12/04/2021 - 17:30
O presidente eleito e ex-banqueiro Guillermo Lasso anunciou nesta segunda-feira (12) uma “verdadeira mudança” no Equador, após colocar fim a uma era da esquerda no poder, marcada pela hoje derrotada figura do ex-presidente socialista Rafael Correa.
O líder de direita, de 65 anos, consolida sua vitória sobre Andrés Arauz, herdeiro político de Correa, enquanto a apuração do segundo turno, realizado no domingo, se aproxima dos 100%.
Conservador do Opus Dei, Lasso obteve 52,5% dos votos contra 47,4% do adversário, com 97% das urnas apuradas, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE). O voto nulo promovido pelos indígenas alcança 16%, um avanço considerável em relação aos 9,55% do primeiro turno e aos 7% nas eleições presidenciais de 2017.
“Começa uma nova etapa para o Equador, na qual todas e todos podemos viver melhor. A democracia, a liberdade e as famílias equatorianas venceram”, publicou Lasso no Twitter.
O ex-banqueiro, que conseguiu aglutinar o voto anticorreísta sob as bandeiras da direita, proclamou-se o governante eleito no domingo quase ao mesmo tempo em que Arauz aceitou a derrota.
Apesar das restrições devido à pandemia, houve explosões de comemoração nas cidades de Quito e Guayaquil. Caravanas de veículos percorreram as ruas buzinando e agitando a bandeira do Equador.
O pequeno país petrolífero recebeu a vitória de Lasso sem protestos ao final de uma dura campanha que girou em torno de Correa, que apesar de estar fora do Equador e com o governo contra ele, conseguiu colocar no segundo turno seu jovem e desconhecido apadrinhado de 36 anos.
O ex-presidente, que se instalou na Bélgica após terminar seu mandato (2007-2017), aceitou que errou nas suas “projeções”, desejou sucesso ao novo governo e pediu o fim da “lawfare”, a perseguição política da qual se sente vítima depois de ter sido condenada à revelia por corrupção.
Lasso teve sua revanche após perder para a esquerda socialista em 2013 e 2017. “Trabalharemos juntos a partir de agora por uma verdadeira mudança. Hoje amanhecemos em paz e com a certeza de que dias melhores virão para todos. Serei o presidente dos 17 milhões de equatorianos”, disse Lasso também no Twitter.
– Sob pressão –
Depois de seu discurso de vitória, realizado na véspera em Guayaquil, núcleo econômico do país e sua cidade natal, Lasso foi às redes para agradecer as saudações ao seu triunfo que vieram do Chile, Colômbia, Brasil, Espanha, Estados Unidos, FMI e União Europeia, entre outros.
O presidente eleito assumirá as rédeas de um país em crise a partir de 24 de maio. Ele será o sucesso do impopular Lenín Moreno, que rompeu com Correa assim que assumiu o poder, há quatro anos. Lasso terá que lidar sobretudo com o desastre econômico causado pela covid-19.
Com mais de 17 mil mortes em pouco mais de um ano de pandemia, o Equador registrou em 2020 uma queda de 7,8% no Produto Interno Bruto (PIB) e também arrasta uma dívida pública que representa 63% do PIB.
Lasso não terá maioria no Congresso e será obrigado a negociar com o Pachakutik, partido indígena que ficou em segundo lugar nas legislativas de fevereiro, atrás apenas da União pela Esperança (Unes), o movimento de Arauz. O partido Criando Oportunidades (Creo), do futuro presidente, terá uma representação parlamentar mínima.
“Aspirar a transformar o Equador em quatro anos, isso não é possível”, afirmou à AFP nesta segunda Esteban Nichols, cientista político da Universidade Andina Simón Bolívar.
Para ele, o próximo governo poderá se considerar bem servido se fizer um “bom plano de vacinação” e conseguir “estabilizar a economia”. Lasso prometeu imunizar nove milhões de equatorianos nos primeiros 100 dias de seu governo e impulsionar o livre comércio para criar mais empregos. Até o momento, apenas 183 mil pessoas foram vacinadas.
– O declínio correísta? –
Em suas primeiras palavras como presidente eleito, Lasso ofereceu paz, repetidamente citou Deus e reforçou sua mensagem de proteção à família e contra a discriminação das minorias sexuais.
“Não chego com uma lista de quem quero perseguir ou ver na prisão. Quero ver todos os equatorianos livres, que não tenham medo do governo (…), que expressem suas opiniões com liberdade”, declarou.
Implicitamente, ele queria tranquilizar seus opositores correístas que, sob o governo de Moreno, foram indiciados e alguns até presos por corrupção, enquanto outros se autoexilaram por causa de uma caça às bruxas.
Nesta segunda-feira, o perdedor das eleições voltou a apelar por uma “reconciliação”. “A perseguição política deve acabar, devemos tratar uns aos outros como adversários e não como inimigos”, escreveu Arauz no Twitter.
A verdade é que, na opinião dos analistas, o correísmo foi “muito atingido” e seu líder não teve chance de retorno. “Se Rafael Correa não estiver aqui, o correísmo vai se dissolver?”, questionou Paolo Moncagatta, cientista político da Universidade San Francisco de Quito.