvolverá novos mísseis, se os Estados Unidos desistirem do acordo.


O presidente russo também propôs a inclusão de novos países no tratado INF, assinado e aplicado apenas por Estados Unidos e Rússia. Um convite velado à China, que se dotou de mísseis, cujo desenvolvimento é proibido aos dois países que assinaram o INF.


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