Pouco depois de lançar o single "Heil Hitler", rapper americano – que hoje se apresenta como Ye – deve abrir o Rubicon Festival de Bratislava em julho. Petição quer barrar show."O visionário do hip hop, ícone cultural e gênio controverso YE vai fazer uma performance exclusiva em 20 julho de 2025 no Rubicon Festival, em Bratislava. Será seu único show ao vivo confirmado na Europa em 2025 – e o primeiro show na Eslováquia da história", anunciou a organização do evento em seu site na segunda-feira (23/06). "O Rubicon Festival está elevando o patamar dos festivais europeus a um nível totalmente novo."
A participação do rapper americano Kanye West no festival enfureceu críticos do artista. Uma petição que pede à organização do evento que cancele a apresentação reúne até o momento da publicação deste texto mais de 4 mil assinaturas.
Os autores afirmam que Ye tem, nos últimos anos, repetidamente adotado simbologias e ideologias associadas à Alemanha nazista: por exemplo, já se referiu a si mesmo como "nazista" e declarou "eu amo Hitler" nas redes sociais.
"Ele trivializa crimes do regime totalitarista e ditatorial, e as atrocidades de guerra que também afetaram a população eslovaca", consta do abaixo-assinado.
O texto da petição também cita a música mais recente de Ye, "Heil Hitler", lançada em 8 de maio – 80º aniversário da derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial.
O nome da canção alude à saudação nazista que foi usada enquanto Adolf Hitler esteve no poder. A imagem que promove o single lembra uma suástica, e a música termina com um longo trecho de um discurso original de Hitler.
Apesar de ter sido derrubado da maioria das plataformas de streaming em todo o mundo, o single provocativo permanece online no X, com milhões de visualizações.
Na Alemanha, o conteúdo foi banido. Mas a restrição pode ser contornada usando um serviço de VPN.
"Heil Hitler, de Ye, foi banida por todas as plataformas de streaming, enquanto 'Rednecks', de Randy Newman, continua disponível para streaming", queixou-se West em um post no X à época do lançamento, citando a música de 1974 que usa insultos raciais.
Símbolos nazistas proibidos na Alemanha
A saudação "Heil Hitler" era usada como saudação oficial na Alemanha nazista. O movimento que a acompanha, feito com o braço direito estendido e a palma da mão voltada para baixo, teve sua origem na Roma antiga e foi adotado pelo ditador fascista Benito Mussolini na década de 1920. Mais tarde, Hitler fez dela uma assinatura de seu governo.
No pós-guerra, as autoridades da Alemanha Ocidental decidiram limitar essas tais expressões para superar o passado sombrio do Holocausto, que fez milhões de vítimas em toda a Europa.
A exibição ou disseminação pública de símbolos e slogans nazistas, como o gesto ou a frase, é um crime na Alemanha, de acordo com a Seção 86a do código penal alemão.
Essa lei proíbe o uso de símbolos associados a "organizações inconstitucionais", incluindo aquelas afiliadas ao partido nazista, como a suástica, o emblema da SS, a saudação e slogans nazistas.
Seu uso pode ser punido com até três anos de prisão ou multa.
Negar o Holocausto também é ilegal na Alemanha e em muitos outros países europeus, bem como no Canadá e em Israel.
Símbolos nazistas não foram proibidos nos EUA
Para combater o aumento dos grupos de extrema direita e o crescente antissemitismo, outros países também proibiram a disseminação de símbolos de ódio. Em fevereiro, a Austrália aprovou uma lei contra crimes de ódio que inclui penas para o uso de expressões como a saudação nazista.
Enquanto isso, nos EUA, a liberdade de expressão é fortemente protegida pela primeira emenda da Constituição americana, o que inclui o discurso de ódio.
Embora o gesto seja um tabu no mundo ocidental, não é ilegal fazer a saudação nazista ou usar uma suástica nos Estados Unidos.
Desde a Segunda Guerra Mundial, a saudação tem sido usada com frequência por neonazistas e nacionalistas brancos. Em 2016, por exemplo, circulou um vídeo de um grupo de supremacistas brancos apoiando a vitória presidencial de Donald Trump naquele ano, levantando os braços em uma aparente saudação no estilo nazista.
Em janeiro, Elon Musk, que apoia abertamente o partido alemão de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), foi alvo de críticas por fazer o que parecia ser uma saudação no estilo nazista na posse do presidente dos EUA, Donald Trump.
Em resposta, ativistas do grupo britânico de campanha política Led by Donkeys projetaram uma imagem de Musk em sua fábrica da Tesla, em Berlim, mostrando o bilionário fazendo o gesto, com o título "Heil Tesla". O grupo entendia que, se as autoridades alemãs considerassem o símbolo ilegal de acordo com o Código Penal do país, isso provaria que Musk havia de fato feito o gesto.
Falta de regulamentação das empresas de tecnologia
Musk e Kanye West têm sido criticados por expressar opiniões antissemitas nos últimos anos. Em 2023, o dono da Tesla compartilhou um entendimento de que "judeus odeiam brancos".
Já o rapper publicou, em fevereiro: "Eu sou um nazi… eu amo Hitler". Em outra música lançada em março, se diz "completamente antissemita". Ele chegou a ter a conta suspensa no X.
O recente vídeo de Kanye West e a luta para tirá-lo do ar provocaram um novo olhar sobre as políticas de conteúdo das principais empresas de tecnologia, inclusive as plataformas de propriedade da Meta, de Mark Zuckerberg.
A Anti-Defamation League, uma organização não governamental internacional que combate o antissemitismo, a intolerância e a discriminação, iniciou uma petição solicitando ao Facebook e ao Instagram que "restabeleçam as diretrizes destinadas a proteger os usuários contra a desinformação e o ódio".
Em janeiro deste ano, a Meta anunciou que não empregaria mais verificadores de fatos em suas plataformas e afrouxou as regras de combate ao discurso de ódio à luz das "eleições recentes" – uma referência à vitória presidencial de Donald Trump.
No entanto, a retórica pró-Hitler veiculada pelo último single de West ainda se enquadra na regra da empresa de proibir "estereótipos prejudiciais historicamente ligados à intimidação, incluindo Blackface e negação do Holocausto".