Não roubarás. Nem a Igreja escapa desse pecado. Na semana passada, o Ministério Público de Goiás deflagrou a operação Caifás e conseguiu desarticular uma verdadeira quadrilha de religiosos que se instalou na diocese de Formosa, no interior do estado, desviando mais de R$ 1 milhão nos últimos dois anos. Caifás, segundo o Novo Testamento, era sumo sacerdote quando Jesus foi condenado a morrer na cruz. Ele teria considerado Cristo culpado e o entregado para Pilatos. O MP decidiu dar o nome à operação em referência ao sacerdote traidor. Ao todo nove pessoas foram presas, incluindo o bispo de Formosa, dom José Ronaldo Ribeiro; que comandava o esquema, e os padres Moacyr Santana, Mário Vieira de Brito, Tiago Wenceslau de Barros Barbosa Júnior e Waldson José de Melo. Além disso, foram cumpridos 13 mandados de busca e apreensão nas cidades de Formosa, Posse e Planaltina.

ESQUEMA CRIMINOSO
Os fiéis davam dízimos, faziam doações, pagavam taxas como de batismo e casamento e contribuíam com festas. Os religiosos roubavam os valores e aplicavam em fazendas, carros, relógios e até numa lotérica. Só na casa de um padre foram achados R$ 70 mil no fundo falso de um armário.

 

O dinheiro roubado era dado pelos fiéis por meio de dízimos, de doações, de taxas como batismo e casamento, e de arrecadações feitas em festas. Entre o material apreendido na operação estão documentos, notas promissórias, computadores, joias, relógios, máquinas fotográficas e dinheiro. De acordo com o MP, só na casa de um padre de Planaltina foi achada uma quantia de cerca de R$ 70 mil que estava no fundo falso de um armário. Segundo a promotora Fernanda Balbinot, durante as investigações foram ouvidos padres que não tinham participação no esquema e que relataram que ficaram até doentes por conta da opressão que sofriam. Eles declararam que sofriam ameaças de exclusão da diocese se denunciassem algo. Os desvios começaram a acontecer em 2015, assim que o bispo José Ronaldo assumiu a diocese. Segundo o MP, entre os bens que foram comprados com o dinheiro dos fiéis estão fazendas, carros e uma casa lotérica. “Os padres que foram presos estavam em funções estratégicas em paróquias com maior arrecadação. Verificou-se que eles estavam associados com a prática desses delitos”, disse a promotora.

Investigações internas

Segundo o MP, os religiosos se apropriavam do valor em espécie e era feita “vista grossa” para as ações mesmo quando altas quantias em dinheiro simplesmente sumiam. No momento que fiéis começaram a desconfiar, o bispo pediu ajuda do padre Tiago, que funcionava como um verdadeiro braço direito dele no esquema. Dizendo para os fiéis que ele iria ajudar nas investigações internas das irregularidades, ele ajudava a encobrir qualquer nova denúncia. Depois de uma reunião realizada no dia 21 de dezembro, por exemplo, um padre que teve uma postura contrária ao que estava acontecendo foi transferido por um ato do bispo para uma paróquia longínqua no interior goiano. Um representante da diocese que pediu para ter sua identidade preservada afirmou que ele e todos os membros “ainda estão em choque” com as revelações feitas pelo MP. Mesmo assim, ele afirmou que ainda não é possível ter certeza das acusações contra os suspeitos. “Não podemos tomar partido. No momento, ainda não sabemos de nada porque o Ministério Público ainda não chegou à finalização do processo”, afirmou.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Depois do escândalo, o papa Francisco nomeou um interventor para a Diocese de Formosa, formada por 33 igrejas de 20 paróquias. O nome escolhido foi o do arcebispo de Uberaba (MG), dom Paulo Mendes. O MP começou a coletar depoimentos dos presos na terça-feira (20) e já foram ouvidos seis suspeitos. Todos eles, segundo a promotora, negam a participação nos crimes. A expectativa é de oferecer a denúncia até o final desta semana. O prazo das prisões temporárias dos suspeitos é de cinco dias. “Nossa intenção é apresentar a denúncia antes de se extinguir o prazo das prisões. Já temos a prova da existência dos crimes e da autoria”, afirmou Fernanda.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias