A ex-presidente Cristina Kirchner foi a “principal receptora” dos supostos subornos de empresas a políticos na Argentina entre 2003 e 2015, afirmou a acusação nesta quinta-feira (27) no megajulgamento por corrupção iniciado no começo de novembro.
Kirchner e outros 85 ex-funcionários públicos e empresários são acusados de formar uma rede de corrupção para obter benefícios ou contratos de obras públicas por meio de subornos entre 2003 e 2015, período em que a Argentina foi governada por ela e por seu marido, Néstor Kirchner.
Nesta quinta, o tribunal continuou com a leitura dos fatos processuais. Segundo a investigação, empresários entregaram pacotes de dinheiro a emissários dos governos do casal Kirchner, e a ex-presidente, como chefe dessa rede, foi “a principal receptora” dos pagamentos.
“Ambas as partes obtinham benefícios”, disse o tribunal. Os empresários obtinham vantagens com subornos com os quais “os funcionários públicos – sendo ela a principal referência – enriqueciam e garantiam a continuidade da operação”.
As audiências são realizadas de forma virtual. Kirchner participa de sua casa em Buenos Aires, onde cumpre uma pena de seis anos de prisão domiciliar por corrupção.
Segundo a acusação, “foi corroborado (…) que todos os empresários agiram livremente”.
O caso se baseia nas anotações detalhadas com datas, endereços, entregas, nomes e quantias de dinheiro feitas durante anos pelo motorista de um funcionário do ministério responsável, na época, pelas obras públicas.
Seu conteúdo foi questionado pela defesa da ex-presidente, que as considerou adulteradas. Várias perícias caligráficas determinaram que mais de uma pessoa participou das anotações.
O caso, chamado popularmente de “cadernos”, tem duas audiências semanais e deve passar a ser presencial em uma próxima etapa.
Na audiência desta quinta, foi lido o depoimento de Kirchner apresentado na fase de investigação, no qual ela negou “de maneira categórica e terminante ter feito parte de qualquer tipo de associação ilícita ou cometido qualquer delito”.
“A investigação dirigida deliberadamente contra mim, apesar de ter violado todas e cada uma das garantias que fazem parte do devido processo legal, não conseguiu sequer uma mínima prova que comprove os delitos que caluniosamente me atribuem”, leu o tribunal.
Kirchner, principal nome da oposição peronista (centro-esquerda), denuncia que este e outros processos judiciais são uma perseguição contra ela.
A Justiça ordenou a apreensão de 480 milhões de dólares (2,57 bilhões de reais) em bens e ativos pertencentes a Kirchner, sua família e os coacusados, como reparação pelo dano causado ao Estado em outro caso de corrupção.
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