Body/Head nasceu com uma Kim Gordon em frangalhos após o fim do Sonic Youth, banda com a qual passou 30 dos seus 63 anos de idade. Ao lado do também multi-instrumentista Bill Nace, Kim toca guitarra e canta versos espaçados, tensos, que ecoam em um abismo ora ruidoso, ora vazio. Kim e Nace dialogam com seus instrumentos enquanto, no fundo do palco, imagens registradas em câmera lenta são projetadas. “A nossa ideia é que o público crie uma narrativa por conta própria”, explica Kim Gordon sobre a apresentação que será mostrada pela primeira vez em São Paulo, em duas noites de experimentalismo sonoro no Teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros, sexta e sábado, dias 21 e 22 de outubro, sempre às 21h.

“Me apresentar com o Body/Head é sempre algo bastante divertido. Somos uma banda criada para se apresentar ao vivo. Canto com um modulador de voz e brincamos um pouco com o improviso. Nós criamos fragmentos de canções e vamos juntando-as. É uma espécie de trilha sonora para algo que o público quiser imaginar. É bastante abstrato. Tem um pouco de mistério ali.”

A sonoridade do duo foi diretamente inspirada pela filmografia de Catherine Breillat, cineasta e escritora francesa, de forma indireta. “Eu e Bill sempre conversamos muito sobre os filmes dela”, explica Kim. Uma das canções do primeiro – e até agora único -, álbum do Body/Head, chamado Coming Apart, leva o mesmo nome de um filme de Catherine de 2007. Last Mistress, a canção, registra uivos de Kim Gordon sobre essa amante – se é endereçada a mulher com quem o ex-marido dela teve um caso, provavelmente ninguém saberá. “Nos identificamos com os temas que essa cineasta debate nos filmes dela. Sexualidade, amor e sexo, autocontrole”, ela explica. “No fundo, o nome da nossa banda é uma brincadeira com a ideia de que a cabeça quer uma coisa e o corpo quer outra.”

Body/Head desafia um público já acostumado ao experimentalismo ruidoso do Sonic Youth. Como Kim mesma diz, contudo, a banda não se concentra em registrar suas canções em discos. Com cinco anos de existência, apenas Coming Apart pode ser considerado um álbum cheio. O duo lançou ainda um EP que levava o nome da banda, em 2013, mesmo ano de lançamento do álbum de estreia, e The Show Is Over, que reúne duas canções, em 2014. “Vamos preparar um novo álbum de estúdio”, garante Kim. “Mas percebemos que somos uma banda que se desenvolve ao vivo. A performance ao vivo é muito importante para a gente. Pensamos em registrar um disco ao vivo, mas ainda vamos preparar mais uma porção de novas canções e colocar em um novo álbum.”

A vida pós-Sonic Youth, iniciada em 2011, tem sido produtiva para Kim. Especialmente após a mudança dela de volta para Los Angeles, onde cresceu. Depois de colaborar com o electropunk de Peaches e com J Mascis, guitarra principal e voz do Dinosaur Jr., Kim deu início a dois novos projetos. O primeiro deles é o interessante e mais roqueiro Glitterbust. Novamente em dupla, dessa vez fazendo par com Alex Knost, do Tomorrows Tulips, ela lançou um álbum em vinil duplo.

Em setembro, ela colocou nas redes aquilo que pode ser o início de uma carreira solo. A música Murdered Out foi produzida por Justin Raisen, especializado em pop esquisito, com trabalhos ao lado de Sky Ferreira, Santigold, MS MR e Charli XCX. “Definitivamente, é alguém com quem quero continuar a trabalhar”, explica Kim sobre a canção registrada com Raisen. “De repente, isso pode se tornar um disco.”

Gravada em Los Angeles, a canção foge justamente de uma visão mais solar de mundo, mesmo que a artista esteja vivendo seus novos dias ensolarados na costa oeste. Pelo contrário, há um quê de gótico e sombrio na faixa. “É um reflexo da Los Angeles real”, explica Kim. “Existe essa cultura da celebridade, de Hollywood, as praias. Ao mesmo tempo, tem algo de sombrio. Com a recessão, as coisas tem mudado. Essa música é tão crua quanto essa cidade.”

BODY/HEAD Sesc Pinheiros. Teatro Paulo Autran. Rua Paes Leme, 195, Pinheiros, tel.: 3095-9400. Dias 21 (6ª) e 22 (sáb.), 21h.

R$ 18 / R$ 60.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.