Kevin o Chris fala sobre uso de IA e ‘Lei Anti-Oruam’: ‘Lutamos pelo respeito’

Em entrevista à IstoÉ Gente, cantor falou sobre seu novo álbum, “Voltmix", e a importância da ancestralidade na música

Rapha Urjais
Cantor lança novo EP nessa sexta-feira, 18 Foto: Rapha Urjais

Kevin o Chris lança nesta sexta-feira, 18, o álbum “Voltmix”, projeto voltado à sonoridade dos bailes funk dos anos 90. Um dos maiores nomes do funk, ele explica que o nome do EP vem da faixa “808 Volt Mix”, lançada em 1988 pelo DJ americano Battery Brain.

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À IstoÉ Gente, o artista destacou a importância de homenagear a história do funk – gênero musical que vem ganhando grande apelo mundo afora -. “A ideia nasceu da vontade de resgatar um momento muito marcante do funk carioca, nos chamados ‘bailes de corredor’.

“Sempre fui um cara curioso, que gosta de estudar o funk, e senti que tava na hora de trazer essa referência de volta, misturando com a minha pegada atual. É como se fosse uma homenagem à nossa história, mas com o olhar no futuro.”

“Ali tem raiz, tem verdade. Muita coisa do que a gente ouve hoje no funk veio dessa época. Os anos 90 foram a base de muita coisa que a gente vive e canta hoje. Eu quis resgatar esse som pra valorizar nossa cultura e também apresentar essa batida pra uma nova geração que talvez nem conheça.”

Inteligência Artificial e o ouvinte

Durante o bate-papo, o cantor também falou o motivo de ter optado pelo uso de IA para chegar em um timbre feminino nas faixas “Sei Que Está A Fim” e “Pra Vida Inteira”, em vez de realizar um feat.

“Eu amo colaboração, já fiz várias, mas nesse projeto o objetivo era criar um clima específico, bem anos 90, com uma certa nostalgia no ar. E a IA foi usada como uma ferramenta para isso”, explica.

“A tecnologia me deu liberdade de brincar com timbres que talvez fossem difíceis de alcançar de outra forma. Aquela voz não foi criada do 0, é a minha voz transformada em uma voz feminina. Ficou muito maneiro.”

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Kevin comentou sobre a recente onda do uso de Inteligência Artificial para transformar funks em versões com sonoridade dos anos 1980. Recentemente no TikTok, músicas como “Predador de Perereca” e “Casa dos Machos” viralizaram após adquirem batidas que se assemelham à sucessos do Tim Maia.

“A música tá em constante evolução e mudança. É normal essa parada de ter fases diferentes. Teve a fase do 150 bpm, do ostentação, do romântico. Elas não deixaram de existir, tem gente muito boa ainda criando e juntando todas essas referências”, afirma.

“Eu acredito que tenha espaço geral: desde o som que vai viralizar no TikTok até os projetos mais diferentes. O importante é ser verdadeiro no que você faz. Eu gosto de trazer essa mistura — olhar pro passado, resgatar batidas, mas também estar ligado nas tendências. Sempre estudei o funk e procuro inovar mantendo o pé nas raízes”, conta, sobre críticas às letras atuais.

“Lei Anti-Oruam”

Em fevereiro deste ano, um projeto conhecido como “lei anti-Oruam”, de autoria da vereadora Amanda Vettorazzo (União Brasil), surpreendeu os brasileiros ao propor a proibição da contratação de artistas que façam apologia ao crime ou ao uso de drogas em shows.

Apesar das críticas de internautas sobre o caráter da proposta – que, segundo eles, afetaria principalmente a manifestação de gêneros considerados periféricos, como funk e trap -, ela avançou na na Câmara de SP e deve ir ao plenário em agosto.

Sobre o tema, o funkeiro comentou os possíveis impactos para o público: “O funk e o rap sempre cantaram o reflexo da realidade de muitos brasileiros e hoje não é diferente. Lutamos todo dia pelo respeito ao nosso movimento, que mudou a vida de uma mulecada como eu. Mas o funk e o rap são maiores que isso e vão resistir mais uma vez.”

“O cenário tá muito diverso e isso é maneiro. Tem o funk pop, o funk consciente, o 150 BPM… Muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Acho que estamos num momento de expansão global e com muitas ferramentas disponíveis para grande parte das pessoas.”

** Estagiária sob supervisão