SÃO PAULO (Reuters) -A Klabin pode decidir até o final do próximo ano sobre uma potencialmente bilionária expansão de operações em Santa Catarina, que vai ampliar a capacidade de produção de celulose tipo fluff, que segue mostrando perspectivas de demanda crescente nos próximos anos e carrega margens maiores que outros tipos de celulose, afirmaram executivos nesta quarta-feira.

A companhia está estudando uma ampliação de capacidade nas cidades catarinenses de Correia Pinto e Otacílio Costa que já abrigam operações de papéis para embalagens da empresa usando pinus e eucalipto.

Segundo o presidente-executivo da Klabin, Cristiano Teixeira, o projeto de expansão, que está em estudos e ainda não foi apresentado formalmente ao conselho de administração, envolve uma capacidade de entre 1 milhão e 1,2 milhão de toneladas, das quais 500 mil a 600 mil seriam de celulose fluff, usada em produtos que incluem fraldas.

Atualmente, a capacidade de produção de celulose de fibra longa e fluff da Klabin é de 500 mil toneladas para um mercado global de fluff de 6 milhões de toneladas. A empresa citou durante apresentação a analistas e investidores que a expectativa é que o mercado do produto cresça 3,5% ao ano em média, atingindo 8 milhões de toneladas em 2030 e 11,6 milhões em 2040.

Durante entrevista a jornalistas após a apresentação, Teixeira evitou divulgar uma projeção de investimento para a expansão de capacidade em Santa Catarina, uma vez que a Klabin ainda não concluiu os estudos. Mas os planos vem na sequência do anúncio em julho do Projeto Figueira, que prevê uma nova fábrica de papelão ondulado em São Paulo e vai consumir investimento de até 1,6 bilhão de reais.

Teixeira, porém, citou como referência para os estudos envolvendo Santa Catarina o investimento da empresa no Projeto Puma 2, que instalou duas máquinas de papel no Paraná com capacidade total para 910 mil toneladas: de 2,45 bilhões de dólares ao câmbio desta quarta-feira.

Se a empresa tomar a decisão no final de 2023, as primeiras máquinas da expansão devem entrar em operação em 2026. Além de fluff, a Klabin estuda no projeto instalar máquinas para produção de celulose de fibra longa num primeiro momento e, em etapas subsequentes, de sakraft (200 mil a 250 mil toneladas), um tipo de embalagem de papel, além de kraft fino e kraftliner.

As duas cidades estão distantes 40 quilômetros entre si e a Klabin já garantiu 35 mil hectares de área de floresta de um total de 100 mil a 120 mil hectares que serão necessários para alimentar com madeira as novas máquinas.

Segundo o presidente da Klabin, a empresa está alongando os estudos do projeto diante dos riscos de recessão global que pode ser disparada pelo movimento internacional de alta nos juros.

2023

A Klabin divulgou nesta quarta-feira projeção de investimento de 5,4 bilhões de reais no próximo ano, ante uma previsão para 2022 da ordem de cerca de 5,7 bilhões. A companhia está finalizando a montagem da segunda máquina de papel do Projeto Puma 2, que deve entrar em operação no segundo trimestre de 2023, com uma produção estimada de 190 mil toneladas, de uma capacidade total de 460 mil por ano a ser atingida em 2027.

Teixeira afirmou que os preços de celulose de fibra curta, de eucalipto, seguem firmes em patamares elevados no mercado internacional, “não só pelo consumo, mas pelos estoques que ainda estão baixos”. Enquanto isso, em fibra longa o mercado não está tão justo quanto o de fibra curta diante de fatores que incluem os impactos da guerra na Ucrânia nos produtores nórdicos.

Com a perspectiva de recessão, o executivo afirmou que “não tem como não dizer que vai haver queda de preço” de celulose no próximo ano. Porém, diante da alta nos custos de produção por itens como energia, commodities e salários, se a recessão não for muito intensa, é possível que os preços se mantenham em níveis elevados.

Às 14:45, as units da Klabin recuavam 2,5%, a 19,50 reais, enquanto o Ibovespa, referência do mercado acionário brasileiro, cedia 0,4%.

BARSI

Aos investidores, Teixeira abriu sua apresentação na manhã desta quarta-feira citando que o cenário econômico global preocupa a companhia, mas que o modelo de negócio da empresa é de longo prazo e que a maior fabricante de papel para embalagens do país mantém seus projetos de investimento.

“O ano de 2023 vai ser ótimo para mostrar nossa crença no modelo de negócio e o quanto a área de embalagens vai normalizar o resultado para a Klabin”, disse Teixeira. “Na medida que os preços internacionais caem, reduzimos exportações e compra de papel de terceiros e aumentamos nossa capacidade de conversão com preço que garante a estabilidade”, afirmou o executivo. Ele acrescentou que o retorno sobre capital investido, conhecido pela sigla Roic, “vai continuar subindo”.

Assistindo à apresentação estava um dos maiores investidores de ações no Brasil, Luiz Barsi, que defendeu que os executivos da empresa se preocupem em ampliar a percepção da companhia no mercado por entender que o valor dos ativos da empresa está subavaliado.

Ao final, ao ser questionado sobre os comentários dos executivos, Barsi afirmou que segue apostando na Klabin, uma vez que a empresa está inserida em um setor “do qual o país não vive sem ele”.

Barsi afirmou que durante a forte queda nos papéis da Klabin em julho, por conta das críticas do mercado ao Projeto Figueira, comprou 12 milhões de ações da empresa. “Só compro na oportunidade”, afirmou.

(Por Alberto Alerigi Jr.; edição Paula Arend Laier)

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