A PGR (Procuradoria-Geral da República) pediu nesta terça-feira, 11, a condenação dos dez integrantes do “núcleo 3” da tentativa de golpe de Estado ocorrida após as eleições de 2022 para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder, que inclui os chamados “kids pretos“.
O grupo está sendo julgado pela Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) é formado por um policial federal e nove militares com formação em Forças Especiais do Exército, que teriam papel crucial para operacionalizar a ruptura institucional e planejar as execuções do presidente Lula (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), de acordo com as investigações. Neste texto, a IstoÉ explica como esses oficiais são formados.
Como é a formação dos ‘kids pretos’
O apelido informal “kids pretos” é atribuído aos militares de Operações Especiais do Exército Brasileiro, isso se dá pelo fato de usarem gorros pretos.
A entrada nas Forças de Operações Especiais ocorre de maneira voluntária por militares que realizaram curso de Ações de Comandos e de Forças Especiais. Em seguida, os “kids pretos” passam por formação no Centro de Instrução de Operações Especiais, em Niterói (RJ), no Comando de Operações Especiais em Goiânia (GO), ou na 3ª Companhia de Forças Especiais, em Manaus (AM).
Como parte do treinamento, esses militares aprendem a atuar em missões com alto grau de risco e sigilo, como em operações de guerra irregular, que inclui terrorismo, guerrilha, insurreição, movimentos de resistência e insurgência.
Além disso, os “kids pretos” são preparados para situações que envolvem sabotagem, operações de inteligência, planejamento de fugas e evasões, razão que os tornou personagens-chave para um plano de ruptura que incluía execuções de autoridades. Esses militares podem atuar em todo o território nacional, porém as tropas são empregadas por ordem do Comando do Exército, sob coordenação do Comando de Operações Especiais.
Por meio da página oficial do Comando de Operações Especiais no Facebook, foi publicado um vídeo de comemoração dos 65 anos das operações especiais. “O ideal como motivação. A abnegação como rotina. O perigo como irmão. A morte como companheira”, diz a gravação.
Quem está sendo julgado
- Bernardo Romão Correa Netto, coronel do Exército;
- Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, general da reserva;
- Fabrício Moreira de Bastos, coronel do Exército;
- Hélio Ferreira Lima, tenente-coronel do Exército;
- Márcio Nunes de Resende Júnior, coronel do Exército;
- Rafael Martins de Oliveira, tenente-coronel do Exército;
- Rodrigo Bezerra de Azevedo, tenente-coronel do Exército;
- Ronald Ferreira de Araújo Júnior, tenente-coronel do Exército;
- Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros, tenente-coronel do Exército;
- Wladimir Matos Soares, agente da Polícia Federal.
O grupo responde por cinco crimes: organização criminosa armada; tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; deterioração de patrimônio tombado e dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo para a vítima.
No caso de Ronald Ferreira Júnior, a PGR pediu a desclassificação dos cinco crimes dos quais o tenente-coronel era acusado. No lugar das imputações, a PGR qualificou a conduta de Júnior em incitação ao crime. Nesse caso, ele poderá negociar a assinatura de um acordo de não persecução penal.
Segundo a acusação, cinco acusados pressionaram e incitaram seus pares nas Forças Armadas para aderir ao golpe valendo-se “de conhecimentos militares especiais e/ou de seus postos elevados na hierarquia militar”: Bernardo Romão, Fabrício Bastos, Márcio Júnior, Estevam Theophilo e Sérgio Cavaliere.
Em delação, Mauro Cid relatou que, no meio militar, Estevam Theophilo era reconhecido como o general que “tomaria a iniciativa” do golpe se o então presidente Bolsonaro assinasse um decreto de Estado de exceção.