O Kremlin negou nesta sexta-feira (25/08) rumores de que estaria por trás da queda do avião do líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, em meio a suspeitas de que o regime do presidente Vladimir Putin teria ordenado assassinar o oligarca e chefe mercenário.

Segundo a versão oficial difundida na Rússia, Prigozhin teria morrido na queda da aeronave, há dois dias.

“Há muita especulação em torno da queda do avião e da morte trágica dos passageiros, incluindo Yevgeny Prigozhin” disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. “Claro que, no Ocidente, essa especulação é apresentada por um certo ângulo. Tudo isso é absolutamente mentira”, assegurou.

A queda do avião ocorreu exatamente dois meses após o motim do grupo Wagner contra a cúpula militar em Moscou, um episódio considerado como a maior ameaça já ocorrida nos 23 anos do regime liderado por Putin.

O avião caiu na quarta-feira logo após decolar de Moscou rumo a São Petersburgo. Prigozhin e outros seis membros do grupo Wagner, além de três tripulantes, estavam a bordo, informou a autoridade russa de aviação. As equipes de resgate encontraram dez corpos.

Na lista de passageiros também estava o segundo membro mais alto do comando do Wagner, além do chefe de logística e ao menos um guarda-costas. Não está claro o motivo pelo qual vários membros do alto escalão do grupo – que normalmente são extremamente cuidadosos com sua segurança – estavam no mesmo avião. A razão da viagem também não está clara.

Homenagens de Putin

Nesta quinta-feira. Prigozhin, de 62 anos, foi homenageado por Putin, enquanto crescem as suspeitas de que ele tenha sido assassinado e que o Kremlin estaria por trás da morte.

Depois de quase 24 horas de silêncio, Putin ofereceu suas “sinceras condolências às famílias de todas as vítimas” do acidente. Ele disse que conhecia Prigozhin desde os anos 1990 e o descreveu como alguém que “cometeu muitos erros em sua vida, mas atingiu os resultados de que precisava, tanto para si mesmo […] quanto para a nossa causa. Ela um homem de talento, um empresário de talento”.

O líder russo disse que os passageiros do avião acidentado “tiveram contribuição significativa” na guerra na Ucrânia. “Nos lembraremos disso, sabemos que jamais iremos esquecer”, disse Putin.

Ao ser perguntado se havia recebido alguma confirmação oficial sobre a morte de Prigozhin, o porta-voz Peskov se referiu a uma fala de Putin no dia anterior. “Ele disse que agora, toda a análise forense, incluindo os testes genéticos, estão sendo realizadas. Logo que as conclusões oficiais estejam prontas para serem divulgadas, elas serão.”

Peskov disse não saber se Putin irá ao funeral do líder paramilitar. Ele disse que, em primeiro lugar, uma investigação exaustiva deve ser concluída. “A agenda de trabalho do presidente anda muito ocupada no momento.”

Os mercenários do grupo Wagner vinham sendo fundamentais na estratégia de guerra russa na Ucrânia, especialmente na longa batalha por Bakhmut, um dos episódios mais dramáticos do conflito. Os soldados também tiveram papel centra ao projetar a influência russa em locais de conflito em outras partes do mundo, como na África e na Síria.

“Quanto ao futuro [do grupo Wagner], não posso lhes dizer nada. Eu não sei”, disse Peskov.

Vários críticos de Putin foram mortos ou gravemente feridos em aparentes tentativas de assassinato nas últimas décadas. Autoridades dos EUA e de outros países já aguardavam a vez de Prigozhin, apesar das promessas de Moscou de retirar processos na Justiça contra ele após o motim de junho.

Prigozhin criticava abertamente a forma como os generais russos ligados a Putin conduzem a guerra na Ucrânia. Durante muito tempo, Putin parecia tolerar a postura do paramilitar, mas o levante de dois meses atrás teria passado dos limites.

Especulações no Ocidente

O Ministério da Defesa do Reino Unido disse nesta sexta feira que a suposta morte de Pregozhin poderia desestabilizar o Grupo Wagner. “Seus atributos pessoais de hiperatividade, excepcional audácia, um ímpeto por resultados e extrema brutalidade dificilmente seriam igualados por um sucessor”, disse a pasta, em nota.

Um relatório preliminar da inteligência dos EUA concluiu que o avião teria sido derrubado por uma explosão intencional. Uma das autoridades americanas por trás do documento afirmou que Prigozhin teria “muito provavelmente” sido o alvo, e que a explosão estaria em linha com “uma longa história de Putin tentando silenciar seus críticos”.

As autoridades, que falaram à imprensa na condição de anonimidade, não informaram sobre as possíveis causas da explosão, vista por muitos como uma vingança pelo levante do grupo Wagner há dois meses.

Logo após a queda do avião, o presidente dos EUA, Joe Biden, sinalizou suspeitas de que Putin estaria por trás da morte do paramilitar. “Não sei exatamente o que aconteceu, mas não estou surpreso”, disse a jornalistas. “Não há muito o que aconteça na Rússia que Putin não esteja por trás.”

(AP, Reuters)