Os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim 2022 ficarão marcados na história por diversas histórias de superação e conquistas para o legado olímpico. No entanto, esta edição também terá a sua polêmica lembrada e, até o momento, não resolvida: doping de Kamila Valieva de apenas 15 anos.

Após a confirmação do teste positivo para trimetazidina, a patinadora russa foi liberada para competir nas prova de programa curto da patinação, nesta terça-feira (15). A atleta teve um desempenho quase perfeito e avançou para o programa longo, que será realizado na próxima quinta-feira (17), em primeiro lugar.

Em sua defesa, Kamila revelou que a culpa para o doping foi um engano causado por medicamento consumido pelo seu avô para o coração.

Conhecida também por TMZ, a sustância é utilizada normalmente como medicamento para tratar dor no peito, causada pela queda no fluxo de sangue para o coração. Com isso, a WADA considerou que o uso da sustância pode ajudar na performance atlética e a inseriu na lista de proibições.

Russia’s Kamila Valieva competes in the women’s single skating short program of the figure skating event during the Beijing 2022 Winter Olympic Games at the Capital Indoor Stadium in Beijing on February 15, 2022. (Photo by Anne-Christine POUJOULAT / AFP)

“Esses (últimos) dias foram muito difíceis para mim”, disse a jovem de 15 anos ao Channel One, da Rússia, em suas primeiras declarações sobre a situação.

“É como se eu não tivesse mais nenhuma emoção. Estou feliz, mas ao mesmo tempo estou emocionalmente cansada.”, completou a atleta que deixou o Estádio Indoor de Pequim chorando após sua apresentação e sob aplausos.

AFPRussia’s Kamila Valieva reacts after competing in the women’s single skating short program of the figure skating event during the Beijing 2022 Winter Olympic Games at the Capital Indoor Stadium in Beijing on February 15, 2022. (Photo by Anne-Christine POUJOULAT / AFP) (Crédito:AFP)

Apesar do início da apresentação com falha, a patinadora russa manteve a concentração e conseguiu completar sua performance com elementos complexos. A etapa desta terça classificaria 24 atletas para competir no programa longo, mas diante do caso de Kamila, o Comitê Olímpico Internacional (COI) incluiu mais uma vaga. Com isso, as 25 melhores atletas no programa curto vão medir forças no gelo na quinta.

Russia’s Kamila Valieva competes in the women’s single skating short program of the figure skating event during the Beijing 2022 Winter Olympic Games at the Capital Indoor Stadium in Beijing on February 15, 2022. (Photo by Anne-Christine POUJOULAT / AFP)

Agora, até que o caso da patinadora seja julgado, ela poderá competir por conta da anulação da suspensão provisória, que a Corte Arbitral do Esporte (CAS) havia imposta. No entanto, outra polêmica surgiu diante deste cenário. Com a chance grande de Kamila conseguir um lugar no pódio, o COI preferiu impor que não haverá cerimônia de premiação das provas individual e por equipes, esta última já vencida pelo Comitê Olímpico Russo, com a presença da patinadora, de 15 anos.

COI sob críticas

Em um comunicado diretora executiva do USOPC (sigla em inglês do Comitê Olímpico e Paralímpico americano), Sarah Hirshland, foi contundente e fez questão de relembrar a coleção russa de polêmicas em casos de doping. Vale lembrar que os Estados Unidos ficariam com a medalha de ouro na patinação por equipes em caso de desclassificação russa.

“Estamos desapontados com a mensagem que a decisão passa. É responsabilidade coletiva de toda a comunidade olímpica proteger a integridade do esporte e manter nossos atletas, treinadores e todos os envolvidos nos mais altos padrões. Os atletas têm o direito de saber que estão competindo em igualdade de condições. Infelizmente, hoje, esse direito está sendo negado. Sabemos que este caso ainda não está encerrado e pedimos a todos no Movimento Olímpico que continuem lutando por um esporte limpo em nome de atletas de todo o mundo”, disse Hirshland no comunicado.

Além dos Estados Unidos, o Comitê Olímpico do Canadá (COC), quarto lugar na patinação por equipes, também se posicionou e diz que o caso prejudica o “esporte limpo” e os atletas.

“A situação com o doping da atleta russa é extremamente infeliz e triste para os atletas. O COC está completamente comprometido com o esporte limpo, e nós acreditamos firmemente que ninguém envolvido com doping ou outras práticas corruptas tem um lugar no movimento olímpico”, diz a nota do COC.

Russia’s Kamila Valieva reacts after competing in the women’s single skating short program of the figure skating event during the Beijing 2022 Winter Olympic Games at the Capital Indoor Stadium in Beijing on February 15, 2022. (Photo by Manan VATSYAYANA / AFP)

A Global Athlete, entidade internacional que representa os atletas olímpicos, fez questão de ressaltar que o episódio se trata de um “evidente abuso de um menor”.

“É inaceitável que esses riscos tenham sido colocados em uma jovem de 15 anos”, diz a entidade ao jornal Mirror.

“Qualquer país que sistematicamente dopa seus atletas não pode participar do esporte internacional.”, completou.

A instituição foi além e deixou claro que “Valieva nunca teria se encontrado nessa posição se a Agência Mundial Antidoping (WADA), o Comitê Olímpico Internacional (COI) e o CAS  tivessem “feito seu trabalho” e banissem a Rússia do esporte global”.

A Rússia competiu em Tóquio 2020 e agora em Pequim 2022 sob a bandeira do Comitê Olímpico Russo justamente por escândalo de doping envolvendo várias modalidades e tido por alguns especialistas como política de Estado.