Os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim 2022 ficarão marcados na história por diversas histórias de superação e conquistas para o legado olímpico. No entanto, esta edição também terá a sua polêmica lembrada e, até o momento, não resolvida: doping de Kamila Valieva de apenas 15 anos.
Após a confirmação do teste positivo para trimetazidina, a patinadora russa foi liberada para competir nas prova de programa curto da patinação, nesta terça-feira (15). A atleta teve um desempenho quase perfeito e avançou para o programa longo, que será realizado na próxima quinta-feira (17), em primeiro lugar.
Em sua defesa, Kamila revelou que a culpa para o doping foi um engano causado por medicamento consumido pelo seu avô para o coração.
Conhecida também por TMZ, a sustância é utilizada normalmente como medicamento para tratar dor no peito, causada pela queda no fluxo de sangue para o coração. Com isso, a WADA considerou que o uso da sustância pode ajudar na performance atlética e a inseriu na lista de proibições.
“Esses (últimos) dias foram muito difíceis para mim”, disse a jovem de 15 anos ao Channel One, da Rússia, em suas primeiras declarações sobre a situação.
“É como se eu não tivesse mais nenhuma emoção. Estou feliz, mas ao mesmo tempo estou emocionalmente cansada.”, completou a atleta que deixou o Estádio Indoor de Pequim chorando após sua apresentação e sob aplausos.
Apesar do início da apresentação com falha, a patinadora russa manteve a concentração e conseguiu completar sua performance com elementos complexos. A etapa desta terça classificaria 24 atletas para competir no programa longo, mas diante do caso de Kamila, o Comitê Olímpico Internacional (COI) incluiu mais uma vaga. Com isso, as 25 melhores atletas no programa curto vão medir forças no gelo na quinta.
Agora, até que o caso da patinadora seja julgado, ela poderá competir por conta da anulação da suspensão provisória, que a Corte Arbitral do Esporte (CAS) havia imposta. No entanto, outra polêmica surgiu diante deste cenário. Com a chance grande de Kamila conseguir um lugar no pódio, o COI preferiu impor que não haverá cerimônia de premiação das provas individual e por equipes, esta última já vencida pelo Comitê Olímpico Russo, com a presença da patinadora, de 15 anos.
COI sob críticas
Em um comunicado diretora executiva do USOPC (sigla em inglês do Comitê Olímpico e Paralímpico americano), Sarah Hirshland, foi contundente e fez questão de relembrar a coleção russa de polêmicas em casos de doping. Vale lembrar que os Estados Unidos ficariam com a medalha de ouro na patinação por equipes em caso de desclassificação russa.
“Estamos desapontados com a mensagem que a decisão passa. É responsabilidade coletiva de toda a comunidade olímpica proteger a integridade do esporte e manter nossos atletas, treinadores e todos os envolvidos nos mais altos padrões. Os atletas têm o direito de saber que estão competindo em igualdade de condições. Infelizmente, hoje, esse direito está sendo negado. Sabemos que este caso ainda não está encerrado e pedimos a todos no Movimento Olímpico que continuem lutando por um esporte limpo em nome de atletas de todo o mundo”, disse Hirshland no comunicado.
Além dos Estados Unidos, o Comitê Olímpico do Canadá (COC), quarto lugar na patinação por equipes, também se posicionou e diz que o caso prejudica o “esporte limpo” e os atletas.
“A situação com o doping da atleta russa é extremamente infeliz e triste para os atletas. O COC está completamente comprometido com o esporte limpo, e nós acreditamos firmemente que ninguém envolvido com doping ou outras práticas corruptas tem um lugar no movimento olímpico”, diz a nota do COC.
A Global Athlete, entidade internacional que representa os atletas olímpicos, fez questão de ressaltar que o episódio se trata de um “evidente abuso de um menor”.
“É inaceitável que esses riscos tenham sido colocados em uma jovem de 15 anos”, diz a entidade ao jornal Mirror.
“Qualquer país que sistematicamente dopa seus atletas não pode participar do esporte internacional.”, completou.
A instituição foi além e deixou claro que “Valieva nunca teria se encontrado nessa posição se a Agência Mundial Antidoping (WADA), o Comitê Olímpico Internacional (COI) e o CAS tivessem “feito seu trabalho” e banissem a Rússia do esporte global”.
A Rússia competiu em Tóquio 2020 e agora em Pequim 2022 sob a bandeira do Comitê Olímpico Russo justamente por escândalo de doping envolvendo várias modalidades e tido por alguns especialistas como política de Estado.