16/02/2017 - 11:09
A Odebrecht não é a única empreiteira brasileira investigada por corrupção fora do Brasil, em decorrência das descobertas da Operação Lava Jato. O congressista Christian Viteri López, do Equador, pediu para a Justiça brasileira as delações de Roberto Trombeta, contador do caixa 2 da OAS, em que ele relata a movimentação de dinheiro ilegal da empreiteira no Equador e no Peru.
O membro da Assembleia Nacional Equatoriana solicitou ao juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal, em Curitiba – responsável pelos processos da Lava Jato, em primeira instância – cópias das delações de Trombeta.
“A presente solicitação se dá pelo motivo de que o senhor Roberto Trombeta, em um trecho de sua colaboração, cita atividades ilícitas ocorridas no Equador”, escreve o advogado Rafael Paes Cavassin, constituído no Brasil para representar o congressista.
Trombeta prestou depoimento como delator em junho de 2015. Afirmou ter lavado R$ 28 milhões em dinheiro ilegal para a OAS no Brasil, abrindo empresas offshores, fazendo falsos contratos e fornecendo dinheiro vivo na sede da empresa.
Um dos termos da colaboração, trata também de sua atuação no exterior, para movimentação de dinheiro da OAS no Peru e no Equador e relacionados a negócios no Chile e na Espanha. Ele teria movimentado US$ 14,67 milhões nesses negócios.
Falsos contratos
Na delação, ele contou que foi contratado em 2012 para “prestar serviço de consultoria no exterior” para a OAS e que cuidou de uma offshore aberta no Panamá para movimentar dinheiro de unidades da empreiteira no Peru e Equador.
“Foi procurado pela OAS através da sua empresa Hedge Consultoria e apresentado a dois consultores uruguaios de nome Fernando Belhot e Marcelo Chakiyan ambos da empresa BGL Assessores Legales e Fiscales”, registra seu termo de delação número 2.
Estes consultores juntamente com profissionais da OAS apresentaram algumas estruturas de trabalha para fins de retirar recursos da subsidiárias da OAS no Peru e Equador”, contou Trombeta.
Na versão do delator, ele assumiu o controle da Kingsfield Consulting Corp, que foi “usada como canal de recebimentos de valores decorrentes do trabalho efetuado no Chile e na Espanha envolvendo as subsidiárias da OAS no Peru e Equador”.
Peru
No caso da movimentação de dinheiro para a unidade da OAS do Peru, Trombeta contou foi feito um contrato de “serviços fictícios de consultoria técnica” com empresa sediada no Chile, a Constructora Andreu Limitada, pelo valor de US$ 6,15 milhões – pagos na conta da firma chilena.
“Esta sociedade chilena transferiu esses recursos a uma sociedade espanhola denominada DSC Workshop Obras Construcciones e Promociones SL, que recebeu US$ 5.996.250,00.”
O dinheiro teria ainda transitado por conta de uma empresa holandesa até chegar na conta da Kingsfield. “Em conta bancária no BPA, com sede em Andorra que recebeu um total de US$ 5.760.250,00”, detalhou o delator. Os valores foram depositados em três vezes entre 8 de novembro de 2012 e 12 de fevereiro de 2013.
O Peru é um dos países como investigações decorrentes da Lava Jato em fase mais avançada. A delação da Odebrecht resultou numa ordem de prisão preventiva contra o ex-presidente Alejandro Toledo. Ele teria recebido cerca de US$ 20 milhões para facilitar a aprovação da construção da rodovia Transoceânica, que liga o norte do Brasil à costa peruana, enquanto estava no governo de 2001 a 2006. As investigações atingem também o presidente Ollanta Humala.
A Lava Jato chegou a 38 países, não só dá América Latina, mas também na Europa e Ásia.
Equador
No caso do Equador, que mais interessa ao congressista López, o delator afirmou que movimentou US$ 9,1 milhões em 2012, que passaram também pelas contas da offshore espanhola DSC Workshop – do caso do Peru -, de empresa holandesa, até chegar na conta em Andorra, da Kingsfield.
Segundo Trombeta, essa conta chegou a receber US$ 14 milhões das subsidiárias da OAS. Desse montante, o delator disse que por ordem da empreiteira repassou US$ 8 milhões para conta indicada pelo doleiro Alberto Youssef – peça central da Lava Jato – na Suíça.
São esses relatos que interessam ao congressista equatoriano. As autoridades do Equador integram o grupo que compartilha documentos com a Lava Jato no Brasil.
“Desta forma, para que seja apurados os fatos narrados e consequentemente a responsabilização dos envolvidos por parte do Equador, que solicita a integra da presente colaboração, assim sendo, contamos com o apoio do e a compreensão por parte deste douto juízo”, destaca o pedido do congressista, datado de 8 de fevereiro.