O carcereiro juntou todos os presos da Lava Jato no pátio principal.
– Atenção, pessoal, eu vou começar a distribuir a ala de
cada um.
O protesto foi geral.
– Ala? Que ala? Vamos mudar de ala? – perguntaram irritados.
O carcereiro consulta o bloco de anotações:
– Ala do desfile, pô! Alguns podem escolher: ala dos corruptos, dos políticos ou dos delatores premiados.
– Não vamos desfilar em ala nenhuma! – alguém gritou.
– Opa se vão! Não tem essa não. Ordens do dr. Moro. Quer ver todo mundo na Sapucaí.
Fato é que desde que uma Escola de Samba decidiu que o tema do carnaval seria uma homenagem ao juiz Moro, o homem mal conseguia dormir.
Modesto, humilde e reservado, carnaval era seu ponto fraco.
Em Curitiba, venceu uma infinidade de desfiles, com fantasias sempre inspiradas nos heróis da Marvel.
Seu Iron Man virou lenda, adaptado de um Monza 85.
– Pensa Dalla…tema de Escola de Samba…é entrar para a história! – confessou orgulhoso ao Dallagnol no churrasco mensal do Ministério Público.
Diligente, pôs-se a trabalhar.
Improvisou uma sala para o carnavalesco, ao lado da sua.
Se envolvia em cada detalhe.
A “Comissão Parlamentar de Frente” era uma importante decisão porque daria o tom do resto do desfile.
Fecharam com Renan Calheiros e Eduardo Cunha no meio e o japonês e o hipster da Federal nas pontas.
Moro aprovou um indulto que permitia aos milhares de presos participarem do desfile.
Para garantir a animação, prometeu tirar um ano da pena do folião que se destacasse.
Batizou a operação de “Ostentação Premiada”.
A medida era deslavadamente inconstitucional.
A OAB ameaçou recorrer.
Mas, quando Moro dobrou o tamanho da ala “Consulte Sempre Um Advogado”, relevaram.
Depois vinha a ala “Lavagem de Dinheiro” com a cachoeira de dólares e o Youssef num carro alegórico simulando um paraíso fiscal.
Rui Falcão e Jaques Wagner, como sempre, não estavam conseguindo convencer Lula.
– Ele topa mestre-sala se a gente convencer a Dilma a ser porta-bandeira. – admitiu Falcão.
– Nunca! – gritou Moro. – A porta-bandeira é a Carmen Lúcia e o mestre-sala é o Janot. Está decidido.
A ala “Prisão Domiciliar” era a única aberta ao público que aceitava os vinte mil reais da fantasia. É que as tornozeleiras que estavam em falta seriam usadas depois por presos de verdade.
Esgotou em dois minutos pelo site adoteumpreso.com.br.
A ala “Supremo” estava completa, chic, com todos os ministros confirmados.
O destaque é a Globeleza, de olhos vendados, balança na mão e toga sumária.
Já a ala “Foro Privilegiado” estava a ponto de ser cancelada, só com o Moreira Franco.
– Bloco do eu sozinho não, né gente? – gritou o carnavalesco histérico.
Mas faltava ainda o mais importante.
O samba enredo.
Moro exigia que pensassem fora da caixa.
Um compositor inusitado, um notável.
Fizeram uma reunião com a diretoria da escola.
Diversos nomes foram lembrados.
Sambistas consagrados, a velha guarda, nada.
A madrugada já ia longe quando o carnavalesco gritou:
– Gente! gente!, me veio um nome agora!! Que tal o Chico Buarque, hein, hein?!
Foi demitido na hora.

– Pensa Dalla…tema de Escola de Samba…é entrar para a história! – confessou orgulhoso ao Dallagnol no churrasco mensal do Ministério Público