(ANSA) – BRASÍLIA, 01 DIC – O ex-secretário de Estado americano, Henry Kissinger, que faleceu no último dia 29 de novembro, aos 100 anos, em Connecticut, teve uma ligação “macabra com a ditadura brasileira”, afirmou o presidente do Movimento Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke, à ANSA.
Na entrevista, Krischke enfatizou que “ainda há muita informação a ser revelada quando os Estados Unidos começarem a ‘desclassificar arquivos’ que ainda permanecem secretos”.
O presidente do movimento declarou ainda que é preciso se “aprofundar” nas pesquisas sobre as mortes do ex-presidente João Goulart (1976) e do escritor chileno, o prêmio Nobel Pablo Neruda (1973), acontecidas durante o período em que Kissinger era o “homem forte” na Casa Branca.
Em dezembro de 1971, os presidentes dos EUA, Richard Nixon, e seu homólogo brasileiro, o general Emílio Garrastazu Médici, se reuniram em “Washington, na Casa Branca, onde acordaram que que Brasil ia conspirar contra o governo progressista de Salvador Allende, no Chile” e contra o esquerdista da Frente Amplo no Uruguai, disse Kirschke.
“Kissinger participou dessa reunião, ele foi o verdadeiro estrategista e comandou os planos de desestabilização no Chile e Uruguai, além de ter semeado o golpismo em toda a região com a cumplicidade da ditadura brasileira”, acrescentou.
Conhecido como o “caçador de torturadores e assassinos” latino-americanos que se refugiaram no Brasil, Kirschke já foi chamado como testemunha nos processos contra o Plano Condor na Itália e na Argentina, e suas pesquisas e documentos são utilizados por agências da ONU.
Apesar das centenas de militares e agentes da comunidade de inteligência que colaboraram com Kissinger terem sido identificados aos “poucos” e levados perante a Justiça “ainda há muito” que investigar, afirmou ele.
O ex-secretário de Estado e Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA foi uma peça “fundamental” da rede repressiva Condor, na qual se articularam os governos militares para espiar, sequestrar e até assassinar opositores na região, revelou Krischke.
Segundo o especialista brasileiro, após a morte de Kissinger, que também foi prêmio Nobel da Paz, “é possível que nos próximos anos” sejam conhecidos “muitos” documentos que ainda permanecem sob sigilo.
Os estados americanos têm uma política “muito séria” de respeito a verdade histórica e “mais cedo o mais tarde” daqui a “5 ou 10 anos” a verdade será conhecida pelo púbico. Consultado sobre quais os casos que ele acha importante serem esclarecidos, Krischke fala nas mortes do ex-presidente brasileiro João Goulart, em 1976, na Argentina, e do poeta Pablo Neruda no Chile, em 1973, em uma clínica em Santiago de Chile, após o golpe contra Allende.
“Eu acho que os dois podem ter sido assassinados com veneno e o Kissinger provavelmente sabia desses supostos planos de homicídio”, finalizou Krischke. (ANSA).