A americana Kellogg – associada especialmente aos sucrilhos no Brasil – está apostando fortemente no consumo da classe C. A companhia anunciou ontem a aquisição da fabricante catarinense de biscoitos Parati por quase R$ 1,4 bilhão. A empresa, conhecida por competir nas categorias de preço mais baixo em biscoitos, mas que também fabrica caldos, massas e sucos em pó, tem presença intermediária no ranking nacional, mas está entre as líderes do segmento no Sul do País.

O negócio surpreendeu o mercado por causa do valor, já que a Pepsico levou a Mabel, há cinco anos, por cerca da metade do preço. O sócio da Food Consulting, Sérgio Molinari, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que a escassez de bons negócios a serem comprados no setor alimentício brasileiro pode ter elevado o “prêmio” de preço.

ORIGEM. A Parati foi fundada pelo imigrante italiano Angelo Fantin, que desembarcou no Brasil em 1949, aos 22 anos. Estabeleceu-se em São Lourenço do Oeste, em Santa Catarina, onde abriu o negócio mais de duas décadas mais tarde, em 1972. O fundador faleceu em 2015, aos 87 anos. Antes da venda para a Kellogg, o controle do negócio permanecia familiar.

O faturamento anual da companhia gira em torno de R$ 600 milhões. A Parati tem hoje cerca de 3,2 mil funcionários, incluindo cerca de 1,3 mil da força de vendas, responsável pela distribuição em 60 mil pontos de venda. Além da marca Parati, a companhia ainda tem os rótulos Pádua, Minueto, Zoo Cartoon e Hot Cracker.

Molinari diz que a cearense M. Dias Branco foi a empresa que deu início, há 15 anos, ao processo de consolidação do mercado de biscoitos e massas no Brasil – movimento seguido pelas multinacionais. Entre os negócios que a M. Dias Branco adquiriu estão a Adria e a Isabela, ambas com origem no Sul. Esta última marca, aliás, compete diretamente com a Parati no ranking da região.

Nicho. O consultor afirma que, apesar de a Parati ser pouco conhecida em parte do País, é considerada no mercado um negócio “redondo” e com bom perfil de lucratividade. Para a Kellogg, que tem portfólio de mais alto valor agregado (a companhia também é dona da batata Pringles), a Parati representa a oportunidade de acessar um público bem mais amplo, mas de renda menor – as classes C e D.

No comunicado sobre a venda divulgado na última quinta-feira, 13, a presidente da Kellogg na América Latina, Maria Fernanda Mejia, disse que a ideia é aplicar os conhecimentos do grupo americano em inovação e marketing às marcas da Parati.

O negócio anunciado na quinta-feira ainda terá de passar pelo crivo de órgãos reguladores brasileiros. A Kellogg afirmou também na quinta, em comunicado ao mercado, que espera obter todas as aprovações para a operação até o fim deste ano. Nos últimos dois anos, a Kellogg – um gigante global que tem receita anual de US$ 13,5 bilhões – vem ampliando seu portfólio internacional de alimentos. Comprou, por exemplo, a Mass Food Company, no Egito, e ficou com 50% da Multipro, que atua na Nigéria e em Gana.

A transação foi assessorada pelo banco Credit Suisse e pelo Machado Meyer Advogados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.