Lágrimas de alegria ou de humilhação: albaneses e sérvios do Kosovo mantêm uma lembrança viva de 12 de junho de 1999, quando as tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) começaram a se mobilizar, pondo fim à guerra.
Consequência da resolução 1244 da ONU votada dois dias antes e que colocava Kosovo sob proteção internacional, esse envio militar marcou o fim da última guerra intercomunitária na antiga Iugoslávia.
Amanhã (12), celebra-se seu 20º aniversário.
Opondo desde 1998 as forças sérvias e uma guerrilha separatista kosovar-albanesa, esse conflito custou a vida de mais de 13.000 pessoas (além de 11.000 albaneses, 2.000 sérvios e algumas centenas de ciganos), no momento em que mais de 800.000 kosovar-albaneses lotavam campos de refugiados.
Menos de quatro anos depois do fim das guerras da Bósnia e da Croácia, as atrocidades contra os civis e a limpeza étnica deflagraram uma campanha de bombardeio do Ocidente, durante três meses e sem mandato da ONU.
O homem forte de Belgrado, Slobodan Milosevic, finalmente jogou a toalha e determinou a retirada de suas tropas desta província de maioria albanesa, mas que os sérvios continuam considerando como seu berço histórico e religioso.
– “Explosão de emoções” –
Desde então, a desconfiança sérvia é forte, e a popularidade dos ocidentais, em especial os americanos, é enorme entre os kosovar-albaneses.
Nesta quarta-feira, essa gratidão deverá ser mais uma vez expressa ao ex-presidente americano Bill Clinton e a sua então secretária de Estado Madeleine Albright, que estarão presentes nas cerimônias em Pristina.
A cantora Shpresa Gashi, de 68 anos, conta à AFP como ela soube da notícia da entrada das forças da Otan em um campo de refugiados.
“Tinha alegria, uma explosão de emoções”, recorda-se. “Foi a primeira vez que eu vi alegria entre os refugiados do Kosovo”, completou.
Edita Brajshori, uma cabeleireira de 40 anos, fala do “dia mais bonito” de sua vida e da música albanesa saindo das janelas, após anos de uma repressão que também era cultural.
“Um dia magnífico, sem nenhum uniforme sérvio em Pristina”, completou Esat Rexhepi, de 70, que pôs “seu mais belo terno e uma gravata” para receber as tropas ocidentais.
– Retornos e exílios –
Para os sérvios do Kosovo, instalados lá há séculos, este 12 de junho é um dia amargo e de medo, mas também de exílio. Segundo os números de Belgrado, 200.000 sérvios devem ter escolhido deixar Kosovo para se refugiar na Sérvia.
“Eu chorava… Eu olhava nosso Exército ir embora e estrangeiros chegando”, afirmou Dobrosav Jakovljevic, um aposentado de 73 anos.
Para ele, “Milosevic é o culpado por tudo isso”, mas “os albaneses conseguiram tudo que eles queriam, enquanto nós perdemos tudo”.
O pai de Jelena Krivokapic, uma economista de 43 anos, pediu-lhe para não sair de Mitrovica, no norte, até avaliar a situação: “Vi pela janela a saída das tropas sérvias”, relembra ela.
Slavisa Jokic, de 45, que fugiu para Pec (sul), também tem lembranças ruins: “As pessoas estavam sendo mortas à plena luz do dia sem que eles (a Otan) mexessem uma palha”.
Sem a interposição das tropas sérvias, porém, sobretudo, durante os conflitos de 2004 na cidade partida de Mitrovica, “não restaria nenhum sérvio”, afirma Dobrosav Jakovljevic.
Segundo estimativas de Belgrado, cerca de 120.000 sérvios vivem hoje no Kosovo, um terço no norte, e os outros, em alguns enclaves espalhados.
Para Djordje Jovanovic, um professor de 46 anos de Mitrovica, a presença dos cerca de 4.000 soldados da Kfor até hoje continua sendo indispensável: “Se eles não estivessem aí, teria tido uma outra guerra aqui”.
As relações permanecem deterioradas entre Pristina e Belgrado, que não reconhece a independência proclamada em 2008 por sua ex-província.