O queniano Eliud Kipchoge conquistou a medalha de ouro da maratona dos Jogos do Rio-2016, neste domingo, ao chegar em primeiro lugar no sambódromo, em percurso que passou por vários cartões postais da Cidade Maravilhosa, sob céu nublado e chuva em boa parte da prova.

“Minha carreira é fantástica, mas esse título olímpico é algo que eu tinha em mente desde sempre”, vibrou o queniano de 31 anos, que se ajoelhou e fez o sinal da cruz depois de cruzar a linha de chegada.

Para ele, a praça da Apoteose, que marca o final da Avenida Marquês de Sapucaí, palco do desfile das Escolas de Samba do Carnaval carioca, não poderia ter nome melhor.

Apesar de o Quênia dominar as grandes corridas de rua pelo mundo, Kipchogue é apenas o segundo maratonista do seu país a conquistar o ouro olímpico, depois de Samuel Wanjiru, em Pequim-2008, numa prova que foi decidida apenas a partir do quilômetro 30, quando os favoritos começaram a aumentar o ritmo.

Kipchogue acelerou de forma decisiva faltando cinco quilômetros para o fim e chegou ao Sambódromo sozinho, ovacionado pelo público.

Campeão mundial em Paris-2003, o queniano de 31 anos, que tinha conquistado o bronze em Atenas-2004 e prata em Pequim-2008, completou os 42,195 km em duas horas, oito minutos e 44 segundos, mais de um minuto à frente do etíope Feyisa Lilesa, que ficou com a prata (2h09:54).

O americano Galen Rupp levou o bronze (2h10:05), enquanto o atual campeã mundial, Ghirmay Ghebreslassie, da Eritreia, ficou fora do pódio por ter terminado em quarto (2h13:56).

Herói iraniano

O melhor brasileiro foi Paulo Roberto Paula, que chegou em 15º, com tempo de 2h13:56, sua melhor marca do ano, e foi muito festejado pela torcida.

“Terminei em oitavo em Londres (nos Jogos de 2012), em 15º aqui, para para mim é o mesmo resultado. Aqui, cheguei até melhor do que em Londres fisicamente, fiz meu melhor e correr aqui no Brasil foi único”, comemorou Paulo Roberto.

Marilson dos Santos chegou em 59º (2h19:09) e Solonei da Silva em 78º (2h22:05), enrolando numa bandeira do Brasil.

“Para mim completar essa maratona olímpica aqui em casa é a realização de um sonho”, comentou Solinei, que trabalhou como gari antes de virar atleta profissional.

“Sei que fiquei muito, muito aquém do meu melhor resultado e do que eu estava esperando. Fico triste pelo resultado, mas feliz por saber que cheguei aos Jogos Olímpicos mesmo começando muito tarde dentro do atletismo, passando por muitas dificuldades”, relembrou.

O mais aclamado de todos, porém, não foi brasileiro, e muito menos medalhista. O iraniano Mohammadjafar Moradi chegou tão exausto que mal conseguia avançar nos metros finais. Ele caiu, mas se levantou e caminhou, cambaleando, até a linha de chegada, com a torcida em pé, incentivando cada passo.

Para ele, o 128º lugar, em 2h31:58, teve sabor de medalha de ouro. A cena lembrou a chegada da suíça Gabriela Andersen-Schiess, que comoveu o mundo nos Jogos de Los Angeles-1984.

Até os últimos a chegar foram acolhidos com aplausos, aos gritos de “é campeão”.

Dos 155 participantes, 15 não conseguiram completar a prova.

Cartões postais nublados

O clima mais ameno até ajudou os maratonistas, e deu a oportunidade de mostrar os cartões postais da Cidade Maravilhosa em outra versão, fora dos clichês do sol brilhando.

Largada e chegada foram no Sambódromo, com os corredores passando pelo aterro do Flamengo, praia de Botafogo, com vista privilegiada para o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor.

Na volta, foram para o Centro da Cidade, passando pela Igreja Nossa Senhora da Candelária, onde arde a chama olímpica, e a Praça Mauá, com o Museu do Amanhã e seu design inovador de Santiago Calatrava.

A única coisa que deixou a desejar é que as arquibancadas estavam muito vazias, longe da ideia dos organizadores de promover uma chegada festiva que remeteria ao desfile das Escolas de Samba do Carnaval, apesar da presença de ritmistas da União da Ilha.

Normalmente, a maratona tem sua chegada no estádio olímpico, que costuma estar lotado para receber os heróis da maratona.

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