“Se querem nos eliminar, deve ser por meio do voto popular”, disse a líder oposicionista peruana Keiko Fujimori, criticando que fique nas mãos de um juiz a decisão de marginalizar, ou não, das eleições de 2021 o movimento político criado por seu pai há três décadas.

“Esse pedido de suspensão, se for concedido, na verdade o que concede é a pena de morte para o partido”, disse Keiko em entrevista à AFP em sua casa em Lima, dias antes de o juiz Víctor Zúñiga decidir se desqualifica o partido de direita Força Popular liderado por ela há 25 meses.

“Há 25.000 militantes e milhares de seguidores que seriam impedidos do direito constitucional de finalmente eleger” o novo presidente e o novo Congresso, indica Keiko.

Ela enfrenta o pedido da Procuradoria poucos meses após sua libertação, depois de 16 meses em prisão preventiva.

Enquanto o Peru tenta emergir de uma crise política que o levou a ter três presidentes em uma semana, Fujimori enfrenta uma de suas maiores ameaças desde que Alberto Fujimori foi eleito presidente do Peru em 1990.

Keiko, que aos 45 anos esteve duas vezes perto de ganhar a Presidência (em 2011 e 2016), é a sucessora natural de Fujimori, mas suas opções para concorrer nas eleições de 2021 estão agora nas mãos do mesmo juiz que a enviou para a prisão.

Zúñiga deve decidir se aceita um pedido do procurador José Domingo Pérez e suspende todas as atividades do Força Popular por 25 meses, enquanto as investigações sobre as supostas contribuições ilegais de campanha da gigante brasileira da construção Odebrecht avançam.

A audiência judicial começa na próxima segunda-feira (30), uma semana antes das primárias do partido, o que complica o calendário eleitoral do Força Popular. Não há data para a decisão.

Keiko nega ter recebido dinheiro ilegal por suas campanhas e afirma que o procurador Pérez está obcecado em persegui-la.

“No total, estou presa injustamente há mais de 480 dias. Como [o procurador] não conseguiu me manter presa, agora o que ele busca é eliminar todos os Fujimori”, diz. “O que peço é que o povo decida” nas urnas.

– O legado do patriarca –

Keiko deve sua liderança em grande parte à popularidade de seu pai, o ex-presidente de ascendência japonesa que foi condenado em 2009 a 25 anos de prisão por corrupção e crimes contra a humanidade sob seu governo (1990-2000).

Apesar de sua condenação, muitos peruanos admiram Alberto Fujimori porque ele derrotou a guerrilha e interrompeu a hiperinflação herdada de Alan García.

O Força Popular conquistou 73 do total de 130 cadeiras do Congresso em 2016, o que lhe valeu a hegemonia no Legislativo, mas se tornou minoria nas eleições extraordinárias de janeiro passado, ganhando apenas 15.

Descrito como um amálgama populista de conservadorismo moral e economia neoliberal, desde 1990 o fujimorismo conquistou votos em todos os estratos sociais.

Keiko foi considerada a pessoa mais poderosa do Peru entre 2016 e 2018, quando o Força Popular deixou o então presidente Pedro Pablo Kuczynski de mãos atadas até que ele foi forçado a renunciar em março de 2018. Não teve sucesso, porém, nas tentativas de subjugar seu sucessor Martín Vizcarra.

Na crise atual, o fujimorismo não teve qualquer protagonismo, embora tenha contribuído com votos para destituir Vizcarra e substituí-lo por Manuel Merino. Este último renunciou cinco dias depois, em meio a protestos multitudinários no país.