Ao se tornar nesta sexta-feira o primeiro membro da dinastia no poder na Coreia do Norte a visitar o vizinho do Sul desde o fim da Guerra da Coreia (1950-53), a irmã mais nova de Kim Jong-Un reafirmou sua ascensão dentro do regime.

Em outubro, ao ascender ao poderoso politburo do partido único da Coreia do Norte, Kim Yo Jong se tornou a figura feminina mais influente da hierarquia política desse país.

No papel de chefe da delegação norte-coreana nos Jogos Olímpicos de Pyeongchang, que começam esta sexta, está Kim Yong Nam, oficialmente o chefe de Estado, mas cujo papel é amplamente simbólico.

“De fato, a verdadeira chefe é Kim Yo Jong”, estima o analista Cheong Seong-chang, do Instituto Sejong.

Alguns especialistas esperam que ela entregue uma mensagem de seu irmão ao presidente sul-coreano Moon Jae-in, com o qual a delegação norte-coreana almoçará no sábado.

A liderança da Coreia do Norte sempre foi um caso de família. Mas os benefícios substanciais ligados ao poder podem ter um custo alto: um passo em falso pode ter consequências catastróficas, até mesmo fatais.

O tio de Kim Jong-Un foi executado por traição em 2013. Seu meio-irmão Kim Jong Nam foi assassinado no aeroporto de Kuala Lumpur em fevereiro, envenenado por um agente neurotóxico em um ataque que, segundo especialistas em Coreia do Norte, só poderia ter acontecido com a autorização do líder norte-coreano.

Yo-Jong tem cerca de 30 anos, o que a torna a mais nova integrante do politburo.

É a única dos irmãos a ter um título oficial. Em uma história familiar complicada por vários casamentos e relacionamentos de seu pai, Kim Jong-Il, ela mantém uma relação especial com o número um do país, compartilhando com ele a mesma mãe, a ex-dançarina Ko Yong Hui.

“Eles têm uma ligação desde o nascimento e sua promoção ao politburo significa que Kim Jong-Un tem total confiança nela”, afirma Yang Moo-Jin, professor na Universidade de estudos norte-coreanos em Seul.

“É ela quem poderia assumir o controle no caso de morte de Kim”, afirma à AFP.

Como seu irmão, Yo-Jong estudou na Suíça. Ela fez sua primeira aparição oficial na imprensa norte-coreana em 2009, acompanhando seu pai em uma visita a uma universidade de agronomia.

Era uma figura recorrente da comitiva de Kim Jong-Il até a morte dele em dezembro de 2011. Nas fotos do funeral, ela aparece em destaque, ao lado de seu irmão.

– Carreira fulgurante –

Quando Kim Jong-Un assumiu o poder, sua carreira pública dentro do departamento de propaganda do partido cresceu rapidamente, até sua nomeação, em 2014, como “diretora adjunta do departamento” no Comitê Central.

De acordo com Michael Madden, editor do site Korean Leadership Watch, seu papel nos serviços de propaganda fez dela “a principal arquiteta da imagem de seu irmão e da (Coreia do Norte) em geral”.

Ela é a única da família Kim conhecida por ser próxima ao líder supremo, com exceção da esposa, Ri Sol-Yu.

O reconhecimento externo de seu papel e influência veio este ano quando seu nome foi nomeado entre os sete norte-coreanos visados ​​pelas sanções dos Estados Unidos por “abusos graves e contínuos dos direitos humanos e atividades de censura”.

Para Cheong Seong-Chang, pesquisador do Instituto Sejong de Seul, vê isso como uma presença mais visível no topo da hierarquia política.

“Ela deverá desempenhar papéis cada vez mais importantes no futuro”, acredita.

Há tempos, especula-se que Yo-Jong se prepara para desempenhar um papel de apoio semelhante ao de sua tia, Kim Kyong-Hui, a poderosa esposa de Jang Song-Thaek.

Por décadas, Kim Kyong-Hui foi um colaborador próximo de seu irmão, o líder Kim Jong-Il, ocupando posições de liderança dentro do partido e se tornando em 2010 o general de quatro estrelas.

Mas ela quase desapareceu da arena pública desde a execução do marido.

Até a queda em desgraça, o casal era percebido como poderoso e como tendo desempenhado um papel essencial na entrega do poder a Kim Jong-Un.