O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decretou vitória em primeira instância de Klara Castanho em um processo por danos morais contra a apresentadora Antonia Fontenelle na última sexta-feira, 23. A informação foi confirmada ao Estadão pela assessoria da atriz. O processo refere-se a exposição e falas de Fontenelle depois de Klara ter revelado, em 2022, que tinha sido vítima de um estupro.

Ao Estadão, o advogado da apresentadora disse vai recorrer da decisão. O TJRJ disse que não pode dar mais detalhes pois o caso está em segredo de justiça.

Entenda o caso

Klara Castanho revelou em uma carta aberta em junho de 2022 que gerou um bebê após um estupro. No relato, a jovem explicou que a gravidez aconteceu após um crime e que ela só descobriu que esperava uma criança no final da gestação, e por isso, optou por dar o bebê à adoção.

“Esse é o relato mais difícil da minha vida. Pensei que levaria essa dor e esse peso somente comigo. Sempre mantive a minha vida afetiva privada, assim, expô-la dessa maneira é algo que me apavora e remexe dores profundas e recentes. No entanto, não posso silenciar ao ver pessoas conspirando e criando versões sobre uma violência repulsiva e de um trauma que sofri. Fui estuprada”, comenta a atriz na carta, publicada em seu Instagram.

A atriz disse na carta que tomou todas as precauções médicas após sofrer o abuso sexual. Ela realizou exames e tomou a pílula do dia seguinte. Não teve mudanças físicas e hormonais.

Alguns meses depois, quase no término da gestação, ela começou a passar mal e descobriu que estava grávida.

“Foi um choque. Meu mundo caiu. Meu ciclo menstrual estava normal, meu corpo também. Não tinha ganhado peso e nem barriga. Eu ainda estava tentando juntar os cacos quando tive que lidar com a informação de ter um bebê. Um bebê fruto de uma violência que me destruiu como mulher”, escreveu na publicação, ao revelar ainda que o profissional que a atendeu não teve nenhuma empatia pela situação vivida por ela.

Seguindo todas as etapas obrigatórias, em processo sigiloso, ela tomou a decisão de entregar a criança para adoção. “Eu não tinha (e não tenho) condições emocionais de dar para essa criança o amor, o cuidado e tudo o que ela merece ter”, explicou. “Vocês não têm noção da dor que eu sinto. Tudo o que fiz foi pensando em resguardar a vida e o futuro da criança. Cada passo está documentado e de acordo com a lei”, acrescentou ela.

No dia do parto, Klara disse ainda que uma enfermeira a questionou. “Imagina se tal colunista descobre essa história?”, destacou na publicação. Ao chegar no quarto, ela já havia recebido mensagens do colunista, o qual não citou o nome. “Eu conversei com ele, expliquei tudo o que tinha me acontecido. Ele prometeu não publicar”, disse.

A carta foi publicada após rumores surgirem quando Antonia Fontenelle disse em uma live que “uma atriz global de 21 anos teria engravidado e doado a criança para adoção”. Após a carta, a youtuber e pré-candidata a deputada federal pelo Rio de Janeiro questionou.

“Eu gostaria de saber porque estão tão revoltados comigo, me atacando por eu ter tido a coragem de mencionar uma história que ao meu ver é monstruosa, porém virou banal. (…) Como diz o próprio @leodias as pessoas não ficam indignadas com a notícia e sim com o carteiro, me poupem. Se eu soube disso foi através dele, agora cobrem dele, e se ele não quer falar, também é um direito dele.”

O colunista Leo Dias publicou um texto chamado “Estupro, gravidez indesejada e adoção: a verdade sobre Klara Castanho” que foi apagado após pressão de internautas. A editora-chefe do portal Metrópoles, Lilian Tahan, afirmou que “Expusemos de forma inaceitável os dados de uma mulher vítima de violência brutal. A matéria foi retirada do ar.”

Em entrevista ao humorista Danilo Gentili, exibida no dia 16 de junho do ano passado, Leo Dias disse que viveu um dilema recentemente. “É coisa inacreditável, coisa da sociedade se questionar muitas vezes, mas envolve uma atriz”. O colunista afirmou que a atriz, sem citar o nome de Klara, teria um “carma grande”.

Conselho de Enfermagem nega vazamento de informação

No início do ano, o Coren-SP (Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo) arquivou o processo de investigação do caso da atriz, que havia dito que uma enfermeira havia ameaçado a divulgação da informação sobre a entrega voluntária à adoção do bebê gestado por ela.

Em nota, o Conselho afirmou que “não constatou a participação de nenhum profissional de enfermagem em relação ao vazamento de quaisquer informações sigilosas de pacientes”.